Opinião
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24 de novembro de 2023
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08:57

Toda atenção: eleições municipais de 2024 (por Selvino Heck)

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Selvino Heck (*)

Os acontecimentos do jogo Brasil x Argentina pelas eliminatórias da Copa do Mundo no Maracanã, com briga entre as torcidas e inédita saída de campo do time argentino liderado por Messi, não foram apenas um sinal da histórica rivalidade futebolística entre os dois países. Foram uma amostra do que está acontecendo de mais profundo cá e lá, Brasil, Argentina, América Latina e mundo.

Os fatos no Maracanã aconteceram dois dias depois das eleições presidenciais na Argentina, com a vitória do ultradireitista e ultraneoliberal Milei. “A vitória de Milei é o sintoma de uma crise das democracias latino-americanas. A vitória de Milei, assim, parece indicar uma nova onda de direita e de extrema-direita na região” (´Milei e a onda de direita´, Aldo Fornazieri, em www.ggn.com.br e www.brasil247.com, 22.11.2023).  “(A vitória de Milei) foi uma construção midiática cuidadosamente planejada” (Atilio Boron, em www.luizmuller.com). 

A Argentina é logo ali do lado, para quem mora no Rio Grande do Sul. O resultado das suas eleições presidenciais acendeu todas as luzes de alerta e preocupação política no Brasil e na América Latina.

Nunca fui daquelas e daqueles, e continuo não sendo, que acham, embora muitas vezes candidato, coordenador de campanhas desde o início dos anos 1980 como dirigente partidário, e militante em todas as eleições, que eleição muda o mundo, que eleição leva à revolução, embora toda sua importância na construção e consolidação da democracia.

Reconheço, porém, que, em certos momentos da história, há eleições emblemáticas, definidoras do futuro, merecendo atenção especial por parte de quem quer a transformação econômica, social, política, ambiental, cultural e luta por uma sociedade do Bem Viver. Foi o caso das eleições de 1978, em plena ditadura, e das eleições presidenciais de 1989, 2002 e 2022, entre outras.

As eleições municipais de 2024 possuem, tudo indica, este sentido emblemático. Acontecerão em contexto e conjuntura brasileira, latino-americana e mundial especiais, de tempos de guerras, de mudanças climáticas, de ultraneoliberalismo, de volta do neofascismo, de ódio, violência, intolerância, de ameaças à democracia. O voto de eleitoras-eleitores não será um voto comum, qualquer. Todo cuidado é pouco, portanto. A eleição municipal de 2024 adquire contornos poucas vezes vistos na história brasileira e merece cuidados especiais.

Sou fundador do PT, a maior parte do tempo de sua história dirigente partidário em diferentes níveis e defensor de suas candidaturas. Não acho que em 2024 o principal, ou fundamental, seja o partido ter candidaturas próprias. Principal e fundamental é a unidade do campo democrático-popular, da esquerda e setores de centro-esquerda em torno de candidaturas comuns, assumidas por todas e todos. A energia, neste momento, deve estar concentrada na construção de um programa democrático-popular unitário, defendido por candidaturas de unidade, com políticas de participação social e popular, com Orçamento Participativo, o nosso OP, defesa dos direitos, especialmente dos mais pobres entre os pobres, das trabalhadoras e trabalhadores, e garantia da democracia e da soberania. 

Não se ganha eleição antes da hora, sabem todas e todos os militantes. Ganha-se eleição com muito trabalho de base, com organização popular, com educação politica, com mobilização social, que devem acontecer antes e mesmo durante o processo eleitoral. Em novembro de 2023, esse é o trabalho a fazer nos próximos meses, com diálogo com a população, com movimentos sociais e populares, com igrejas e comunidades, construindo um programa de transformação, mudança e participação social, olhando nos olhos no povo e refletindo suas angústias e necessidades.

No mundo atual, com as terríveis guerras entre Rússia e Ucrânia, Hamas e Israel, com as mudanças climáticas e suas consequências, que sentimos e vivemos todos os dias, no Rio Grande do Sul e no Brasil, e com o resultado da recente eleição presidencial argentina, quem pode arriscar e saber como estarão o Brasil, a América Latina e o mundo em outubro de 2024? Impossível saber hoje, tal a gravidade de tudo que está acontecendo e a impossibilidade de adivinhar o futuro.

 Muita sabedoria, portanto, e ampla unidade política e programática. A vitória eleitoral do campo democrático-popular, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus, Recife, entre outras, em cidades do Nordeste, do Norte, Sul e Centro-Oeste, no ABC paulista, na Região Metropolitana de Porto Alegre e outras Regiões Metropolitanas Brasil afora, é fundamental neste momento histórico. Só assim será possível criar um clima de paz, de diálogo, de democracia. No Brasil, na Argentina, na América Latina, no mundo.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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