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1 de março de 2021
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20:49

Live do Sul21: ‘Até isso se controlar, vai levar um bom tempo. A fila de espera tende a aumentar’

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Live do Sul21: ‘Até isso se controlar, vai levar um bom tempo. A fila de espera tende a aumentar’
Live do Sul21: ‘Até isso se controlar, vai levar um bom tempo. A fila de espera tende a aumentar’
Melissa diz que os relatos de colegas atuando na linha de frente dos hospitais são desesperadores. Imagem: Reprodução/YouTube/Sul21

Da Redação

A professora de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA) e especialista em Imunologia, Melissa Markoski, foi a convidada da live do Sul21, nesta segunda-feira (1º), para falar sobre o dramático momento pelo qual passa o Rio Grande do Sul, o mais grave desde o início da pandemia do novo coronavírus.

A professora explicou que o atual colapso do sistema de saúde é consequência do aumento de contaminações e internações ocorrido há dias, ainda sem o impacto das festas e aglomerações do carnaval. “Os dados estão represados. O que vemos hoje nos hospitais com essa situação bem caótica, são dados de janeiro que estão vindo. Esse aumento da hospitalização, de casos e de mortalidade, são dados processados de 15 ou 20 dias atrás, ou seja, agora é que vão começar a entrar os dados do pós-carnaval. Já temos o aumento de pessoas que se contaminaram e isso vai dar um ‘bum’ na hospitalização e, ao mesmo tempo, a gente está com o sistema de saúde totalmente em colapso”, afirmou.

Mesmo com a instituição da bandeira preta no Modelo de Distanciamento Controlado, Melissa acredita que ainda teremos, no mínimo, mais 15 dias pela frente em situação grave, em função do longo período de internação que caracteriza os pacientes de covid-19. “Têm pessoas que ficam dois ou três meses hospitalizadas, o que faz com que não haja uma liberação de leito rápida”, explica a professora e integrante da Rede Análise Covid-19. “Até isso se controlar, vai levar um bom tempo. A fila de espera tende a aumentar.”

Além da internação longa, a professora de Biossegurança da UFCSPA  diz que as pessoas não aderem imediatamente à redução da circulação mesmo em bandeira preta, tornando qualquer perspectiva de melhora ainda mais difícil. “As pessoas precisam entender que têm que ficar em casa, não tem como ser diferente, e sair só pra algo muito emergencial”, alerta.

A negligência dos governos e o descaso de parte da população com a pandemia são a marca de como o Brasil atuou na crise. Melissa recorda que, no primeiro momento, as pessoas ficaram preocupadas com as notícias da Itália e depois em Manaus. Em abril e maio de 2020, as medidas preventivas de baixa circulação foram bem aceitas, porém, com o passar do tempo, o cuidado foi se perdendo.

“Todo país precisava de ações de governança muito fortes pra guiar a população, como vimos acontecer em alguns outros países”, disse, destacando o modo como China, Alemanha, Nova Zelândia e Japão enfrentaram a crise sanitária. “As medidas de controle foram muito rígidas desde o início, com adesão da população. Todas as medidas de controle foram muito seguidas, mas isso dependia também da voz da governança mostrando para as pessoas os impactos se elas não seguissem aquilo ali.”

No Brasil, aconteceu o contrário, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) minimizando a pandemia desde o início. Melissa pondera que mesmo o ex-presidente Donald Trump, que inspirou o comportamento de Bolsonaro, depois mudou de rota e aos poucos foi deixando de ser negacionista. No Brasil, porém, o presidente se mantém firme na posição de ir contra as medidas de segurança preconizada por médicos, especialistas e pesquisadores do mundo todo.

“Isso acabou dividindo a população. Mesmo aquela que estava bem comprometida com a prevenção lá no início, por causa da demora e do crescente número de pessoas que foram ‘liberadas’ pra fazer alguma atividade, acabaram também incentivando as pessoas que estavam fazendo tudo direitinho. Isso foi bastante negativo”, avalia a professora de Biossegurança da UFCSPA.

Com muitos colegas atuando na linha de frente dos hospitais, Melissa diz que os relatos do momento são desesperadores. “O que escuto de colegas é horrível. Esses profissionais estão com a saúde mental completamente abalada, estão ali pra salvar vidas e ajudar pessoas e chegam ao momento em que dão o melhor deles e a pessoa morre. Morre porque não se cuidou ou porque foi vítima de quem não se cuidou. Os relatos são realmente muito tristes… como ter que dividir o cilindro do oxigênio entre cinco pacientes ao mesmo tempo pra tentar atender.”

A importância da vacinação, o quanto a situação atual poderia ter sido evitada e o impacto e os cuidados com a nova variante do vírus que circula no Estado, foram temas também abordados durante a live do Sul21.

Assista a íntegra da entrevista:


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