Opinião
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18 de janeiro de 2022
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13:53

Vitórias do PT em eleições presidenciais sempre tiveram alianças amplas (por Carlos Eduardo Bellini Borenstein)

Lula tem uma intenção de voto que hoje supera os 40%. (Foto: Ricardo Stuckert)
Lula tem uma intenção de voto que hoje supera os 40%. (Foto: Ricardo Stuckert)

Carlos Eduardo Bellini Borenstein (*)

Lideranças do PT como o deputado federal Rui Falcão e o ex-deputado José Genoino estão se opondo a aliança que está sendo construída entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo (SP) Geraldo Alckmin (Sem partido) para a disputa ao Palácio do Planalto. Além de Falcão, Genoino, outros integrantes do campo progressista e partidos como o PSOL também tem uma postura crítica em relação a aliança Lula-Alckmin.

Embora os questionamentos a possível chapa faça parte do debate interno no campo progressista, o histórico das eleições presidenciais realizadas desde 1989 e conjuntura de 2022 justificam os movimentos de Lula em buscar ampliar o leque de alianças.

Após a redemocratização do país, tivemos oito eleições presidenciais. Em todas as vitórias do PT (2002, 2006, 2010 e 2014), a política de alianças ultrapassou os limites da esquerda. Em 2002, Lula teve PL, PCdoB, PMN e PCB como aliados. Em 2006, apesar de formalmente apenas PRB e PCdoB estarem na coligação, a maioria dos diretórios estaduais do PMDB trabalhou pela reeleição de Lula.

Em 2010, Dilma Rousseff conquistou o primeiro mandato ancorada numa aliança ainda mais ampla (PMDB, PDT, PCdoB, PSB, PR, PRB, PSC, PTC, PTN). E em 2014, Dilma foi reeleita tendo PMDB, PSD, PP, PR, PDT, PRB, PROS e PCdoB na coligação.

Outro aspecto importante é que nas eleições de 2002 e 2006 o vice de Lula foi José Alencar, primeiro pelo PL e depois pelo PRB. E em 2010 e 2014, o vice de Dilma foi Michel Temer (PMDB). Tanto Alencar quanto Temer eram políticos que agregaram outros setores sociais e políticos a aliança liderada pelo PT. José Alencar era um empresário que ajudou Lula a quebrar resistências junto ao setor privado. E Temer era a expressão do centro político, consolidando a aliança do PT com forças de centro naquela oportunidade.

Por outro lado, nas derrotas de 1989, 1994, 1998 e 2018, o PT concorreu com alianças delimitadas à esquerda. Em 1989, Lula perdeu para Fernando Collor (PRN) tendo PCdoB e PSB como aliados. Em 1994, na derrota de Lula para FHC (PSDB), o PT teve PSB, PPS, PV, PCdoB, PCB e PSTU na coligação. Em 1998, na segunda derrota para FHC, Lula contou com o apoio do PDT, PSB, PCdoB e PCB. E em 2018, Fernando Haddad (PT) perdeu para Jair Bolsonaro (PSL) tendo apenas PCdoB e PROS na aliança. 

Sobre os vices nas derrotas de 1989, 1994, 1998 e 2018 –  José Paulo Bisol (PSB), Aloizio Mercadante (PT), Leonel Brizola (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB), respectivamente – podemos observar que eram nomes que dialogavam somente com a esquerda. 

Outro aspecto a ser considerado envolve a conjuntura de 2022. Embora Lula hegemonize o campo da esquerda/centro-esquerda, tendo uma intenção de voto que hoje supera os 40%, para vencer a eleição de outubro o ex-presidente precisa caminhar para o centro. 

Neste sentido, a aliança com Geraldo Alckmin tem um grande peso estratégico, principalmente se a eleição tiver dois turnos. Olhando os exemplos dos segundos turnos de 1989 e 2018 é possível constatar que, quando distanciou do centro, o PT acabou derrotado. O mesmo ocorreu nas derrotas em primeiro turno de 1994 e 1998. 

O objetivo de uma aliança eleitoral é justamente agregar setores que a candidatura precisa conquistar. Assim, fazer uma aliança entre iguais contribui pouco para maximizar votos, na medida em que restringe a amplitude do posicionamento e da narrativa do candidato. 

Desde as jornadas de junho de 2013, vivenciamos um avanço do campo liberal-conservador tanto na área econômica quanto na agenda dos costumes. Mesmo que exista uma demanda social na opinião pública em temas como o combate à fome e à inflação, o desemprego e demandas sanitárias em função da pandemia da covid-19 – o que fortalece a candidatura Lula – acreditar que será possível vencer uma eleição presidencial somente com alianças restritas ao campo progressista é uma visão política romantizada e sem base nas condições materiais da sociedade brasileira, que foi alvo de uma ofensiva conservadora nos últimos anos. 

Como consequência, a construção de uma aliança mais ampla em torno de um programa que dialogue com o centro e isole a extrema-direita é condição necessária para o sucesso eleitoral.

(*) Cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.

 


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