Lívia Prestes (*)
O Brasil declarou sua independência em 7 de setembro de 1822 e em 13 de maio de 1888 sancionou a abolição da escravatura.
Foi o último país da América Latina a abolir a escravidão. Hoje, as mulheres negras são o maior grupo demográfico do país: 28% dos brasileiros, e ainda vivem um processo de decolonização.
Sim, é um processo. Não aconteceu num único ato. Deixar de ser colônia também envolve a decolonização do nosso sistema de ensino, do nosso pensamento e das nossas imagens.
Nosso conceito de ensino é eurocentrado. Nosso pensamento sobre onde cabemos no mundo é herança da escravização: a noção de belo e de bom não são nossos cabelos, tampouco nossos narizes largos ou nossa produção intelectual.
Em relação a nós mulheres negras, significa pensarmos numa recolocação desse lugar racista, sexista e de violência de gênero. Implica começar um movimento de dentro pra fora. Não esperemos que façam isso por nós. Implica amar nossa herança negra, beber na fonte do pensamento negro, ler mulheres negras e romper com o pensamento supremacista branco de que somos inferiores e inadequadas. Retomar um lugar que restabeleça a nossa consciência e autonomia de pensamento.
Se aquilo que é tido por belo e bom não foi definido por nós mulheres negras, fortaleçamos a nossa própria imagem dentro de uma luta coletiva libertadora, cobrando políticas de estado que assegurem as nossas garantias fundamentais, assim como fizeram e vêm fazendo aquelas que vieram antes de nós.
Pelo fim da escravidão.
(*) Advogada, presidenta do Conselho Deliberativo do Instituto de Acesso à Justiça ([email protected])
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