Brasília foi tomada de excitação, felicidade, militância, buzinaço, bandeiradas, caravanas e o que mais a posse de um presidente de viés popular comportar. Neste domingo, quando Lula (PT) subir a rampa do Palácio do Planalto por volta de 16h (se a chuva deixar), a multidão que ocupou a cidade vai comemorar o início de um novo tempo. Assim todos esperam.
“É muito emocionante estar aqui, depois de dois meses de espera”, disse a estudante Natália Campoy, 25, assim que desembarcou do ônibus que a trouxe de São Paulo com outras 45 pessoas. “Dois meses, não. Seis anos”, corrigiu um colega de viagem, referindo-se ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, que marcou o fim da era petista no poder. O grupo passou 18 horas na estrada, vai assistir à cerimônia de posse na Esplanada dos Ministérios e, à meia-noite do dia 1º, embarca de volta para a capital paulista.
O grupo faz parte da Juventude do PT que, assim como outras 1.100 caravanas de todo o país, rumou a Brasília para acompanhar a posse de Lula. Os estudantes vão ficar acampados no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, maior concentração de visitantes na capital federal. Segundo a organização, 16 mil pessoas devem passar a noite de Ano Novo no local ou nas dezenas de festas que estão marcadas para ocorrer.
O coordenador do local, José Wilson da Silva, 68, explicou que foram colocados 500 banheiros químicos à disposição dos acampados, além de 250 chuveiros portáteis. No total, são aproximadamente 1.500 banheiros químicos espalhados por Brasília para atender a multidão de 300 mil pessoas esperada para este domingo. A limpeza do pós-festa, que deve se estender até por volta das 4h de segunda-feira, ficará a cargo de uma cooperativa contratada pela equipe de transição.
Os acampados estão organizados por regiões. Além da preocupação com a saúde, que inclui a distribuição de preservativos, a segurança também recebeu atenção. Só entram pessoas credenciadas no acampamento, depois de passarem pelo detector de metais. No estádio Mané Garrincha, a poucos quilômetros do Pavilhão, estão acampados o MST e os movimentos vinculados aos povos originários. São cerca de 10 mil pessoas, uma verdadeira cidade móvel, segundo a coordenadora do MST Ceres Atadich.
“É fundamental, neste momento, ocupar as ruas do país para garantir a posse do presidente Lula. Há um conjunto de forças que segue construindo ações golpistas pelo país”, completou. Por isso, um cortejo reunindo o MST e os movimentos que congregam os povos indígenas marcará o início da cerimônia de posse. A passeata, que dever reunir mais de 50 mil pessoas, vai descer pela Esplanada dos Ministérios até o local onde será realizado o Festival do Futuro.
A celebração pela posse de Lula já começou no voo 1923, da Gol, que partiu de Porto Alegre às 5h25 de sexta-feira (30) e levou a equipe do Sul21 até Brasília. Passageiros com bonés, camisetas e adesivos do PT lotaram a aeronave. Muitas pessoas vestiam roupas vermelhas e não continham a euforia. O comerciante Douglas da Rocha, de Canoas, disse que ia a Brasília resgatar valores usurpados da população durante o governo Bolsonaro. “É uma retomada. Vai ser um momento histórico, único para o país”, afirmou.
Já no saguão, antes do embarque, alguns passageiros ensaiaram palavras de ordem bem conhecidas ao PT. Muitos amigos entre si, que se encontraram no aeroporto, já iniciaram na fila de embarque mesmo as combinações para festas de Réveillon e para a cerimônia de posse. Durante o voo, mais euforia: grupinhos se formaram nos corredores e o assunto principal era a expectativa com o governo Lula, que inicia oficialmente na madrugada do próximo domingo. Durante o pouso em Brasília, a maioria dos passageiros entoou o refrão “olê olê olá, Lula Lula” ritmado por palmas.
No final da tarde de sábado, vários grupos de apoiadores de Lula se espalharam pela cidade em buzinaços e bandeiraços especialmente pelo Eixo Monumental. A principal concentração se deu na Torre de TV, tradicional local de concentrações populares de Brasília.
No acampamento dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), o clima de derrota era visível no sábado. Um grupo não superior a 500 pessoas ainda se concentrava em frente ao QG do Exército, mas ficou ainda mais reduzido devido ao tempo instável de Brasília. Durante o dia, choveu forte pelo menos quatro vezes – o que atrapalhou os planos de quem pretendia permanecer acampado.
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