Opinião
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28 de abril de 2022
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10:33

Shadowban (por Anisio Pires)

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21

Anisio Pires (*)

O uso da tecnologia para calar opiniões contrárias ao pensamento ocidental não é novo. Agora, sequer perdoa figuras de fama mundial, cujas atividades não estão relacionadas com a política. Descobrimos o termo “shadowban” graças à supermodelo estadunidense de ascendência palestina, Bella Hadid. Uma midiática mulher com 51 milhões de seguidores em Instagram (@bellahadid), cuja fama e fortuna não lhe fazem esquecer suas raízes.

Em reportagem recente de Russian Today – RT (https://bit.ly/3McdG6p), Bella Hadid denunciou que Instagram lhe impede de publicar suas histórias, sobretudo quando sai em defesa da Palestina: “imediatamente me colocam sob os efeitos do «shadowban», motivo pelo qual, quase um milhão menos de vocês vê as minhas histórias e publicações”.

O que é o Shadowban? Censura tecnológica ou tecnologia a serviço da censura, nem mais nem menos. É tão “normal” que até a Wikipédia explica de que se trata: “O banimento às sombras (do inglês shadow ban ou shadow banning) ou supressão dissimulada, trata-se de uma forma de bloqueio ou restrição dissimulada e geralmente provisória nas redes sociais na internet e comunidades em linha, com o propósito de ocultar o conteúdo que sobe um usuário em sua conta mediante diferentes métodos, dependendo do funcionamento de cada serviço”. Seria uma prática comum ocultar a conta de um usuário, comentários, fotografias, vídeos, enfim, qualquer tipo de conteúdo de modo que ele não fique visível para outros usuários.

As redes sociais a serviço do ocidente praticam o shadowban e outros mecanismos de controle totalitário. A maioria das pessoas desconhece que eles existem, enquanto essas redes se apresentam frente ao mundo como as defensoras da liberdade. Quando não censuram, atuam como polícias ideológicas. Por exemplo, o aplicativo Bitly, usado para encurtar links, quando aplicado a uma publicação da RT, avisa em 5 idiomas: “A página em que estás navegando foi marcada como uma potencial fonte de desinformação”. O mesmo faz automaticamente Facebook, alertando: “Esse link é de um publisher que o Facebook acredita estar parcial ou integralmente sob o controle editorial do governo russo”. Marc Zuckerberg, presidente de “Meta Platforms, Inc.”, proprietária de Facebook, Instagram e WhatsApp, nunca informará que sua empresa é controlada pelo Pentágono. 

Semanas atrás, Facebook e Instagram foram proibidos na Rússia. Quando isso ocorreu, os paladinos da liberdade de expressão pouco protestaram. Poderíamos pensar que foi por “coerência”, dado o silêncio absoluto que eles têm mantido sobre o bloqueio e a proibição de vários meios russos na Europa. Mas a razão é outra. Tudo indica que calaram para evitar que as pessoas soubessem a verdadeira causa que levou a Rússia a proibi-los: o terrorismo. 

Qualquer pessoa que teve sua conta de Facebook ou de Instagram suspensa por alguma imagem ou texto sentenciado como estando fora dos padrões da comunidade, “se surpreenderá” ao saber que Meta, tão politicamente correta para bloquear conteúdos “inapropriados”, tenha decidido suspender “temporariamente” seus protocolos para permitir mensagens de ódio contra a Rússia. Não é uma interpretação interessada de nossa parte, foi reconhecido sem nenhum problema moral pelo porta-voz de Meta, Andy Stone: “Como resultado da invasão russa da Ucrânia, temos permitido temporariamente formas de expressão política que normalmente violariam nossas regras, com um discurso violento como «morte aos invasores russos»”. Como se não bastasse, o senhor Andy Stone deixa aberta a possibilidade futura de que possam permitir também mensagens de ódio contra todo o povo russo: “Ainda não permitiremos chamados críveis à violência contra os civis russos”. Ainda …

Enquanto Meta autoriza no mundo real mensagens de ódio contra a Rússia, no espaço virtual (www.meta.com) fala de seu compromisso com o futuro da comunicação: “O metaverso é a próxima evolução da conexão social (…), por isso estamos trocando nosso nome para refletir nosso compromisso com  este futuro”. Um futuro de ódio e censura? 

Tomemos consciência. Já não podemos seguir emitindo opiniões nas redes sem antes levar em conta os mecanismos que filtram, manipulam e censuram nossa comunicação. São tão gritantes as injustiças e arbitrariedades praticadas pelo imperialismo e governos subordinados a ele que não podem conviver com as mais elementares verdades. Cada vez serão mais intolerantes contra os rebeldes que insistem em contar a verdade. 

Ao usarmos Google e as redes sociais que servem ao mundo unipolar, estamos utilizando as estradas e os veículos construídos por eles para preservar a situação de desigualdade e injustiça que vive o mundo. Vão nos tolerar enquanto escrevamos mensagens domesticadas ou aparentemente radicais que somente atingem a uma minoria. Corrijamos isso pensando na qualidade e efetividade do que fazemos, sobretudo nas redes hostis à verdade e comecemos a usar cada vez mais as redes alternativas, até que os povos que constroem o novo mundo multipolar consigam criar vias de conectividade verdadeiramente livres e sem censura. Na Venezuela estamos dando nossa contribuição a essa luta, criando nossa própria rede social. Está em fase de construção, por isso convidamos a participar de https://venapp.com/ , fazendo as recomendações que achem necessárias para melhorá-la e potencializá-la. 

A supremacia comunicacional dos imperialistas tem pés de barro. A censura e a manipulação generalizada demonstram sua debilidade. Se proíbem nossas vozes é porque já não podem convencer nem seguir enganando os povos com espelhinhos coloridos. Todas e todos devemos nos esforçar para construir uma comunicação verdadeira. A razão está do nosso lado.

(*) Sociólogo pela UFRGS, professor da Universidade Bolivariana da Venezuela (UBV)  

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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