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4 de março de 2024
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18:51

Liderança da ocupação Lanceiros Negros, Merong Kamakã é encontrado morto em MG

Por
Luís Gomes
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Merong foi uma das lideranças da ocupação Lanceiros Negros, em Porto Alegre  |  Foto: Maia Rubim/Sul21
Merong foi uma das lideranças da ocupação Lanceiros Negros, em Porto Alegre | Foto: Maia Rubim/Sul21

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) informou nesta segunda-feira (3) que o cacique Merong Kamakã Mongoió foi encontrado morto pela manhã em Brumadinho (MG). Liderança da retomada indígena Kamakã Mongoió, no Vale do Córrego de Areias, em Brumadinho, Merong era um militante em defesa dos direitos dos povos indígenas e teve ampla atuação no Rio Grande do Sul ao longo da década passada, em especial durante a ocupação por moradia Lanceiros Negros, no Centro de Porto Alegre.

Merong nasceu em Contagem (MG) e, na infância, foi morar na Bahia. O líder indígena pertencia ao povo Pataxó-hã-hã-hãe, situado no sul do estado nordestino, e à sexta geração da família Kamakã Mongoió.

Segundo informou a Polícia Militar de Minas Gerais ao jornal Estado de Minas, a causa da morte foi registrada como suicídio. No entanto, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) diz que parentes e amigos não acreditam nesta versão e suspeitam que ele foi assassinado.

“Nos últimos dias, ele planejava ampliar a área de sua retomada, e por ser uma área dominada por uma grade mineradora, ele corria muito risco de morte”, diz a Apib, em nota de pesar publicada nas redes sociais.

Um desses amigos, Frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, divulgou uma nota em que afirma não acreditar na hipótese de suicídio. “Conversei longamente em particular com o Cacique Merong dia 25/02/24, lá na Retomada Xukuru-Kariri em Brumadinho. Ele estava planejando ampliar as lutas e de cabeça erguida. Não foi suicídio, foi assassinato por perseguição”, disse o Frei.

A Apib informou que a Polícia Federal está se deslocando para a região da retomada para investigar o caso.

Merong foi um dos integrantes mais ativos da ocupação Lanceiros Negros, em Porto Alegre, entre 2015 e 2017, tendo participado de audiências públicas para tratar do tema. Ele concedeu diversas entrevistas ao Sul21 durante o período da ocupação.

 

Foto: Joana Berwanger/Sul21

Em uma delas, em 2016, contou que estava no RS há cerca de seis anos e que vivia com a esposa, de etnia guarani, no acampamento Guarani Mato Preto, próximo à cidade de Getúlio Vargas. Ele explicou que, como precisava vir com frequência a Porto Alegre para comercializar artesanato na Rua da Praia, acabou encontrando no espaço uma alternativa para não precisar dormir na rua.

“Eu vim com a família e me deparei com a situação de que não tinha onde ficar. Foi quando eu bati na porta dos Lanceiros Negros e fui acolhido, eu, minha família e mais uma parente da Bahia que estava conosco”, disse à época. “Sempre que eu vinha para Porto Alegre, eu dormia na rua ou dormia na rodoviária, porque eu não tinha onde ficar. Depois que existe a ocupação Lanceiros Negros, graças ao nosso Pai Tupã, eu consigo trabalhar com dignidade e não falta alimento na mesa para minha família”.

Posteriormente, Merong também atuou em diversas retomadas no Estado, como a Xokleng Konglui, de São Francisco de Paula, e a Guarani Mbya, de Maquiné, entre outras.


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