Política
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24 de março de 2024
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18:18

Hélio Santos: Movimento negro deve parar de usar band-aid para curar fratura exposta

Hélio Santos na ALRS na noite da última quinta (21). Foto Fernando Gomes/ALRS
Hélio Santos na ALRS na noite da última quinta (21). Foto Fernando Gomes/ALRS

“Para cada dez anos de Brasil, sete foram sob escravidão: é impossível não haver consequências disso na sociedade atual”, foi um dos apontamentos iniciais feito pelo professor Hélio Santos, durante Audiência Púbica na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na noite da última quinta-feira (21). Santos é ativista, escritor e pesquisador da temática racial, além de ser uma das principais vozes brasileiras a debater o tema. Mestre em Finanças e Doutor em Administração, é presidente do Conselho do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdade Racial – CEDRA.

Compromissado em evidenciar a proporção da desigualdade financeira, Santos lembrou ao público que o Brasil é o único país presente na lista das dez maiores economias ao mesmo tempo em que integra a lista dos países mais desiguais do mundo. E complementa pontuando que “sem dar destaque à questão racial, o Brasil vai continuar patinando [no combate à desigualdade econômica]”.

Ao longo de duas horas de fala ininterrupta, Santos trouxe ao público inquietações para a construção de projetos práticos, a fim de ultrapassar o nível discursivo. “O desafio está em sair da armadilha de discutir quem é preto ou não, mas em propor modelos de solução”, afirma o professor.

 

Comissão é fruto de proposição do deputado Matheus Gomes. Foto Fernando Gomes/ALRS

Um dos principais caminhos apontados por Santos foi a necessidade de formular programas com foco no desenvolvimento econômico dos mais de 140 quilombos mapeados no Rio Grande do Sul. O professor ressalta que o desenvolvimento deve ser com sustentabilidade cultural e ambiental, como forma de posicionar o povo negro e quilombola na linha de frente da Economia Verde, que é um caminho sem volta quando tratamos de futuro, e termina afirmando que o movimento negro deve parar de “usar band-aid para curar fratura exposta”.

A presença de Hélio Santos no Parlamento se deu como parte da 4ª Audiência Pública promovida pela “Comissão Especial sobre a Situação Econômica da População Negra do RS”. A Comissão é coordenada por Winnie Bueno, que participou presencialmente e destacou que o papel da comissão é organizar os dados sobre a situação econômica e elaborar um relatório final com objetivo de apresentar o documento como um meio oficial de escancarar a proporção da desigualdade e, ao mesmo tempo, fornecer modelos de solução.

O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL), propositor da Comissão Especial, enfatiza que o objetivo é iniciar o deslocamento do debate do movimento racial, trazendo a situação econômica da população negra para o centro das discussões.

O dia da audiência pública com Hélio Santos também foi marcado pelo lançamento do Plano Juventude Negra Viva, pelo Governo Federal, em Ceilândia (DF). Em sua rede social, Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial, anunciou: “Nesse pacote, falamos de redução da vulnerabilidade, redução da letalidade, bolsa de estudos e intercâmbios e, sobretudo, a saúde mental. Por isso, temos um recorte para a saúde mental de vocês, porque queremos vocês vivos!”. O Plano prevê investimento de mais de R$ 665 milhões nos próximos anos.

Os trabalhos da Comissão Especial sobre a Situação Econômica da População Negra do RS seguirão com audiências públicas em outras regiões do estado e ainda não há prazo para apresentação do relatório final.


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