Opinião
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5 de setembro de 2022
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08:23

Inimigo (por Roberto Liebgott)

Violência contra povos indígenas virou trágica rotina no Brasil. Foto: Relatório Cimi 2020/Divulgação
Violência contra povos indígenas virou trágica rotina no Brasil. Foto: Relatório Cimi 2020/Divulgação

Roberto Liebgott (*)

Inimigo não dorme, fica de tocaia, a espreita, aguardando um vacilo para atacar.

Ele é perspicaz, paciente, não têm escrúpulos, receios ou medo.

Matar, ferir, ameaçar e destruir são práticas corriqueiras, compõem o ofício durante o dia e à noite.

Ele não sente remorsos, compaixão ou piedade, detêm o desejo de abater.

Ele não se converte, não ouve preces, rezas e não deseja o perdão.

Ele quer a vítima adormecida, conformada, acomodada, amedrontada ou acovardada.

Conhecer o inimigo – saber quem é, o que faz, com quem anda e o que pretende – é o indicativo para combatê-lo.

Mas as vítimas não cessam, assassinar indígena tornou-se rotina, assim como virou rotina o silêncio estarrecedor das autoridades e dos políticos.

Os povos originários, as comunidades tradicionais e outros segmentos da população pobre, embora não saibam, estão inseridas e abandonadas dentro de uma guerra covarde e sangrenta.

Enquanto a população mantém-se dispersa pela alienação, pelo conformismo, pelo medo e até por causa da fome; enquanto políticos e autoridades pensam em suas benesses, eleições e reeleições o inimigo – fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, grileiros, empresários do agronegócio e alguns outros que governam o país – avança, destrói e mata. No primeiro final de semana de setembro três indígenas, isso do que se noticiou, foram assassinados por milicianos e pistoleiros.

Até quando ?

(*) Cimi Sul – Equipe POA

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21


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