Opinião
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31 de dezembro de 2022
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13:44

Lula III: o governo de Frente Ampla (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Com o início do governo Lula III, em 1º de janeiro de 2023, teremos, pela primeira vez na história política do Brasil, uma experiência de Frente Ampla. Além da presença de 11 mulheres, o maior número de representação feminina na Esplanada dos Ministérios, Lula também contemplou em sua equipe nomes ligados aos direitos humanos, povos originários, igualdade racial e de gênero. Outro aspecto importante é a formação de um governo partidário, com 9 legendas representadas: PT, PSB, PCdoB, PSOL, Rede, PDT, MDB, PSD e União Brasil. 

O PT e PSB, partidos que foram responsáveis pela viabilização da chapa Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) na última eleição, terão o comando do “coração” do governo. O PT comandará os ministérios da Fazenda (Fernando Haddad); Casa Civil (Rui Costa); Relações Institucionais (Alexandre Padilha); Educação (Camilo Santana); Mulheres (Cida Gonçalves); Trabalho (Luiz Marinho); Secretaria Geral (Márcio Machado); Desenvolvimento Social (Wellington Dias); Desenvolvimento Agrário (Paulo Texeira); e a Secretaria de Comunicação Social (Paulo Pimenta). O PSB, por sua vez, comandará os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Geraldo Alckmin); Justiça e Segurança Pública (Flávio Dino); e Portos e Aeroportos (Márcio França). 

Além do controle da economia e da área social, o PT também comandará a articulação política do governo. Além do controle das Relações Institucionais e da Secretaria Geral, que farão a articulação política, já que a Casa Civil deve ter um perfil mais gerencial, os líderes da Câmara (o deputado José Guimarães) e do Senado (Jaques Wagner) pertencem ao PT. 

Quanto ao PT, também vale mencionar o protagonismo de quadros importantes de uma nova geração de petistas – Fernando Haddad, Rui Costa, Alexandre Padilha, Camilo Santana, Wellington Dias, Paulo Pimenta, além da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. 

O PSB também terá seu espaço na Esplanada. Além de Flávio Dino, um histórico aliado de Lula, que comandará a importante pasta da Justiça e Segurança Pública, nomes fundamentais na construção da Frente Ampla serão ministros: Geraldo Alckmin e Márcio França. 

Além de Alckmin e França, outras peças centrais da Frente Ampla – e que também terão seu espaço – são a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que será ministra do Planejamento, e a ex-senadora Marina Silva (Rede), que retornará ao Ministério do Meio Ambiente. Alckmin e Tebet, por exemplo, serão importantes para quebrar resistências junto as elites econômicas. 

Também foi reservado um espaço para aliados históricos como os presidentes nacionais do PDT, Carlos Lupi; e do PCdoB, Luciana Santos. Lupi será ministro da Previdência Social. E Luciana comandará a pasta de Ciência e Tecnologia. 

Outro núcleo de poder do governo Lula III será ocupado por MDB, PSD e União Brasil, partidos fundamentais para a governabilidade. Como Simone Tebet foi contemplada na cota pessoal de Lula, o MDB indicou dois líderes ligados às regiões Nordeste e Norte: Renan Filho (MDB-AL), que comandará o Ministério dos Transportes; e Jader Filho (MDB-PA), contemplado como o Ministério das Cidades. Eles são filhos dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Jader Barbalho (MDB-PA). 

Embora o MDB seja historicamente dividido entre seus caciques regionais, o ingresso do partido no governo Lula tem um peso simbólico importante, pois PT e MDB estiveram juntos na luta pela redemocratização do país. E agora se reconciliam após o rompimento de 2016.

O PSD também terá um papel importante. O partido indicou Carlos Fávaro para o Ministério da Agricultura. Fávaro é ligado ao agronegócio, mas apoiou Lula na campanha. Fávaro ajudará a quebrar resistência a Lula num setor que aderiu ao bolsonarismo desde 2018. Outro nome importante do PSD é o senador Alexandre Silveira (PSD-MG). Ele é ligado ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e será ministro de Minas e Energia. O PSD, além dessas duas pastas, foi contemplado com o Ministério da Pesca, através do deputado André de Paula (PE).

O União Brasil, embora ainda bastante dividido, também será governo. O partido indicou o deputado Juscelino Filho (MA) para o Ministério das Comunicações. A deputada federal Daniela do Waguinho (RJ), esposa do prefeito de Belfort Roxo (RJ), Waguinho (União Brasil), que apoiou Lula no segundo turno, será a ministra do Turismo. Tanto Juscelino quanto Daniela atuarão para garantir votos do União Brasil em favor da agenda do governo Lula na Câmara. 

Já no Senado, essa função deve ficar com o ex-governador do Amapá, Waldez Góes, que será o ministro da Integração Regional. Embora filiado ao PDT, Góes se licenciará do partido. Góes é próximo ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Entre os ministros sem filiação partidária, chamam atenção José Múcio Monteiro, que comandará o Ministério da Defesa. Múcio é um político habilidoso e possui bom relacionamento junto às Forças Armadas. A cantora Margareth Menezes, indicada para o Ministério da Cultura, fortalecerá o apoio do setor cultural ao governo.

Anielle Franco no Ministério da Igualdade Racial representará o legado deixado por sua irmã, a vereadora do Rio de Janeiro (RJ), assassinada, em 2018, Marielle Franco (PSOL). Papel similar terá o intelectual Sílvio Almeida, que é um dos grandes especialistas no tema da igualdade racial, no Ministério dos Direitos Humanos. Outro nome com peso simbólico é o da líder indígena Sônia Guajajara (PSOL), no Ministério dos Povos Originários. E há também nomes técnicos nas pastas da Saúde (Nísia Trindade) e Esporte (Ana Moser).

O governo Lula III, ao construir uma Frente Ampla que une do campo progressista aos setores da centro-direita democrática, institui uma nova maioria política no Brasil. Lula construiu um governo com grande pluralidade política e social tendo a defesa do pacto constitucional de 1988, o crescimento econômico e a distribuição de renda como itens centrais da agenda.

Nesse alargado campo democrático, nomes como Fernando Haddad, Rui Costa, Jaques Wagner, Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Flávio Dino e Marina Silva, visto que Lula anunciou que não disputará um novo mandato, já despontam como alternativas presidenciais para 2026. 

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes. É mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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