Opinião
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10 de novembro de 2021
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17:57

Manifesto contra censura no Colégio Farroupilha (por Nuances)

A peça infantil “Puli Pulá”, do grupo Cerco, foi censurada. (Foto: Adriana Marchiori/Divulgação)
A peça infantil “Puli Pulá”, do grupo Cerco, foi censurada. (Foto: Adriana Marchiori/Divulgação)

Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual (*)

O Nuances – Grupo pela Livre Expressão Sexual, organização da sociedade civil que atua na defesa dos Direitos Humanos da população LGBTQIA+ desde 1991, vem a público denunciar mais este ataque à liberdade de expressão que se revela mediante a discriminação a todas as pessoas que não se sentem representadas pela divisão binária de gênero.

A peça infantil “Puli Pulá”, do grupo Cerco, foi censurada! O motivo alegado foi a utilização da linguagem neutra no espetáculo. Esta censura mostra discriminação contra alunes que não se sentem incluídes pela divisão binária de gênero. Uma das apresentações já tinha ocorrido e a escola voltou atrás depois da reclamação de pais e mães des estudantes.

O argumento da escola, de que a linguagem neutra é inadequada para alunes, é excludente da diversidade de gêneros que faz parte de um universo escolar, sendo o não reconhecimento da cidadania (pela orientação sexual e identidade de gênero) motivo recorrente de evasão escolar.

Lembramos e repudiamos a censura que vêm ocorrendo nas artes, em vários lugares, envolvendo questões LGBTQIA+. O espaço escolar, que deveria acolher com respeito tais questões, representativas na sociedade atual, têm sido foco destes retrocessos, a exemplo da retirada dos temas de gênero e diversidade dos Planos Estadual e Municipal de Educação.

Ainda em julho deste ano, a escola municipal de ensino fundamental São Pedro foi alvo de notificação extrajudicial pelo uso da linguagem inclusiva neutra por docentes das disciplinas de História e Geografia. O Brasil tem atualmente 34 projetos de lei tramitando em Assembleias Legislativas tentando impedir o uso da letra “e” em vez de “o” ou “a”, em substantivos, e a inclusão dos pronomes “elu”, “delu”, “ile” e “dile”, no idioma.

Em recente ataque ao que chamam enganosamente de “ideologia de gênero”, o ministério da cultura do governo federal publicou uma portaria no Diário Oficial da União do dia 28 de outubro, uma portaria proibindo o uso da linguagem neutra em projetos financiados pela Lei Rouanet.

Não podemos apagar a memória de um dos momentos emblemáticos mais trágicos da censura na arte brasileira, com fechamento da Exposição Cartografias da Diferença na arte Brasileira, no espaço Santander Cultural de Porto Alegre, por pressão do Movimento Brasil Livre (MBL).

Lutemos pela inclusão de todes, todas e todos LGBTQIA+! Pela linguagem, exigimos reconhecimento e respeito a todas as identidades de gênero!

(*) Perseu Pereira, coordenador geral do Nuances.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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