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5 de agosto de 2023
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09:49

Levante Feminista lança site de monitoramento de feminicídios no Rio Grande do Sul

Por
Duda Romagna
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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

No Rio Grande do Sul, uma mulher é agredida a cada 22 minutos e em menos de quatro dias ocorre um feminicídio. No Estado, são emitidas, em média, 459 medidas protetivas por dia. Mesmo com esse enorme volume, apenas 20% das vítimas de feminicídio em 2022 tinham o amparo. Neste Agosto Lilás, mês em que a Lei Maria da Penha comemora 17 anos, a campanha Levante Feminista contra o Feminicídio, Transfeminicídio e Lesbocídio no Rio Grande do Sul lança um novo site de monitoramento da violência contra mulheres e um curso sobre a análise de dados como aliada no combate ao problema.

De acordo com Telia Negrão, cientista política e integrante da coordenação nacional da Campanha Levante Feminista, o lupafeminista.org.br é um espaço que facilita o acesso a informações que são buscadas nas fontes oficiais do Rio Grande do Sul, no caso o Observatório de Violência Contra a Mulher da Secretaria de Segurança Pública (SSP), que coleciona dados de cinco indicadores: feminicídio tentado, feminicídio consumado, lesões corporais, estupros e ameaças.

“Nós desagregamos apenas as informações sobre os feminicídios tentados e consumados e damos a dimensão do problema. Em primeiro lugar, traz para as pessoas que querem conhecer sobre a situação do feminicídio no Rio Grande do Sul uma ideia de magnitude do problema do Estado. A intenção é trazer para perto de quem quer fazer uma abordagem tanto de denúncia, quanto de política pública de prevenção, de atendimento, de segurança pública e de justiça, os dados que estão à mão e que podem facilitar a percepção do problema”, explica.

Ela diz que o trabalho não é apenas o de separar os dados, mas também envolve a busca além das estatísticas. “Também há aquilo que os números revelam, por exemplo, em que circunstâncias essas mulheres foram assassinadas, quem são os feminicidas, que tipo de arma foi utilizada”, relata.

Além disso, a Lupa também busca na imprensa e nas redes sociais outros detalhes sobre cada caso e de possíveis casos. “Nós vamos relacionando esses dados, juntamos informações que vão complementando uma espécie de perfil de cada caso. Mesmo um fato ainda não qualificado como feminicídio pela própria SSP, através da Polícia Civil, que faz o registro e qualifica o crime, olhando as evidências que são colocadas nas notícias nós podemos saber se o crime foi ou não feminicídio.”

“Além de apresentar dados, estatísticas, serviços, legislação, a Lupa tem como diferencial analisar os dados e apontar as inconsistências para aprimorar a busca de informações como forma de proteger a vida das mulheres”, resume a psicóloga Thais Pereira, coordenadora do Observatório.

O projeto nasce de outra experiência que já envolvia a coleta de informações sobre os crimes no Estado. Em 2020, a campanha recebeu o alerta de aumento de feminicídios por conta do isolamento social pandêmico e iniciou a busca por informações. Em novembro daquele ano, foi lançado um site parecido com o atual, mas simplificado, conta Telia. “Agora nós estamos com uma plataforma muito qualificada com dados que foram traduzidos numa linguagem digital de fácil acesso e manipulação.”

 

Iniciativa é do coletivo Levante Feminista. Foto: Divulgação

A Lupa apresenta um “feminiciômetro”, que atualiza instantaneamente os assassinatos por razões de gênero no Estado e no país, e um “violentômetro”, que mostra a gradação da violência até a morte. Até o final de julho foram 50 mulheres assassinadas no Rio Grande do Sul. Em 2022, foram 110 feminicídios e outras 262 tentativas. Segundo a jornalista Niara de Oliveira, autora do livro ‘Histórias de morte matada contadas feito morte morrida – a narrativa de feminicídios na imprensa brasileira”, e também coordenadora do Observatório, muitas dessas mortes ou tentativas foram divulgadas como feminicídios comuns ou de forma que culpabiliza as mulheres.

 

Entre os conteúdos oferecidos, a Lupa Feminista apresenta ainda a localização de todos os serviços de atendimento a mulheres por município desde Delegacias Especializadas, Centros de Referência, Juizados de Violência Doméstica, Sala das Margaridas, Núcleos e Defensorias Especializadas, entre outros. Disponibiliza, ainda, toda a legislação atualizada no Estado e no país que mais mata mulheres trans no planeta, além de dados de violência de gênero.

Um curso com três oficinas está sendo oferecido, em três módulos nos dias 12, 19, e 26 de agosto, sábados, a todas as interessadas abordando o monitoramento dos feminicídios como estratégia do ativismo para evitar a morte de mulheres. Entre as palestrantes convidadas estão a Secretária de Enfrentamento à Violência do Ministério das Mulheres, Denise Motta Dau, integrantes de quatro iniciativas de monitoramento nacionais e internacionais, além de especialistas integrantes do Levante Feminista Contra o Feminicídio.

As inscrições prévias online para o curso são gratuitas e será fornecido certificado de frequência.


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