Opinião
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30 de outubro de 2023
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18:00

Um movimento nova organização (por Gustavo de Mello)

Foto: Leandro Molina
Foto: Leandro Molina

Gustavo de Mello (*)

Os dias passam, as horas passam lentas, e muitos vamos nos incomodando, quando nas eleições se encerram os boletins das urnas eletrônicas, e ficamos estarrecidos com os fracassos eleitorais para formar os parlamentos. Faz falta esse debate! É ou não é urgente entender se se renovaram os mecanismos de campanha eleitoral? Quem mais conquista espaços políticos nos parlamentos são os conservadores, este é um fato indiscutível.

Em tese, nas últimas décadas, os partidos de esquerda se acostumaram a viver à sombra do gigante Gulliver, um personagem do escritor irlandês Jonathan Swift (século XVIII) que, em visita a um determinado país, deve se movimentar tendo o cuidado com os homens pequeninos, para não machucar nenhum deles. (Lula?)

Em geral quando nos preparamos para um processo eleitoral, assistimos os discursos que sempre estão mirando nos cargos executivos, como é o caso desta eleição de 2024. O processo político/eleitoral se transforma em um movimento centrado na organização de ideias para conquistar o executivo e, o maior número de cadeiras no parlamento, seria uma consequência deste “acerto de estratégia anterior”, nos dizem. Porém, sublinhamos, que é evidente que reconhecemos na nominata de candidatos a vereadores, um dos pilares da possível vitória eleitoral de um pretendente a prefeito, na maioria dos casos são institutos inseparáveis, raramente o processo se dá de outra forma.

Vejam que, se tomarmos as recentes eleições para os Conselhos Tutelares, como exemplo de resultados apurados na ponta do lápis, na vida real dos processos, materializam a tese que não tem se afigurado como positivas as projeções de vitórias amplas para os progressistas, ou para a chamada esquerda identificada com o campo da união e reconstrução. Estamos repetindo minorias quando se trata de avaliar as estratégias traçadas para chegar às casas legislativas baseados na paixão pelo Cristo, o candidato majoritário.

As atuais novas maiorias vigente nos parlamentos conseguiram vitórias eleitorais que excluíram, na prática, os representantes dos interesses populares, principalmente, em municípios de pequeno e médio porte.

Estamos sem um balanço sobre esse fenômeno que elege, ora figuras caricatas, nos grandes centros metropolitanos, ora indivíduos claramente contrários à atividade política parlamentar, na maioria das cidades do Brasil, por exemplo.

Os que analisam esse fenômeno, atribuem ao “bolsonarismo”, ou ao neoconservadorismo pentecostal, ou a uma identificação com a família militar, aqui entendida como setores da segurança nacional, esta eficácia; fenômeno que não se repete com os candidatos identificados com o “lulismo”.

Os evangélicos são um exemplo dos que ampliam espaços nos parlamentos, para formar um bolsão de resistência política e confrontar muitas das conquistas que estavam elencadas na Constituição de 1988.

São eles – a chamada ultradireita pela mídia especializada em política – os que encontraram meios eficientes de somar votos, colando em um senso comum construído há mais de uma década, vejam só, pelas opiniões diárias dos integrantes dos veículos da mídia empresarial. E o que é mais grave, esses candidatos conservadores são os que utilizam munição pesada para adjetivar com ferocidade os temas relacionados a comportamento, celebrar o conflito como método, aliás, e de forma radical na denúncia e desconstrução de tudo que é público/estatal. “Não funciona, é demorado”, dizem eles com certa verossimilhança.

Porém, depois de eleitos, vejam só, quando se abancam nos parlamentos, são os primeiros a ajudar a formar as “novas maiorias” que desconstroem direitos sociais e submetem o interesse público ao procedimento legal e eficiente de priorizar repasses de recursos apenas para os setores minoritários e mais bem aquinhoados da sociedade brasileira.

É provável que um dos antecedentes deste problema seja oriundo da própria cultura da esquerda tradicional — a velha, que nos educou, politicamente, a tratar, com certa ambiguidade, no final do século XX, quando da retomada desses espaços institucionais que organizam o Estado brasileiro — sempre tivemos uma tradição histórica de pensar em movimento de pinças. Um pé na luta popular e outro no parlamento, mas não muito compromisso, o amanhã não exigia outras formas; haveriam outros meios de construir poder popular.

Portanto, é fato, havia um desprezo por essa órbita de vivência política, mesmo que hoje, no século XXI da era das redes sociais, sejamos um partido dirigido por parlamentares e assessores destes, em profusão geométrica a cada eleição, desde os anos 90.

O que não é um mal em si, obter parlamentares é ótimo, ocorre que apenas a DIREITA ensina os seus de forma mais intensa, como conquistar cadeiras; e faz isto, fazendo um balanço do Brasil pós constituintes, mas apimentando o balanço político deste período com uma caracterização negativa. Um desprezo pelos fundamentos que organizam o país e as eleições, paradoxalmente, visando as cadeiras que deseja conquistar.

O resultado é que mais tarde sequestram a vontade popular para interesses privados, cada vez mais corajosos em aprovar legislações concentradoras de riqueza ou de privilégios tributários. E vem conseguindo fazer isto de forma assombrosa à luz do dia, sofrendo reparos eventuais da mídia. O orçamento secreto e as emendas impositivas, são prova de que o poder institucional no país, esteve e está desequilibrado; hoje sob uma maior tutela do Congresso Nacional, mesmo sendo o país submetido ao que decidiu a população no plebiscito de 1993, votando pela forma, republicano, e o sistema de governo do país, presidencialista.

Como conseguem? Esta turma majoritária, se apresenta para conquistar a confiança do eleitorado, se dizendo “não ser política”; são empresários ou indivíduos “desinteressados e honrados” que deram um passo adiante para “acabar com tudo isso daí”; fazem questão de inflamar a indignação popular usando frases que explicam que “os males do país”, eles são “homens de bem”, é um resultado normal porque “todos os políticos são iguais”; aliás, “todos são corruptos e sujos”… e, com esta singeleza de raciocínio “filosófico”, conquistam aplausos para dominar os PARLAMENTOS e somar votos.

A apuração de resultados eleitorais termina com as piores escolhas políticas, consagrando vitoriosa uma visão de mundo contrária ao pacto político da Constituição de 1988 sobre transformar, progressivamente, um PAÍS desigual e autoritário, ou sobre reformar o ambiente urbano, construindo – e não destruindo – CIDADES com melhores serviços, dotadas de sucessivos e renovados processos de planejamento que, com boa técnica, deveriam assegurar uma vida digna PARA TODOS.

(*) Assessor jurídico e filiado ao Partido dos Trabalhadores

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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