Opinião
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5 de novembro de 2023
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08:35

‘O Incendiário’, um livro trepidante (por Adeli Sell)

Rafael Guimaraens (Foto: Clô Barcellos/Divulgação)
Rafael Guimaraens (Foto: Clô Barcellos/Divulgação)

Adeli Sell (*)

Eu e muitos outros que conhecemos o escritor Rafael Guimaraens sempre queremos saber qual o seu próximo livro. Já sabíamos que preparava um livro sobre os incêndios dos prédios do Tribunal de Justiça e da Chefatura de Polícia. Eis que aí está O INCENDIÁRIO. Afinal, quem foi o incendiário? Para a Polícia, Manuel Gonzalez de Aragón, ou Major Aragón. Nunca foi major, era um meliante, escroque, com longa ficha policial pelo país afora, desde muito jovem. Mas não foi ele quem meteu fogo nestes locais.

Não vamos fazer um relato da “história narrativa”.  É um livro de difícil colocação num gênero, pois é quase uma crônica histórica, é quase memória e não deixa de ser um romance. Por isso, pelo conteúdo, pela narrativa e a intercalação de longos trechos de notas de jornais e de processos e inquéritos, a gente segue página a página deste livro trepidante, para saber o que vai acontecer.

A grande (e talvez a maior) importância do livro de Rafael Guimaraens é o resgate sério de um episódio nebuloso.  Ao fazer o seu “1935” tinha nos mostrado muitas coisas da nossa História meio esquecidas ou propositadamente esquecidas e apagadas. Neste vai a fundo naquilo que muitos no Rio Grande do Sul querem esquecer, apagar, riscar, proibir de lembrar. A corrupção policial está clara e evidente nesta narrativa com provas mais do que cabais. Este negócio da melhor polícia do país sempre foi balela. Não está afirmado, mas é evidente que o incêndio não foi casual. Desta podridão restou o conforto das posturas de Manuel Braga Gastal, Josué Guimarães, Candido Norberto e alguns policiais que honraram o serviço público. Rafael vai mostrando passo a passo os atos da escumalha que tomou conta de nossa Polícia, não mais só uma polícia violenta, o que é grave, como vimos em 1935, mas uma polícia podre, corrupta, nojenta, violenta, de dar medo. Pior do que tudo isso, no Rio Grande do Sul, policiais durões como Poti Medeiros visto noutro romance se torna deputado e agora neste temos Hélio Carlomagno que vira deputado. Isto tudo é real.  Temos Aurélio Py, Dagoberto Gonçalves, Ernani Baumann, entre outros que não fosse “o incendiário” teriam ido para a cadeira. Mesmo assim Baumann foi, mas este não tinha limites. Mas por que tantos se calaram? Não podemos esquecer o delegado Paulo Renato, Gadret, o desembargador João Bonumá, entre outros, honraram suas posições.

O livro trata, vamos retomar, dos incêndios de nosso Tribunal de Justiça e da Chefatura de Politica num interregno de dois meses. Viraram cinzas processos e inquéritos que poderiam levar para a cadeia, perda de empregos de mais de 50 policiais por causa dos provados roubos de pertences de alemães e italianos, obtidos por ordens superiores, por causa da segunda guerra.

Este é o tema: roubo, corrupção e violência por parte de agentes do Estado. E o tal incêndio, pelo qual pagou, sob tortura, um espanhol. 

Por isso, o valor deste livro, tanto pelo conteúdo, quanto pelos resgates, lembranças e memórias.  A nós que amamos os livros, a história, a literatura e defendemos a verdade e a ética, vamos divulgar o livro aos quatro ventos, que muitos e muitos o leiam.

(*) Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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