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20 de maio de 2017
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16:45

Como Bolsonaro explica o dinheiro da Friboi em sua prestação de contas de 2014

Por
Sul 21
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Bolsonaro recebeu R$200 mil da JBS para sua campanha em 2014. Deputado diz que “doou” o dinheiro para o PP, seu partido na época | Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Da Redação

A delação do grupo JBS, donos da Friboi entre outras marcas, começou com gravações bomba de conversas do empresário Joesley Batista com Michel Temer (PMDB) e o senador afastado Aécio Neves (PSDB). Depois do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantar o sigilo da delação, no entanto, a ação do maior grupo de produção de proteína animal do mundo, mostrou quanto sua influência já estava entranhada em todo sistema político. Segundo os delatores do grupo, a JBS pagou R$ 868,1 milhões a 19 partidos.

E, enquanto Brasília ferve, um deputado federal passou a usar as notícias da delação a seu favor: Jair Bolsonaro (PSC). Nesta sexta-feira (19), o deputado postou uma montagem em seu Facebook onde aparece sozinho no Plenário da Câmara, com a legenda: “Se gritar Friboi, só sobra um, mermão”. Em palestras pelo Brasil, Bolsonaro – que é pai do também deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) – gosta de repetir que nunca aceitou dinheiro da empresa.

Foto: Reprodução/Facebook

Porém, uma reportagem do site VICE Brasil, publicada no dia 20 de março deste ano, mostra que não é bem assim. Com base em consulta à lista de Doadores e Fornecedores de Campanha de Candidatos, do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o site afirma que Bolsonaro recebeu R$ 200 mil da JBS para sua campanha, em 2014. Os dados mostram ainda que ele teria encaminhado o dinheiro como doação ao seu partido, na época, o PP.

No dia 18 de março, o canal do deputado no YouTube publicou um trecho de uma entrevista sua ao programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, de São Paulo, onde ele explica: “Eu estou na lista da Friboi (…) porque 162 parlamentares receberam recursos da Friboi e eu seria 163º. Quando o dinheiro entrou na minha conta, no dia seguinte saiu, pedi pra tirar. Dei um cheque e doei para o partido. O dinheiro não veio da Friboi pra mim, veio para o partido. Eu pensei: por que a Friboi está dando dinheiro pra mim, se ela acabou de pegar empréstimo em torno de R$ 7 bilhões do BNDES? Tá dando só porque eu sou bonito? Alguma coisa está errada. Isso é em grande parte a propina legalizada, que existe três tipos de empresários para doações eleitorais: o bandido, o que é chantageado e o honesto”.

Ou seja, segundo explicação do próprio deputado, a doação não foi de fato “devolvida” à Friboi/JBS, mas sim repassada ao seu partido. A reportagem da VICE aponta ainda outra questão: na mesma tabela de dados sobre doações eleitorais que registra o repasse de R$ 200 mil de Bolsonaro a seu partido, mostra um montante igual sendo transferido à conta da campanha de Bolsonaro pelo fundo partidário. 

Em consulta ao site Meu Congresso Nacional é possível confirmar as transações.

Quanto à “propina legalizada”, Bolsonaro pode estar certo. Depois da campanha de 2014, em 2015 passou a valer a lei que proíbe que empresas financiem campanhas políticas. Em março deste ano, a Segunda Turma do STF debateu a questão enquanto julgava o caso do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que atualmente é réu na Operação Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, por dinheiro recebido da empreiteira Queiroz Galvão. Raupp se defendeu sustentando que o recebimento era “lícito”, como parte de doações de campanha.

Prestação de contas mostra Bolsonaro passando dinheiro da Friboi ao PP e depois recebendo do fundo partidário soma de igual valor | Foto: Reprodução/MeuCongressoNacional

Durante o julgamento dele, no entanto, os ministros do STF discutiram se políticos que recebem doações suspeitas podem ser punidos ao oficializaram os valores em suas prestações de contas. E não viram assim. Celso de Mello foi um dos ministros que entendeu a prática como crime. “Esse comportamento constitui um gesto de invisível atrevimento e de gravíssima ofensa à legislação da República, na medida em que os agentes da conduta criminosa, valendo-se do próprio aparelho de Estado, objetivam, por intermédio da Justiça Eleitoral, e mediante da defraudação do procedimento de prestação de contas conferir aparência de legitimidade a ações integradas por recursos financeiros manchados em sua origem pela nota da delituosidade”, afirmou em seu voto.

Em 2014, deputado pretendia ser vice de Aécio

Bolsonaro vem aparecendo com frequência entre os favoritos da corrida presidencial de 2018. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no final de abril, o deputado do PSC aparecia em segundo lugar nas intenções de voto com 15%. Atrás apenas do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) que tinha 30%.

A turbulência política desta semana fez com que uma das matérias mais compartilhadas nas redes fosse uma entrevista do deputado, de 2014, ao site InfoMoney. Ainda no Partido Progressista, mas sem apoio da legenda para se lançar em candidatura própria, Bolsonaro afirmava: “Se eu não conseguir me candidatar, quero ser vice de Aécio Neves. Claro, nada disso nunca entrou em pauta e nunca ninguém falou sobre isso, mas seria uma grande honra pra mim”. Em outubro do mesmo ano, ao jornal O Globo, depois de ter concorrido e se tornado o deputado mais bem votado do Rio de Janeiro com mais de 400 mil votos, Bolsonaro declarou voto para o tucano: “mesmo que ele não queira, voto em Aécio”.


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