Miguel Rossetto (*)
Nesta última quarta feira (11), pude participar de audiência da Comissão de Economia da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado Zé Nunes, do PT. A pauta, o piso salarial do RS, sem reajuste há dois anos. O último foi em fevereiro de 2019.
Trabalhei como vice-governador para a implantação do piso estadual aqui no RS – o secretário do Trabalho era Tarcisio Zimermann – ,e pude acompanhar o governador Olívio Dutra em maio de 2001 quando entregamos à Assembleia o projeto instituindo o piso; rapidamente aprovado com um valor 30% acima da salário mínimo nacional. A partir dali, o piso se tornou um patrimônio dos trabalhadores, em especial os mais vulneráveis e sem sindicato, um milhão e cem mil gaúchos.
O brutal é que o último reajuste do piso foi em fevereiro de 2019, quando passou a valer R$ 1.237,15 reais. Mais de 2 anos depois, com uma inflação acumulada de 10,17% pelo INPC e a de alimentos medida pela Cesta Básica do Dieese, de 38,5%, aqueles que trabalham têm perdido muito. São os que pagam a conta da crise. Alimentos, gás, energia elétrica, aluguel, gasolina, remédios com preços nas nuvens; sem reajuste, só o piso salarial, por decisão do governador e dos deputados governistas (PSDB, MDB, PSD, PSL, PTB, NOVO). Um desrespeito e uma violência contra quem mais precisa, repetindo o arrocho cruel de 7 anos das professoras e servidores públicos.
A vida demonstra que mais salário pode, sim, representar mais emprego e não menos como a direita anuncia. Mais renda local cria mais demanda, movimenta a economia, que responde com mais empregos. Dois exemplos vizinhos: Santa Catarina e Paraná reajustaram seus pisos estaduais em 10,62% e em 12,29%, no período em que aqui no RS o reajuste foi de ZERO%. Pois bem, o desemprego em Santa Catarina é 6,2% e o do Paraná de 9,3%%, menor e igual ao RS. Sobre empregos formais gerados, agora no primeiro semestre de 2021, com o piso reajustado, Santa Catarina e Paraná geraram mais empregos do que o RS. Em Santa Catarina foram 111.357 novos empregos, no Paraná 103.432 e no RS com zero de reajuste, 82.134 empregos; o pior desempenho dos três estados. A fonte é o Novo Caged-ME.
Melhorar o piso salarial de um estado, melhora a renda dos mais pobres e diminui a desigualdade social. A Grande Porto Alegre é a região com maior desigualdade da região sul, quando comparada com Florianópolis e Curitiba e a que mais empobreceu; nos últimos 12 meses, 280 mil pessoas foram jogadas na pobreza (uma Gravataí inteira!) e 30% da região vive nesta condição.
Eduardo Leite e sua base governista são responsáveis por este massacre, que se junta aos crimes contra quem trabalha promovido por Bolsonaro, como a MP 1405. A unidade das Centrais Sindicais e dos sindicatos demonstrada hoje na audiência na Assembleia é muito importante. Nossa bancada do PT está comprometida em votar e atualizar integralmente o piso pela inflação do período, em fazer justiça com quem trabalha e produz a riqueza do estado. Que o governador e a Assembleia respeitem a lei, reajustem o piso e parem de produzir pobreza e sofrimento àqueles que trabalham.
(*) Miguel Rossetto foi Ministro do Trabalho e Previdência Social e vice-governador do Rio Grande do Sul
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