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6 de março de 2024
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11:12

Fechado por 10 anos, Teatro Túlio Piva será reaberto dia 19 de março em meio a polêmica

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Sul 21
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Espaço cultural recebeu melhorias na parte interna e externa. Foto: Divulgação / PMPA
Espaço cultural recebeu melhorias na parte interna e externa. Foto: Divulgação / PMPA

Um dos mais simbólicos espaços culturais de Porto Alegre, o Teatro de Câmara Túlio Piva, na Cidade Baixa, reabre as portas dia 19 de março. Os músicos Rodrigo Piva e Rogério Piva, netos do cantor e compositor gaúcho, farão um pocket show no local para celebrar a história do teatro, o legado do avô e o aniversário de Porto Alegre.

Inaugurado em 1970, o Teatro de Câmara Túlio Piva (rua da República, 564), fechado desde 2014 em razão de problemas estruturais, retorno à cena cultural agora revitalizado. A obra foi realizada pela Opinião Produtora, por meio de parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, como parte do contrato de concessão do teatro e do Auditório Araújo Vianna. O investimento foi de R$ 7,5 milhões. A empresa irá administrar as duas casas até junho de 2031, ainda que 50% das datas do teatro estarão sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC).

Ao mesmo tempo em que reinauguração do Túlio Piva é ansiosamente aguardada, os moldes do processo estão desagradando profundamente determinados segmentos artísticos da Capital. Isso porque o primeiro edital para ocupação do espaço, divulgado dia 21 de fevereiro pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, contemplou apenas a música e deixou de fora teatro, dança e artes cênicas na programação do primeiro semestre deste ano. A insatisfação é maior porque o Túlio Piva, em sua trajetória, se consolidou como um local de espetáculos teatrais.

“O Teatro de Câmara é um espaço historicamente plural para o teatro, a dança e o circo, portanto deve continuar sendo ocupado com esta mesma expressão abrangente. Uma parceria público/privada não pode subtrair dezenas de anos de arte e cultura voltados para as artes cênicas”, declarou, em nota, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Rio Grande do Sul (Sated/RS).

A entidade afirma que o edital “compromete a preservação desta pluralidade porque só contempla a música” e exige que o secretário de Cultura e o Prefeito de Porto Alegre “revisem os conceitos de ocupação deste que é um dos espaços mais antigos desta cidade”.

A reclamação do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Rio Grande do Sul (Sated/RS) é acompanhada por outras entidades, como a Associação Articula Dança RS, a Associação de Circo (Circosul) e a Associação Gaúcha de Dança RS (Asgadan).

A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, por sua vez, se manifestou sobre a polêmica e afirmou reconhecer “o caráter de pluralidade cultural do Teatro Túlio Piva” e garantiu que irá preservar o espaço cultural, “notabilizado por ser palco de espetáculos teatrais, para apresentações de dança, música, circo e outras manifestações das artes cênicas”.

“Ao destinar no edital de ocupação os primeiros três meses para a música, o objetivo da SMCEC foi o de homenagear o renomado músico e compositor que dá nome ao local. A intenção foi tão somente a de celebrar e valorizar a contribuição artística e cultural do músico, ao mesmo tempo em que reconhece a enorme relevância da diversidade de outras expressões artísticas”, afirma o órgão.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, já estão programadas apresentações de teatro e dança para os próximos meses de 2024, incluindo cinco datas para o Porto Verão Alegre e uma data dedicada à dança. “As demais datas do ano irão contemplar as artes cênicas”, assegura a pasta do governo municipal.

Estado do teatro em abril de 2022, pouco antes do início da restauração. Foto: Luiza Castro/Sul21

No novo projeto arquitetônico, o Teatro de Câmara Túlio Piva ganhou melhorias em seus espaços internos e externos. A capacidade do teatro é para 208 pessoas. O palco e os camarins foram ampliados e construído um novo foyer, além da instalação de um novo sistema de climatização, novos equipamentos de som, luz e de isolamento acústico.

“A retomada desse espaço tradicional marca um momento muito especial para Porto Alegre. O bairro Cidade Baixa passa a contar com um centro cultural com inúmeras possibilidades de shows e espetáculos”, disse Henry Ventura, secretário municipal de Cultura e Economia Criativa.

“Atento àquilo que há de mais moderno no segmento da cultura e do entretenimento, sem esquecer a história do teatro, estamos entregando um espaço permanente à disposição da população da Capital”, afirma Rodrigo Machado, sócio-diretor da Opinião Produtora.

Atualmente sob a responsabilidade da Opinião Produtora, a expectativa era de que o teatro tivesse sido reformado e reaberto em 2020. Em razão da pandemia, contudo, as obras não chegaram a começar. No começo de 2022, com a retomada dos eventos na cidade, Prefeitura e produtora firmaram um acordo e uma empreiteira contratada pela Opinião preparou o canteiro de obras no local.

A reforma do teatro Túlio Piva é uma das contrapartidas do contrato de concessão do espaço e do Auditório Araújo Vianna à Opinião Produtora assinado em novembro de 2019, ainda na gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Pelo contrato, a Opinião deveria pagar um valor de outorga de R$ 6,1 milhões — sendo 20% pagos na época da assinatura do contrato e o restante divididos em 120 meses. Com a chegada da pandemia, a Opinião solicitou a suspensão do contrato, com o interrompimento do pagamento das parcelas da outorga e das obras exigidas tanto no Araújo Vianna, como no Túlio Piva, até que pudesse voltar a usar os espaços.

Somente em março de 2022, o teatro foi formalmente entregue para a Opinião, que iniciou um trabalhou de limpeza de entulhos, remoção da cobertura vegetal e instalação do canteiro de obras, dando encaminhamento ao processo de licenciamento para remoção de uma parede e da vegetação que se acumulou com os anos de abandono.

Naquele momento, a perspectiva era a de reabrir o espaço até o final de 2022. A obra, no entanto, atrasou e o teatro está finalmente sendo devolvido à cidade somente agora – ainda que, inicialmente, de um modo que tem causado insatisfação em importantes setores artísticos da Capital.


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