Política
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28 de março de 2022
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18:01

Leite renuncia ao governo e se coloca como ‘alternativa jovem’ para o Brasil

Por
Luís Gomes
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Eduardo Leite anuncia que deixa o governo do RS. Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini
Eduardo Leite anuncia que deixa o governo do RS. Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

Enfim, acabou a novela. Após meses insinuando migrar ao PSD para se candidatar à presidência da República, Eduardo Leite (PSDB) anunciou nesta segunda-feira (28) que vai permanecer no seu atual partido e renunciar ao cargo de governador do Rio Grande do Sul. Leite deixa o governo para, ao menos no momento, não ser candidato a nada. Contudo, como repetiu diversas vezes ao longo da coletiva em que fez o anúncio, disse que a renúncia lhe abre muitas possibilidades e não lhe retira nenhuma.

Convocada para às 14h, no Palácio Piratini, a coletiva de anúncio do futuro político do governador foi iniciada com um vídeo transmitido simultaneamente pelas redes sociais. Na gravação, em que adotou um tom de candidato à presidência da República, Leite afirmou que estava “renunciando ao cargo para não renunciar à política” e que a decisão foi tomada pela “convicção” de que deve participar ativamente das movimentações políticas neste ano de 2022, colocando o seu nome à disposição da candidatura à presidência, ainda que não tenha assumido isso diretamente.

Quando apareceu para falar com a imprensa, Leite estava acompanhado do seu vice e agora futuro governador, Ranolfo Vieira Júnior, e cercado pelos principais dirigentes, prefeitos, deputados e secretários de Estado do PSDB no Rio Grande do Sul. Em sua fala, destacou que a carta escrita por correligionários pedindo que permanecesse no partido foi essencial para que tomasse a decisão de não trocar o PSDB pelo PSD, que ofereceu a ele uma candidatura à presidência. Ele também atribuiu aos seus pais, a quem classificou como tucanos históricos e que estavam presentes na coletiva, um papel importante na tarefa de sensibilizá-lo a ficar no partido.

Se a coletiva significou o “Dia do fico” no PSDB e o fim da novela sobre renunciar ou não, Leite manteve a dúvida sobre o seu futuro político ao deixar bastante claro que permanece com a intenção de concorrer à presidência, ainda que tenha perdido as prévias tucanas realizadas em novembro passado para o governador de São Paulo, João Doria. Em diversos momentos, foi questionado se manifestar a intenção de concorrer à presidência não seria desrespeito às prévias, um “golpe” ou uma “traição”. Como resposta, repetiu, também diversas vezes, uma declaração dada pelo próprio Doria em 22 de fevereiro, em que o governador paulista admitiu que poderia não concorrer à presidência neste ano.

“Eu amo o Brasil e, em nome desse meu amor pelo Brasil, eu não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole que me fez ter orgulho de ser brasileiro. O meu país, o povo do meu país, é mais importante do que eu mesmo. Então, se chegar lá adiante, e lá adiante tiver que oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia – de ter Lula e Bolsonaro – eu estarei ao lado daquele e de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor ao Brasil”, disse Doria em 22 de fevereiro, declaração lida por Leite na coletiva desta segunda.

Leite anunciou que a renúncia lhe abre a possibilidade de viajar pelo Brasil sem se “preocupar com planilhas” e com “avaliar projetos em andamento”. Inicialmente, destacou que essas viagens terão o objetivo de mobilizar a juventude, estimulando os jovens a se engajarem na política. Disse também que irá intensificar os contatos políticos a partir de agora. “Eu não estou saindo, estou me apresentando”, disse.

O governador também deixou claro que uma eventual candidatura à presidência passaria não apenas por decisão interna do PSDB, mas por uma convergência de forças políticas que envolveria também União Brasil, MDB, Cidadania, entre outros partidos, de que ele seria o melhor nome, chegando a afirmar que esses partidos não foram consultados na escolha do PSDB pela candidatura de Doria.

Imprensa acompanha pronunciamento de Leite no Piratini. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Caso isso aconteça, Leite indicou que quer se apresentar com uma nova cara e uma candidatura jovem em meio à polarização, citando nominalmente líderes de países que se encaixariam esse perfil, como Justin Trudeau (Canadá), Emmanuel Macron (França), Volodymyr Zelensky (Ucrânia) e Jacinda Ardern (Nova Zelândia). “Esse novo olhar que eu quero levar para o meu partido”, disse.

Ele também não quis estipular prazo para uma definição sobre uma eventual candidatura à presidência, mas ponderou que não vê de forma negativa a possibilidade disso ocorrer apenas na época das convenções partidárias, que podem ser realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto.

Para o governador, as pesquisas estariam indicando que há um “espaço muito nítido” para uma campanha que não seja de Bolsonaro (PL) ou Lula (PT), o que classificou como presente e passado, indicando que tentará passar uma mensagem de “futuro”. Minimizando a liderança dos dois, avaliou ainda que os brasileiros irão focar suas atenções na disputa presidencial apenas quando a campanha começar oficialmente.

Questionado pelo Sul21 sobre como entendia o movimento do ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que ingressou recentemente no PSB para ser candidato a vice de Lula, Leite afirmou que mantinha o respeito pelo agora ex-tucano, mas classificou a decisão como um “equívoco” e uma “volta ao passado”.

A respeito da situação do governo do Estado, Leite indicou que deverá formalizar a renúncia na próxima quinta-feira (31) e disse que a confiança que tem no vice-governador Ranolfo Vieira Júnior “pesou muito” em sua decisão. “Viramos o jogo e o jogo continuará sob a condução do Ranolfo”, disse Leite, fazendo referência à situação fiscal do Estado.

O governador não descartou concorrer à reeleição, possibilidade que a Justiça eleitoral não lhe retira ao anunciar a renúncia, mas foi afirmativo que Ranolfo é o candidato que irá defender. Antecipando o que poderá ser o mote da campanha de seu vice, Leite lembrou que com Ranolfo no comando da Secretaria de Segurança Pública o Rio Grande do Sul apresentou redução nos índices de criminalidade em relação ao início de seu mandato e que isso talvez tenha sido um dos “pontos altos” do governo.

No domingo  (27), o MDB confirmou a pré-candidatura do deputado estadual Gabriel Souza sob acusações de caciques partidários de que o governador havia usado de sua influência política para interferir na disputa,  o que teria pesado na desistência do deputado federal Alceu Moreira de concorrer ao cargo. Nesta segunda, Leite destacou que uma decisão sobre a candidatura que irá apoiar a sua sucessão e mesmo a chance de disputar a reeleição, que não descartou de forma veemente, dependerá da articulação de partidos aliados ao seu governo. “O PSDB liderou o projeto até aqui e tem um grande nome para dar continuidade”, disse Leite, sobre a candidatura de Ranolfo.

Ao final da coletiva, que reuniu presencial ou virtualmente 60 jornalistas de todo o País, afirmou que não é fácil deixar o governo no “momento da colheita”, quando consegue anunciar investimentos. “Me dói deixar o governo momento que estamos conseguindo fazer entregas”, disse o futuro ex-governador do Rio Grande do Sul.


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