Opinião
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11 de outubro de 2022
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07:55

Precisamos de uma Carta ao povo brasileiro sobre segurança (por Alberto Kopitkke)

Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Alberto Kopitkke (*)

Segundo pesquisas, 82% das pessoas afirmaram que o tema da segurança foi muito relevante para sua decisão de voto no primeiro turno. Por isso é urgente que a grande mesa democrática formada em torno da candidatura Lula aborde o tema de forma mais substancial para os últimos 15 dias de embate do segundo turno. Uma carta ao povo brasileiro sobre segurança poderia ser um fator decisivo no duríssimo pleito eleitoral em curso.

Existem pelo menos duas grandes vertentes para debater segurança – ambas relevantes: uma sobre as reformas que são necessárias nessa área e outra sobre estratégicas concretas para reduzir a violência.

Os setores progressistas possuem muito conteúdo sobre as reformas necessárias no setor. Mas agora é um momento em que é preciso avançar sobre o que propomos para reduzir a violência de forma concreta e pragmática. Independentemente de nosso juízo de valor, a campanha Bolsonaro está ganhando de goleada nesse tema.

E aqui reside uma das principais fragilidades da campanha Lula. Seus governos fizeram muito: finalizou o fortalecimento institucional da Polícia Federal, que havia começado no Governo Fernando Henrique, fez o fortalecimento da Polícia Rodoviária Federal, criou o Sistema Penitenciário Federal, com 1.000 vagas para isolar os bandidos mais perigosos do país, fez uma reforma na Lei de Drogas que acelerou em mais de 200% o encarceramento de traficantes de drogas (muito criticada corretamente por setores progressistas), pagou bolsas para mais de 300 mil policiais fazerem cursos de formação e transferiu bilhões de reais para as cidades implantarem programas de prevenção a violência nos territórios mais violentos do país e para os estados modernizarem sua infraestrutura tecnologica.

Mas isso não conseguiu ser comunicado como uma bandeira de governo, nem assumido pelo PT como um programa político.

Durante o final do Governo Temer e o início do Governo Bolsonaro o crime organizado continuou crescendo fortemente no país e há indícios que tenha entrado numa fase. Com o aumento do poder das organizações brasileiros e o aumento de 150% na produção de cocaína na Colômbia, o Brasil se tornou justamente durante o Governo Bolsonaro o principal exportador de cocaína para a Europa, África e Oriente Médio. E assim, entramos numa fase em que nossas antigas facções, que cresceram vigorosamente por 30 anos em meio ao caos prisional, se transformaram em mega cartéis internacionais de drogas.

Mas o problema é que a violência social teve uma forte queda em todos os indicadores.

Ao que tudo indica e as primeiras evidências começam a demonstrar, essa queda não tem relação com o “libera geral” da venda de fuzis e outras armas no país, que começou a ser feito inclusive a maior parte dessa queda já ter ocorrido entre 2018 e 2019. Mas não é possível descartar que um discurso mais “linha dura” tenha estimulado as polícias a atuarem mais (e de forma mais violenta) e isso também possa ter contribuído para uma redução nos índices de criminalidade.

O fato é que a campanha Lula ainda não apresentou um programa vigoroso a ponto de transmitir para algumas parcelas da classe média uma visão que conseguirá fazer os índices criminais caírem, mantendo-se na agenda de oposição a liberalização das armas e defendendo o legado do que fez. O passo novo mais importante que deu foi anunciar apoio a recrição do Ministério da Segurança. Isso tudo é bom, mas é insuficiente e está muito aquém do que poderia ser.

Nas últimas três décadas, muitos países democráticos, com governos progressistas conseguiram reduzir fortemente os índices de violência e grande parte dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento alcançaram os menores patamares de violência de toda a história da humanidade.

Reunir com urgência as principais lideranças policiais progressistas e os especialistas que estiveram por trás de algumas das mais importantes experiências de redução da violência em cidades e estados brasileiros pode ajudar a campanha a elaborar uma carta ao povo brasileiro, com propostas concretas e pragmáticas, que demonstrem que a vitória de Lula resultará num país socialmente mais justo e também com menos violência.

(*) Diretor Executivo do Instituto Cidade Segura

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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