Opinião
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6 de setembro de 2023
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19:48

Porto Alegre dos viadutos (por Adeli Sell)

Viaduto do Brooklin, em Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21
Viaduto do Brooklin, em Porto Alegre. Foto: Luiza Castro/Sul21

Adeli Sell (*)

Você que circula pela cidade, de carro ou no transporte coletivo, deve louvar viadutos, afinal foram feitos para melhorar a circulação, não é?

Mas, então, por que a tranqueira no Viaduto Obirici? Se o dinheiro colocado ali e depois nos paradões da Sertório e no Triângulo tivessem sido aplicados numa linha de metrô? Você já se fez esta pergunta?

O Telmo Thompson Flores é festejado pelos burocratas como o prefeito que fez seis viadutos. Ele foi um prefeito indicado pelos militares. Você tem ideia de quantos prédios históricos ele botou abaixo para fazer isto? Você tem ideia do quanto ele gastou para isso? Não, não é?

Ele fez isso:

– Túnel e Elevada da Conceição que funciona como um anel de contorno do centro. Obra concluída em 07.08.1972. Por pouco não botou abaixo o Edifício Ely, aquele da Tumelero; a oposição não deixou, mas botou abaixo a Estação antiga de trens, o icônico Castelinho, demolido em 1970.

– Viaduto Loureiro da Silva – seria para eliminar um dos cruzamentos de maior densidade de tráfego na cidade. Obra concluída em 24.06.1970. Com isso ele botou por terra o histórico Quartel do 3° BPE.

– Viaduto Dom Pedro I, concluído em 24.04.1972.

– Viaduto Tiradentes, integrante da 2ª Perimetral, obra concluída em 30.10.1972. É aquele que passa por cima da Av. Protásio Alves, na Silva Só.

– Viaduto dos Açorianos, no cruzamento da 1ª Perimetral com a Avenida Borges de Medeiros. 

– Viaduto Imperatriz Leopoldina, situado sobre o cruzamento da Avenida João Pessoa com a 1ª Perimetral. Colocando por terra as antigas garagens da Carris.

– Viaduto Obirici. Obra concluída em 1975.

Qual o planejamento que havia anteriormente a estas obras? Alguns elementos podem ser encontrados no Plano de Melhoramentos de 1914, ou seja, de 60 anos antes.

Não existe planejamento urbano sério num espaço de tempo tão curto com tantas obras faraônicas.

Não teve qualquer participação popular nos planos e na sua execução.

Seu sucessor Guilherme Socias Villela fez os corredores de ônibus, obra esta que melhorou a trafegabilidade.

Não é fortuito que logo após por pressão surge o 1° Plano Diretor, 1979.

Lembro que no ano de 1961 Jane Jacobs já tinha lançado seu clássico “Morte e Vida das Grandes Cidades”. 

Se olharmos retrospectivamente, aprendendo com os erros, não estaríamos mais uma vez cometendo erros gritantes com privatizações de espaços públicos, com cortes criminosos de árvores. 

Quem não aprende com seu passado, joga fora suas Memórias, acaba por ser escravo de sua ignorância.

(*) Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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