Opinião
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13 de setembro de 2021
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15:01

Até onde vai uma frente ampla (por André Rosa)

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

André Rosa (*)

Há um debate no âmbito da esquerda sobre conceitos e limites que a conjuntura histórica impõe a uma frente ampla no Brasil. Junto a isso, uma certa Síndrome de Estocolmo e a falta da leitura correta da realidade por alguns setores. Para justificá-la, chegam a citar outros momentos históricos que em nada se assemelham ao atual.

 

O caso das Diretas Já é um dos citados por quem defendeu a participação nos atos do MBL e deseja com eles construir uma aliança pela democracia. Algo como o PT chamar naquele momento o PDS (que sucedeu a Arena) para dirigir o movimento por eleições livres e democráticas no pós-ditadura. À época, uma atitude tão absurda quanto participar de atos de um grupelho formado no seio e com apoio financeiro do ultraliberalismo fascista nos dias de hoje. Através da luta da esquerda, de uma frente ampla que incluía forças de centro democráticas sem incluir o PDS, se conquistou as Diretas.

Há limites para a construção de uma frente ampla contra Bolsonaro. Numa guerra, tu não pode ter ao teu lado aqueles que desejam o teu fim para se constituir. E o teu fim com a tua ajuda, com a tua participação efetiva para fortalecê-los. Essa foi a tentativa dos movimentos de 12 de setembro contra a esquerda. Eles não foram um simples Fora Bolsonaro, mas uma fracassada ação para constituir uma terceira via se utilizando da própria esquerda.

Os limites de uma frente ampla não incluem grupelhos como o MBL ou o Vem Pra Rua. Necessário lembrar que eles ocupam um espaço importante na disputa em curso entre o extremismo de direita. Porém, seu passado e seu presente não recomendam sua inclusão. Foram os propulsores financiados pela elite do golpe contra Dilma, continuam a chamar Lula de criminoso apesar das provas de lawfare e manipulação processual, defendem o obscurantismo cultural e a antidemocrática escolas sem partidos, foram responsáveis pelo crescimento do extremismo e da violência contra a esquerda e elegeram Bolsonaro. Indo além, continuam a defender a política de privatizações, corrupção, desregulamentação dos direitos trabalhistas e empobrecimento da população protagonizada por Paulo Guedes. Continuam a ser artífices de fake news contra a esquerda e o centro democrático. Somente por conveniência e oportunismo não estão, neste momento, o que pode mudar em breve, com Bolsonaro.

Flertar com o inimigo não deve ser considerado. É necessário a construção de uma frente ampla que vá além das conveniências e do Fora Bolsonaro. Essa frente ampla para defender a democracia precisa ser também antifascista se desejar reconstruir o Brasil. E aí, o MBL não se encaixa.

(*) Integrante da Executiva Municipal do PT de Porto Alegre

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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