Do Opera Mundi
Atualizado às 11h50
As três integrantes da banda punk Pussy Riot foram condenadas pela justiça russa nesta sexta-feira (17) a dois anos de prisão por vandalismo motivado por ódio religioso, informou a agência russa Interfax. “As cantoras conspiraram em circunstancias não estabelecidas, com o propósito de violar ofensivamente paz pública, em um sinal de desrespeito com os cidadãos”, disse a corte em seu veredito.
O tribunal, localizado em Moscou, está cercado por dezenas de manifestantes que gritam “Liberdade para a Pussy Riot!” em meio a uma extensa tropa policial, informam jornais internacionais. Segundo a Interfax, Sergei Udalstov, importante representante de esquerda no país, foi preso ao tentar passar pelo cordão policial que impede os transeuntes de entrarem no tribunal.
Os protestos pedindo a liberdade das ativistas percorreram cidades de todo o mundo, chegando a mobilizar até mesmo diversos artistas que se apresentaram na Rússia. Sting, Red Hot Chili Peppers e Madonna pediram em suas apresentações pela libertação das integrantes da banda punk. Iiro Rantala, um proeminente músico finlandês de jazz, cancelou sua apresentação na capital russa em protesto à prisão das mulheres; o artista plástico britânico Stuart Semple, por sua vez, decidiu não disponibilizar suas obras para o Festival de Artes de Moscou.
“Nós estamos pedindo às autoridades russas para tirar suas queixas de vandalismo e soltar imediatamente Maria, Ekaterina e Nadezhda”, disse Kate Allen, a diretora da Amnestia Internacional do Reino Unido.
Histórico
Maria Alyokhina, Nadezhda Tolokonnikova e Yekaterina Samutsevich estão enfrentando o tribunal por terem protestado contra o presidente russo no altar da maior igreja ortodoxa do país em fevereiro deste ano. A Promotoria russa exigiu uma pena de três anos de prisão para as integrantes da banda, argumentando que representam uma ameaça para a sociedade pela possibilidade de realizarem outros protestos no país.
Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.
Apesar de pedirem desculpas aos cristãos que se sentiram ofendidos com a performance, as acusadas se recusaram a admitir sua culpa por considerarem que o protesto não configura um crime segundo as leis da Rússia. As artistas mantiveram sua posição mesmo com a possibilidade de firmar uma negociação com o promotor e diminuir sua pena. “Nós nos recusamos a assumir culpa”, disse Nadezhda.
“O tema principal da nossa apresentação não é a Igreja Ortodoxa, mas sim a ilegitimidade das eleições”, afirmou Yekaterina, segundo o jornal diário britânico The Daily Mail. “As chamadas (pelo Patriarca) para votar em Putin e para não ir aos comícios de protesto são claras violações dos princípios de um estado laico”, continuou ela.
A defesa das Pussy Riot procurou argumentar que o ato foi um protesto político e que por isso, as artistas não podem ser condenadas por ódio religioso. Os advogados da banda acusaram a justiça de agir com parcialidade, sendo favorável a acusação e afirmaram que o processo se trata de uma repressão política do regime de Putin. “Estou considerando isso como o início de uma campanha autoritária e repressiva do governo que procura dificultar a atividade política e criar um sentimento de medo entre os ativistas políticos”, acrescentou Yekaterina.
Enquanto todas as testemunhas de acusação foram autorizadas pela juíza Marina Syrova, apenas 3 das 13 testemunhas nomeadas pela defesa puderam ser interrogadas no julgamento. Syrova também foi responsável por permitir uma série de perguntas da acusação às testemunhas, mas vetou que a defesa realizasse as mesmas questões.
A justiça russa já recusou diversos pedidos judiciais da defesa, incluindo uma apelação para enviar o processo de volta à Promotoria por não haver provas suficientes. Os advogados de defesa da Pussy Riot impetraram pedido no tribunal para chamar o representante da instituição religiosa a testemunhar no processo que foi negado, informou a rede Interfax.
“Mesmo nos tempos soviéticos, nos tempo de Stalin, os julgamentos eram mais honestos do que esse”, afirmou o advogado de defesa Nikolai Polozov perante o tribunal.