Política
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27 de janeiro de 2023
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10:15

Assembleia lança livro sobre o monitoramento de movimentos sociais gaúchos pela ditadura

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Sul 21
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Catálogo foi lançado em evento na presidência da ALRS | Foto: Paulo Garcia/ALRS
Catálogo foi lançado em evento na presidência da ALRS | Foto: Paulo Garcia/ALRS

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul lançou nesta quinta-feira (26) o catálogo “Movimentos sociais sob suspeita: documentos da polícia política do RS durante a ditadura”. A publicação compila as ações de vigilância e monitoramento feitos pelo regime militar sobre organizações da sociedade civil gaúchas, no período entre o final dos anos 1960 e a década de 1980.

Organizado por Ananda Fernandes, Paola Timm e Erico Espíndola, o livro traz cópias e transcrições de documentos que mostram como ocorria a espionagem e os motivos apresentados pela polícia política para as ações. A publicação do catálogo é uma parceria entre o Parlamento, o Memorial do Legislativo e a Secretaria de Estado da Cultura, por meio do Arquivo Histórico do RS.

Para o presidente do Legislativo gaúcho, deputado Valdeci Oliveira, a edição do catálogo “se trata, além de um documento histórico, de uma homenagem aos homens e mulheres que, num período triste da nossa História, ousaram resistir, se organizar e defender os direitos políticos e sociais da população brasileira”.

Valdeci destacou ainda que o trabalho é uma contribuição para que falsas narrativas não se sobreponham aos fatos históricos. “Ele nos mostra, principalmente aos mais jovens, que a nossa democracia, que volta e meia é ameaçada por quem têm saudades daqueles tempos sombrios, não nos foi dada ou concedida, ela foi conquistada com muita luta, dor, lágrimas e sangue de muitos brasileiros e brasileiras. E também com muita organização social que, como documentado neste catálogo, incomodava em muito os então donos do poder”, disse.

Secretária estadual da Cultura, Beatriz Araújo afirmou que a parceria para a publicação da obras “é uma alegria renovada”. “Espero que não encerremos aqui (a parceria) e que tenhamos outros momentos de relevância, de guarda da memória, de difusão e divulgação e sigamos neste caminho que eu penso ser o caminho certo”, afirmou.

Ananda Fernandes, que também é coordenadora do Arquivo Histórico, destacou que o Brasil vivencia hoje um momento em que há “muita apologia” à ditadura militar. “E nós, enquanto instituições públicas, de cultura, de pesquisa, de memória, de ciência temos de sempre trazer essa temática (a público), principalmente nesses períodos mais obscuros e com maiores empecilhos”, disse.

Ananda lembrou ainda que o RS é um dos poucos estados que não possui documentação relacionada aos Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que foi oficialmente incinerada em 1982 por ordem do então governador Amaral de Souza.

“Mas preenchemos essas lacunas com as informações dos Sops, secretarias que funcionavam como pequenos Dops no interior. Então, quando dizem que no país a ditadura foi branda ou até mesmo que não houve, a documentação prova o contrário”, disse.

As 267 páginas da obra incluem textos elaborados pelos autores e por Diorge Konrad, professor titular do Programa de Pós-Graduação e do Departamento de História da UFSM, e Carlos Eduardo, historiador formado pela ULBRA e mestre e doutorando em História pela PUC, sobre o cenário político do período e temas afins relacionados ao objeto abordado.


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