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27 de janeiro de 2018
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20:27

Maior caso de abuso sexual no esporte nos EUA revela a importância dos relatos das vítimas

Por
Sul 21
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Kyle Stephens, dando seu depoimento contra Larry Nassar. Foto: Getty Images

Da Redação*

Entre a terça-feira (16) e a sexta-feira (19), cerca de 90 ginastas americanas compareceram a um tribunal no Estado de Michigan para dar seus testemunhos contra o médico Larry Nassar, acusado de abusar sexualmente de cerca de 140 garotas, em idades entre os oito e os 20 anos. Segundo o site Huffington Post, o número seria o equivalente à soma de denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, o apresentador Bill Cosby e o técnico Jerry Sandusky – todos com extensos processos por violações sexuais.

Devido ao número de vítimas, o caso é considerado o maior escândalo conhecido da história do esporte. A iniciativa de abrir a corte para os depoimentos veio da magistrada que conduz o caso, a juíza Rosemarie Aquilina. “O mundo inteiro está ouvindo vocês”, afirmou.  O julgamento pôde ser acompanhado em streaming e alguns dos depoimentos continuam a chocar as pessoas e permitem que se tenha uma ideia dos métodos usados por Nassar, que conseguiu praticar os seus abusos de poder com o amparo da USA Gymnastics, que opera como uma federação de ginástica. Segundo a magistrada, a Federação nunca agiu, “voltando os olhos para outro lado quando as primeiras denúncias apareceram”, há mais de dez anos.

Aly Raisman, três vezes medalhista de ouro nos jogos Olímpicos, denunciou essa situação em seu depoimento. Segundo a atleta, a elite do esporte estava “podre por dentro” e que “se um único adulto tivesse escutado e tido coragem de agir, essa tragédia poderia ter sido evitada”. Dirigindo-se à Nassar, ela acrescentou: “Larry, você agora está percebendo que nós, esse grupo de mulheres de quem você abusou por tanto tempo, temos a força, e você não é mais nada”.

“Meninas não são meninas para sempre. Elas crescem e viram mulheres fortes que voltam para acabar com o seu mundo”, afirma a primeira testemunha do caso, Kyle Stephens. Nassar foi o médico da equipe de ginástica artística dos EUA e da Universidade do Estado de Michigan por cerca de duas décadas – nessa última, cuidava não apenas de ginastas, mas também de outras atletas, como dançarinas e patinadoras. Entre as vítimas estão campeãs olímpicas como Simone Biles e Gabby Douglas.

Algumas testemunhas dizem que as abusos não tiveram a repercussão devida – elas afirmam que, se envolvesse homens, o caso teria mais destaque. As denúncias também são importantes porque lançam luz sobre o papel de instituições em casos de assédio sexual.

“Durante os tratamentos, ele mantinha uma mão na parte inferior das minhas costas, massageando, e a outra entre as minhas pernas, com seus dedos dentro de mim. Eu chorava, porque doía, mas ele dizia que precisava enfiar bastante”, relatou Clasina Syrovy. Como muitas outras meninas, ela inicialmente defendeu Nassar e se negava a se colocar na situação de vítima.

Várias delas, depois, declararam à imprensa que o processo as fortaleceu e que tem sido terapêutico. Algumas assinaram uma carta aberta em que agradecem o fato de lhes estar sendo dado esse espaço. “Frequentemente se faz com que as mulheres sintam que não são ouvidas ou levadas a sério. A senhora [Rosemarie Aquilina] fez o contrário, não só ao escutá-las, mas também ao acreditar nelas. Isso transmite uma mensagem importante para as vítimas de crimes semelhantes, a de que a sua voz é importante”, afirmaram.

*Com informações do El País


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