Meio Ambiente
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10 de fevereiro de 2022
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10:15

Câmara dos Deputados aprova ‘Pacote do Veneno’, liberando mais ainda uso de agrotóxicos no Brasil

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Sul 21
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Mobilização, em Brasília, contra flexibilização da legislação sobre uso de agrotóxicos. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Mobilização, em Brasília, contra flexibilização da legislação sobre uso de agrotóxicos. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (9), por 301 votos a 150, o PL 6299/2002), apelidado de ‘Pacote do Veneno’, flexibilizando mais ainda a legislação sobre o uso de agrotóxicos no Brasil. Entidades de defesa do meio ambiente  e da saúde humana denunciaram a falta de debate e participação popular que marcou a tramitação do projeto na Câmara. Houve menos de 4 horas de debate entre a aprovação do pedido de urgência e a votação do projeto de lei. O projeto segue agora para apreciação pelo Senado.

O projeto flexibiliza ainda mais o uso de agrotóxicos no país e substitui o atual marco legal (Lei 7.802), vigente desde 1989. Violando diversos artigos da Constituição e acordos e tratados que o Brasil ratificou, o projeto prevê a liberação de agrotóxicos cancerígenos; maior poder ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), e desautorização da Anvisa e Ibama, abrindo espaço ainda para uma verdadeira indústria de Registros Temporários.

Na avaliação da Campanha Permanente Contra os agrotóxicos e Pela Vida, a aprovação do PL na Câmara marca um retrocesso histórico, diante do contexto de crise econômica e de crescimento da fome pelo qual o Brasil atravessa. Mais de 116,8 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, organizado pela Rede PENSSAN, assinala a articulação de entidades.

Para Alan Tygel, integrante da Campanha, a aprovação do Pacote do Veneno é “uma verdadeira derrota civilizatória”. “Num momento em que o mundo está buscando menos poluição, menor uso de recursos naturais, menos contaminação e emissões de produtos poluentes e tóxicos, o que fazemos aqui? O oposto: libera geral para os agrotóxicos. Vemos um grupo de supostos representantes da população decidindo algo completamente oposto ao verdadeiro desejo da sociedade. Além disso, vence o discurso de que vale tudo para produzir mais soja, enquanto o povo passa fome na fila do osso. Somos os campeões da soja e da fome. A quem interessa isso?”, questiona.

O PL aprovado na Câmara, acrescenta, ignora dezenas instituições científicas públicas, órgãos técnicos, entidades representantes do Sistema Público de Saúde, e de organizações da sociedade civil, que se manifestaram contra o PL 6299 por meio de notas públicas ao longo dos últimos dois anos. Entre elas estão a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Nacional do Câncer (INCA), Organização das Nações Unidas (ONU), Defensoria Pública da União, Ministério Público Federal e do Trabalho.

Karen Friedrich, pesquisadora da Fiocruz e membro GT Saúde e Ambiente da Abrasco, afirma que as modificações previstas no PL permitirão a liberação de agrotóxicos ainda mais danosos sejam autorizados no Brasil. “Agrotóxicos com maior risco de câncer, de problemas reprodutivos e hormonais e malformações em bebês terão mais facilidade para serem registrados. Os danos são imprevisíveis, para quem mora próximo das lavouras ou de indústrias fabricantes e principalmente para quem trabalha nesses locais”.

Seguiremos a luta no Senado, e por todos os meios possíveis para barrar este retrocesso. Não vamos desistir de construir um Brasil soberano, agroecológico, e livre de agrotóxicos e transgênicos”, garante o porta-voz da Campanha Contra os Agrotóxicos. A plataforma abaixo-assinado “Chega de Agrotóxicos” soma mais de 1,7 milhão de apoios, e segue aberta a adesões.

(*) Com informações da Agência Câmara e da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida


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