Geral
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25 de abril de 2024
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07:05

Acidente em caldeira da Braskem no Polo Petroquímico causa ferimentos graves em trabalhador

Por
Luciano Velleda
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A Braskem é uma das principais empresas sediadas no Polo Petroquímico de Triunfo. Foto: Divulgação/Braskem
A Braskem é uma das principais empresas sediadas no Polo Petroquímico de Triunfo. Foto: Divulgação/Braskem

Em um intervalo de poucos dias, dois acidentes foram registrados na Braskem Q2, no Polo Petroquímico de Triunfo. No último dia 14 de abril, um acidente com fogo aconteceu na parte externa de uma caldeira pertencente à Braskem. Um problema com um dos bicos injetores da caldeira, que funciona com a queima de óleo, acabou danificando alguns equipamentos e ocasionou um incêndio de média proporção na parte externa da caldeira. Menos de uma semana depois, no último sábado (20), outro acidente foi registrado e, de certa forma, em consequência do primeiro. O segundo, porém, causou graves lesões num trabalhador.

O acidente de sábado ocorreu na mesma caldeira do anterior e que está em manutenção desde então. A Braskem tem três grandes caldeiras no Polo Petroquímico de Triunfo: uma está em manutenção programada, outra foi avariada com o incêndio do dia 14 e somente a terceira estava em pleno funcionamento, mas ainda assim insuficiente para manter os níveis de produção dos produtos petroquímicos do Polo.

Para o Sindicato dos Trabalhadores do Polo Petroquímico de Triunfo RS (Sindipolo), a empresa está se preocupando somente em retomar a produção, sem os “devidos cuidados com a vida e saúde dos trabalhadores”. A entidade avalia que o incêndio do dia 14 de abril tem relação com a diminuição das equipes e sobrecarga de trabalho.

“A gente atribui parte desse incêndio em função das equipes extremamente reduzidas, foi se enxugando muito o número de trabalhadores. A gente hoje trabalha com o mínimo do mínimo, muitas vezes fazendo muitas horas extras e também jornada excessiva de trabalho”, avalia Ivonei Arnt, presidente do Sindipolo.

“Uma caldeira não dá conta, ou seja, tiveram que baixar a carga nas plantas, algumas pararam completamente, outras reduziram a carga. Então, desde que ocorreu o acidente do dia 14, estava ocorrendo uma pressão muito grande para restabelecer as condições de operação da caldeira em que ocorreu o acidente”, afirma, reclamando da cobrança de colocar o quanto antes em operação a caldeira acidentada.

Nesse processo, durante a realização do teste hidrostático, procedimento obrigatório após qualquer tipo de reparo, foi que aconteceu o segundo acidente. Para dar “celeridade” ao teste, Arnt conta que a Braskem usou um modelo de bomba que não é o indicado para o teste hidrostático. Foi então que o novo acidente aconteceu.

“Ocorre que, no início do teste, a bomba parou por um outro motivo, que é a falta de abastecimento de água, foi bloqueado o alinhamento que estava sendo feito e que é condição para fazer o teste. Com a falha no alinhamento, o trabalhador do Polo Petroquímico foi abrir a válvula que estava bloqueada e, então, o manômetro (aparelho que indica a pressão) explodiu e atingiu o rosto do funcionário”, explica o presidente do Sindipolo.

O trabalhador ficou gravemente ferido, passou por cirurgia, esteve por uns dias na UTI do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e segue internado, mas sem risco de morte.

O presidente do Sindipolo destaca que a entidade já vinha observando durante a semana passada que, após o acidente com fogo na caldeira, a empresa estendeu as jornadas de trabalho para recolocar o equipamento em operação, acelerando a manutenção do mesmo.

“Há casos de trabalhadores com jornadas de mais de 10 horas diárias, com pressão para colocar as caldeiras novamente em funcionamento, sendo um trabalho exaustivo físico e mental e, provavelmente, isso tenha contribuído para este novo grave acidente”, pontuou o dirigente.

Fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego/Ministério do Trabalho (SRTE-RS) fiscalizaram o Polo Petroquímico na segunda-feira (22) e, no dia seguinte, acompanharam o início da investigação do caso pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da Braskem. Ainda na segunda-feira, o órgão do Ministério do Trabalho expediu um auto de interdição de qualquer novo teste hidrostático na caldeira.

Agora, para poder realizar um novo teste hidrostático e, assim, retomar o funcionamento da caldeira, a Braskem precisa cumprir uma série de exigências técnicas estabelecidas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego.

“Existe uma pressão muito grande para que esse teste ocorra, só que para isso a empresa tem que apresentar um novo procedimento, um novo método com outro equipamento, tem que trocar aquela bomba, que agora está proibida de ser usada”, explica Ivonei Arnt. “É inaceitável que tristes situações como essa continuem ocorrendo dentro de uma planta petroquímica, um ambiente de trabalho de alto risco, onde a questão da segurança deveria ser absoluta prioridade, e não está sendo. Estamos acompanhando estes acidentes, apesar das dificuldades impostas pela empresa em relação às informações e buscaremos medidas para que a segurança dos trabalhadores no meio ambiente de trabalho, que podem refletir na comunidade, seja assegurada efetivamente”, acrescentou Arnt.

Em nota, a Braskem informou que o “distúrbio operacional” em uma de suas caldeiras situadas no Polo Petroquímico de Triunfo, no dia 14 de abril, foi provocado por um vazamento de óleo em um dos queimadores da caldeira. Segundo a empresa, as equipes atuaram prontamente para interromper a operação da caldeira, sem ter havido “riscos para as pessoas ou ambiente”.

Com relação ao acidente do último sábado (20), a Braskem explica que o episódio aconteceu durante a inspeção de equipamento em manutenção, quando então um integrante sofreu lesão “ocasionada pela projeção de uma peça”. A empresa destaca que o trabalhador foi imediatamente atendido e encaminhado ao hospital de referência. Seu quadro de saúde é estável. “No momento, estamos focados no atendimento do integrante e seus familiares. As causas do acidente estão sendo investigadas e os trabalhos de manutenção onde aconteceu o acidente foram paralisados”, informa a empresa.


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