Opinião
|
28 de junho de 2020
|
17:04

Brasil: o país que mais extermina LGBTs no mundo (por Gabriel Elias Josende)

Por
Sul 21
[email protected]
Brasil: o país que mais extermina LGBTs no mundo (por Gabriel Elias Josende)
Brasil: o país que mais extermina LGBTs no mundo (por Gabriel Elias Josende)
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Gabriel Elias Josende (*)

Apesar de ser relativamente recente o uso do termo “transexual”, pessoas assim existem desde o princípio dos tempos. Na mitologia grega, Tirésias viveu sete anos de sua vida como mulher e, após um período, tornou-se homem. Na mesma mitologia, existe o deus Hermafrodite, que como o nome sugere, é hermafrodita, não possuindo sexo definido. Sendo os gregos um dos povos mais antigos da Terra, é razoável se pensar que haveria mais de uma representação de diversidade de gênero em seus mitos. Os helenos, ainda, são conhecidos por terem criado os jogos Olímpicos e pelo culto ao corpo masculino, visto que os jogadores disputavam as Olimpíadas nus. A homossexualidade era vastamente aceita na Grécia antiga.

Agora, o que houve com o mundo? Os povos antigos aceitavam os LGBTs, e a humanidade contemporânea é mergulhada em preconceito. Dados da Transgeder Europe, uma ONG austríaca, demonstram que o Brasil é o país que mais assassina LGBTs em todo o mundo. Entre 1º de janeiro a 30 de setembro de 2018, 271 transgêneros foram mortos em 72 países. Desses, 125 foram só no Brasil. Três dessas vítimas morreram em decorrência de tortura, enquanto quatro foram decapitadas ou tiveram seus corpos esquartejados. E essa é apenas a ponta do iceberg. O número tende a ser ainda mais alarmante, se levar-se em conta que nem todas as mortes são registradas, visto que muitos transgêneros são marginalizados e vivem como indigentes.

Morto como indigente foi Itaberli Lozano. É (ou pelo menos foi) esse o nome do jovem de dezessete anos que foi executado a facadas e teve o corpo queimado, simplesmente por ser gay. A autora do crime? Sua própria mãe. Percebe-se como o combate à homofobia não é opção, apenas: é obrigação. A também chamada LGBTfobia é a grande causadora de casos como o de Itaberli. Centenas de gays, lésbicas, transexuais, bissexuais, pansexuais e afins são mortos anualmente no Brasil, de formas brutais e injustificáveis, por simplesmente serem felizes da forma que quiserem ser.

O suicídio também é problema. É caso de morte violenta e, acima de tudo, aumenta o número de centenas para milhares de mortes por ano. Segundo artigo publicado pelo veículo americano de notícias NPR, intitulado “Study: Tolerance Can Lower Gay Kids’ Suicide Risk”, os adolescentes e adultos LGBTs entre 15 e 29 anos apresentam suscetibilidade maior a tentativas de suicídio, especialmente se não houver suporte familiar. De acordo com o levantamento do GGB (Grupo Gay da Bahia), a cada 19 horas um gay é morto ou se suicida no Brasil. Ser gay não é errado. Ser lésbica, trans, pan, bi, não é errado. Errado é fechar os olhos a essa pessoas e, mais do que ignorá-las, maltratá-las e assassiná-las.

E o que esperar dessa era em que vivemos? Um desgoverno jamais visto na história desse país. Um Presidente da República que tem a audácia e a crueldade de dizer que “quando seu filho começa a ficar assim, meio gayzinho, é só dar um pau nele que resolve”. Incita a violência aos LGBTs e incentiva outros casos como o já citado, de Itaberli Lozano. E não vamos nem comentar sobre aqueles que são expulsos de suas casas pelos próprios pais ao saírem do armário. E mesmo com tudo isso, temos o descaso e o desprezo na fala da autoridade máxima do país. Cada vez que ele abre a boca pra rir de uma drag, é um tiro na cabeça de outra delas. Essa é a triste realidade do nosso país.

Já passou da hora de o Brasil abrir os olhos. De que adianta sermos o país com mais títulos de Copa do Mundo se somos, também, os campeões em extermínio de LGBTs? O que é isso? É um título para se exibir e se orgulhar também? As políticas são falhas. A homofobia tardou a ser criminalizada, e isso só mostra como o Brasil está atrasado. Em países como os EUA, o Canadá e a Inglaterra, além de em muitas outras nações desenvolvidas, é crime e o casamento gay já é liberado. Enquanto isso, aqui em nossa “pátria amada, idolatrada, salve, salve!”, os políticos preferem discutir se devem ou não ir de calça jeans ao Congresso, a discutir coisas pertinentes à República, como políticas de combate à LGBTfobia. Estendo a mão a todos os viados, trans e sapatões desse país. Está cada vez mais difícil de se morar aqui!

(*) Gabriel Elias Josende é poeta, ator, escritor, compositor e ativista LGBT. É autor do livro “Três Quintos”, sobre a bissexualidade em forma de poesia. É morador de Bento Gonçalves e estuda Letras no campus do IFRS. É militante no coletivo Fora da Ordem.

***

As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora