Coronavírus
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25 de novembro de 2021
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18:34

Nova variante do coronavírus descoberta na África causa preocupação entre cientistas

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Sul 21
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Ainda não se sabe se nova variante pode se sobrepor a Delta, atualmente predominante no mundo. Foto: Handout
Ainda não se sabe se nova variante pode se sobrepor a Delta, atualmente predominante no mundo. Foto: Handout

Descoberta em Botsuana, no começo de novembro, a B.1.1.529 é a nova variante de preocupação do coronavírus. Cientistas alertam que a variante, com casos confirmados na África do Sul e em Hong Kong (um homem que viajou para a África do Sul), tem um “número extremamente alto” de mutações, o que pode levar a novas ondas de covid-19. Em poucos dias, os números oficiais de casos da nova variante saltaram de 22 para 100.

A nova variante tem causado grandes preocupações aos pesquisadores porque algumas das mutações podem ajudar o vírus a escapar à imunidade das vacinas. A B.1.1.529 tem 32 mutações na proteína spike, a parte do vírus que a maioria das vacinas usa para preparar o sistema imunológico contra a covid-19. As mutações na proteína spike podem afetar a capacidade do vírus de infectar células e se espalhar, mas também dificultar o ataque das células do sistema imunológico sobre o patógeno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) deve se manifestar sobre a descoberta nessa sexta-feira (26).

“A quantidade incrivelmente alta de mutações de pico sugere que isso pode ser uma preocupação real”, declarou Tom Peacock, virologista do Imperial College London. No Twitter, ele defendeu que a variante seja muito monitorada devido ao recente aumento de casos na África do Sul.

A médica Meera Chand, microbiologista e diretora da UK Health Security Agency, afirmou que, em parceria com órgãos científicos de todo o mundo, a agência monitora constantemente a situação das variantes de SARS-Cov-2 em nível mundial, à medida que vão surgindo e se desenvolvem. “Como é da natureza do vírus sofrer mutações frequentes e aleatórias, não é incomum que surjam pequenos números de casos apresentando novas mutações. Quaisquer variantes que apresentem evidências de propagação são avaliadas rapidamente”, disse ela ao jornal britânico The Guardian.

Os cientistas observam a nova variante em busca de sinais de que esteja ganhando força e acabe por se espalhar amplamente. Alguns virologistas da África do Sul estão preocupados devido ao recente aumento de casos em Gauteng, região que inclui as cidades de Pretória e Joanesburgo, onde já foram detectados casos com a variante B.1.1.529.

Ravi Gupta, professor microbiologista da Universidade de Cambridge, afirmou que o seu trabalho em laboratório revelou duas mutações na B.1.1.529 que aumentam a infecção e reduzem o reconhecimento de anticorpos. “Parece certamente uma preocupação significativa com base nas mutações presentes”, disse. “Contudo, uma prioridade chave do vírus desconhecida é a infecciosidade, pois é isso que parece ter impulsionado principalmente a variante Delta. A fuga imune é apenas uma parte da imagem do que pode acontecer”, acrescentou.

Já o professor François Balloux, diretor do Instituto de Genética do University College London, considera que o grande número de mutações na variante, aparentemente acumuladas num “único surto”, sugere que pode ter evoluído durante uma infecção crônica em uma pessoa com o sistema imunológico enfraquecido. “É difícil prever o quão transmissível pode ser nesta fase. Por enquanto, deve ser acompanhado de perto e analisado, mas não há razão para demasiada preocupação, a menos que comece a subir de frequência num futuro próximo”, afirmou Balloux.

A biomédica brasileira Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid, destacou que algumas mutações na nova variante não são comuns e até raras. Entretanto, embora as mutações possam conferir um aumento na transmissão e na evasão imune, ainda não indício de que seria algo maior do que já conhecemos nas outras variantes do Sars-Cov-2 ou que afete a eficácia das vacinas.

“O impacto real dessa variante precisa ser, de fato, estudado. O que sabemos até o momento: Não temos indicativo de que vacinas não funcionam contra essa variante, é bastante provável que as vacinas seguirão protegendo”, disse, também em rede social.

Por enquanto, não há indicativo de que a nova variante “passe” em predominância a variante Delta, por exemplo, que rapidamente se espalhou pelo mundo. “Na verdade, pensando no número de mutações, existe a possibilidade de mesmo tendo um aumento importante de casos no início, a variante não consiga se sobrepor à Delta”, pondera Mellanie.

“É possível que essa variante possa ter surgido a partir de infecções mais prolongadas em pessoas imunossuprimidas. Por isso a vacinação é tão relevante, principalmente em grupos de pessoas mais vulneráveis a infecção. A vacinação é capaz de reduzir o risco de infecção e o tempo em que a pessoa permanece infectada, acelerando a eliminação viral. Isso faz com que o vírus tenha menos oportunidades de replicar e, com isso, acumular mutações”, explica.

A coordenadora da Rede Análise Covid acredita que, se a nova variante for instável, ela não deve perdurar frente à Delta. Porém, se for realmente uma variante que está trazendo “alerta vermelho” real, o momento é de acionar medidas para evitar situações piores.

Com informações da Agência Brasil


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