Opinião
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31 de janeiro de 2022
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09:50

Pobres, negros e mulheres sustentam a candidatura Lula (por Glauber Gularte Lima)

Lula visita fábrica em Diadema (SP) (Foto: Ricardo Stuckert)
Lula visita fábrica em Diadema (SP) (Foto: Ricardo Stuckert)

Glauber Gularte Lima (*)

Se o incompetente ex-ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub, vivesse com os pés na realidade criada por seu governo, não atribuiria nada de sobrenatural à extraordinária performance de Lula no cenário eleitoral, como afirmou em entrevista à Rádio Bandeirantes. Mas como isso é impossível para alguém que jura que a Terra é plana, pelo menos que analisasse as pesquisas que têm sido divulgadas para saber de onde vem a força social que mantém Lula na liderança. 

Longe de estar relacionada com algum tipo de milagre, ela encontra suas razões no confronto da realidade atual de desemprego, custo de vida e fome com a memória de uma época de emprego e consumo farto como nunca a atual geração havia vivenciado, simbolizada na carismática figura desse gigante nordestino.

Três pesquisas realizadas em dezembro de 2021, com bastante complexidade de cruzamento de dados, esboçam os segmentos sociais e os fatores econômicos responsáveis pelos impressionantes índices de intenção de voto que o candidato Lula (PT) mantém até o momento.  

Elas foram realizadas pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), PoderData e MDA Pesquisa e demonstram que os pobres, negros e mulheres são as colunas sociais que sustentam a candidatura de Lula. 

O IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica) é um instituto criado por Marcia Cavallari Nunes, que foi CEO do Ibope Inteligência até este encerrar suas atividades em janeiro de 2021.

Na pesquisa realizada pelo Ipec em dezembro de 2021, Lula (PT) liderava com 48% das intenções de voto (algo em torno de 70 milhões de eleitores), seguido de Bolsonaro (PL) com 21%. Dentre os vários dados disponibilizados pela pesquisa, as variáveis renda e raça/cor se apresentam como fatores determinantes para a liderança que Lula exerce até o momento.

Renda

Dos que possuem uma renda familiar de até 1 salário mínimo, que representam cerca de 30% dos eleitores, nada menos que 57% declararam apoio a Lula.  

Para se ter uma ideia do contraste em relação a Bolsonaro (PL), este possui na pesquisa apenas 14% de intenção de voto nesse segmento de renda.

No segmento dos que possuem uma renda familiar de 1 até 2 salários mínimos, que representam 26% dos eleitores, Lula teria 51%. Bolsonaro estaria com somente 19% do voto desses eleitores. 

Portanto, considerando o critério renda, dos 70 milhões de votos que a pesquisa indicou que Lula teria naquele momento, nada menos que 62% viria dos mais pobres da pirâmide social.

Raça/Cor

Já na caracterização raça/cor (critério usado pelo IBGE), 52% dos que se declararam pretos ou pardos votariam em Lula. Bolsonaro alcança apenas 18% desses eleitores, que representam cerca de 56% do eleitorado total.

É a identificação de uma maioria pobre e predominantemente negra com uma candidatura que expressa a possibilidade de realização de seus desejos e necessidades concretas de existência. E isso está diretamente relacionado com os encontros dos fatores memória e condição de vida atual, que se chocam brutalmente, como veremos mais adiante.

A PoderData é uma empresa de pesquisas de opinião e mercado vinculada ao site Poder 360, com sede em Brasília, fundado pelo jornalista Fernando Rodrigues.

Em seu levantamento de dezembro de 2021, a empresa trouxe como destaque a liderança isolada de Lula (40%) e o volume da intenção de voto de mulheres no candidato petista. Dentre os oito candidatos apresentados, Lula (PT) alcançou 44% de intenção de voto entre as mulheres, enquanto Bolsonaro (PL) apenas 24%. As mulheres representam 52,5% do eleitorado brasileiro (TSE/2020).

O Instituto MDA Pesquisa foi criado em 1988 por professores da Universidade Federal de Lavras (MG). Na área eleitoral, há anos realiza pesquisas encomendadas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

No levantamento realizado em dezembro de 2021, se evidencia o sentimento predominante de mudança. Esse sentimento encontra suas razões na realidade econômica das famílias em choque com a memória de um passado relativamente recente. Esses fatores explicam a atual liderança isolada de Lula (PT), que aparece na pesquisa com 42,8% de intenção de voto contra 25,6% de Bolsonaro (PL).

Dentre as várias funções que as sondagens eleitorais cumprem (para além de verificar quem está à frente ou atrás), uma delas é aferir junto ao eleitor se um determinado pleito está mais sujeito à manutenção do governo ou à mudança. No que se refere às eleições para a presidência da república, o sentimento predominante até o momento é de mudança. 

Quando perguntados sobre a preferência em relação à forma de governar, 47,6% manifestaram desejo de mudança total e 21,8% desejo de mudança da maioria das ações e manutenção de algumas. Ou seja, 68,8% dos eleitores tenderiam a votar com a oposição.

A crise econômica brutal na qual o país se encontra se expressa com força na preocupação dos eleitores. Quando perguntados sobre qual a ação mais importante que o governo federal deve realizar na área econômica, 59,2% se referem à geração de empregos e 23,5% ao controle da inflação, que tem um impacto gigantesco no custo de vida da população. 

Quando perguntados quais produtos tiveram aumento de preço que impactaram significativamente na capacidade de consumo, os eleitores elencaram em primeiro lugar a alimentação (68,5%), seguido de energia elétrica (39%) e combustível (36,1%).

E quando questionados se tiveram que reduzir a compra de alimentos nos últimos meses em razão da alta de preços, nada menos que 76,2% dos entrevistados responderam que sim, contra apenas 23,2% que não e 0,6% que disseram não saber ou que não responderam.

Já quando induzidos a refletir sobre o poder de compra familiar em comparação aos últimos três anos, 63,7% afirmaram que diminuiu. Dos que disseram que continuou igual, 22,3%. Dos que afirmaram que aumentou, apenas 13,1%.

Quando estimulados a expressar qual foi a época na qual tiveram mais poder de compra, ou seja, que viveram melhor, podendo usufruir da aquisição e utilização de produtos e serviços que hoje não lhes são mais acessíveis, a diferença é gritante. Para 58,9% foi na época do Governo Lula, contra 9,3% que dizem que foi no governo Bolsonaro e 7% que afirmam ter sido no governo Fernando Henrique.

E é desse confronto da realidade atual de aumento do desemprego e do custo de vida com a memória de um passado de acesso fácil ao emprego e grande capacidade de consumo que se forma na cabeça do eleitor o caminho que conduz a Lula. Não é de graça que as elites trabalham incansavelmente para apagar da memória do povo a sua história de lutas e a simbologia positiva de seus líderes.

(*) Professor, especialista em comunicação e marketing

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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