Opinião
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8 de setembro de 2023
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07:56

Um corpo estranho na paisagem urbana (por Lúcia Mascaró)

Prédio projetado fica entre a Fernando Machado e a Duque de Caxias | Foto: Reprodução
Prédio projetado fica entre a Fernando Machado e a Duque de Caxias | Foto: Reprodução

Lúcia Mascaró (*)

Faz tempo que a cidade e sua “ambiência” urbana andam se estranhando.

Porto Alegre declara a intenção de erguer na Rua Duque de Caxias, no ponto mais elevado do Centro Histórico, um prédio de grande altura, uma monstruosidade arquitetônica–ambiental, não levando em consideração fatos históricos, culturais e arqueológicos, diretrizes de transformação do Plano Diretor. Será uma exceção concedida?

Há ainda o problema da sombra que produzirá no entorno construído imediato, elevando níveis de umidade, diminuindo o conforto ambiental na vizinhança.  A rua Duque de Caxias é exemplo conhecido na Academia como um ‘canyon urbano’: estreita com altos edifícios onde o Fator de Céu Visível (FCV) é baixo, ocasionando pouca incidência solar durante o dia.  A via ainda abriga uma já escassa vegetação que não contribui para a diversificação da avifauna local já que o recinto inibe o crescimento das espécies e compromete o desempenho ambiental. O regime de ventos da região também sofrerá alterações.

Será que o projeto  atende ao PPCI – Plano de Preservação e Proteção de Combate a Incêndios, que deve prever rotas de fuga difíceis de fazer e caras em prédios altos? E que nem sempre são eficientes para, por exemplo, pessoas deficientes ou idosas que não podem usá-las? Qual a altura que a escada de salvamento dos bombeiros tem em Porto Alegre? Se o projeto inclui material anti-incêndio em cada andar ou em cada sala talvez ajude a mitigar as consequências do incêndio, mas não a salvar pessoas.

Ora em discussão, a nova revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) é uma grande oportunidade para discutir critérios para novas edificações podendo até prever mais adensamento em regiões propícias e em formatos adequados.

Caso o projeto se consolide veremos uma situação que atende as finanças de poucos em detrimento da vida de muitos.

(*) Arquiteta e Urbanista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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