Milton Pomar (*)
As estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a população do Brasil em 2022 são de 109,8 milhões de mulheres e 105 milhões de homens, quase cinco milhões de homens a menos. No eleitorado (dados do Tribunal Superior Eleitoral, de fevereiro de 2022), a diferença é bem maior: são 78 milhões (52,9%) de eleitoras e 69,5 milhões (47,1%) de eleitores, espantosos 8,5 milhões de eleitores a menos. Há mais eleitoras do que eleitores em todas as faixas de idade, sendo a maior diferença na parcela de 45 a 59 anos de idade: 2,3 milhões de eleitoras a mais. Essa maioria é ainda maior em cidades como Fortaleza-CE, onde as eleitoras são 56,2% e os eleitores 43,8%; Salvador-BA (55,5% e 44,5%); Porto Alegre (55,1% e 44,9%); Florianópolis (53,7% e 46,3%); e Manaus-AM (53% e 47%).
Existem explicações técnicas para tamanha diferença das quantidades de homens e mulheres na população brasileira. O que não se explica nem se justifica é a inação generalizada frente a essa realidade aberrante – é a nossa juventude que está sendo morta em grande quantidade, há pelo menos 30 anos!
Além de morrerem primeiro, os homens morrem em muito maior quantidade: em 2017, do total de 1,3 milhão de mortes no País, 734 mil foram de homens e 578 mil de mulheres. Entre 15 e 54 anos de idade, morreram 210 mil homens e 87 mil mulheres. E ocorreram 65,6 mil homicídios no Brasil – quantidade superior à de mortes em todos os conflitos armados no mundo naquele ano.
Em 2018, o total de homicídios foi menor, 58 mil. Entre as vítimas de homicídios, 91,8% eram homens, de acordo com o Atlas da Violência 2020, do IPEA/Forum Brasileiro de Segurança Pública. Desse total de homens vítimas de homicídios, 59% tinham entre 15 e 19 anos de idade.
Estatísticas do Registro Civil, de 1988 a 2019, analisadas comparativamente pelo IBGE, revelam que a sobremortalidade masculina por causas externas só fez aumentar no período, nas faixas de 15 anos a 79 anos de idade. Em 2018, foi de 10,7 vezes a feminina, na faixa de 20 a 24 anos.
No Censo Demográfico do IBGE de 2010, a proporção de mortes de mulheres e de homens era de 100/133. Na faixa de 20 a 24 anos, subia para 100/420. E era de 100/798 em Alagoas.
Outro indicador importante é a diferença do tempo de vida entre homens e mulheres: a média nacional é de sete anos a menos para eles. O recorde nacional é Alagoas, com 9,5 anos a menos para os homens, seguido de perto pela Bahia (9,2 anos), Piauí (8,5 anos) e Pará (8,0 anos).
Evidentemente, não se chega rapidamente a diferenças tão grandes entre as quantidades de homens e mulheres em uma população de 214 milhões de pessoas. As estatísticas de 1992 do Registro Civil do Brasil publicadas pelo IBGE revelam ter morrido naquele ano 340 mil mulheres e 501 mil homens – 161 mil a mais. No ano 2000, foram 380 mil mulheres e 545 mil homens, (165 mil homens a mais), sendo 86 mil homens e 17 mil mulheres por causas violentas.
Essa realidade é denunciada com frequência, mas, objetivamente, até hoje não houve alterações significativas nas três causas principais (velocidade, álcool e armas). Ao contrário, com o “liberou geral” pelo desgoverno federal para armas, munições e radares nas estradas, a tendência é aumentarem as mortes por razões violentas.
(*) Geógrafo e mestre em Políticas Públicas
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