Geral
|
9 de maio de 2023
|
19:49

PM é indiciado por envolvimento no caso de trabalho análogo à escravidão na serra gaúcha

Por
Sul 21
[email protected]
Em fevereiro de 2023, mais de 200 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão atuando na colheita da uva em Bento Gonçalves. Foto: Divulgação/PRF
Em fevereiro de 2023, mais de 200 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão atuando na colheita da uva em Bento Gonçalves. Foto: Divulgação/PRF

A Corregedoria-Geral da Brigada Militar decidiu indiciar o soldado Márcio Squarcieri, de 39 anos, que atua no 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas, de Bento Gonçalves, por envolvimento com o caso dos trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão em fevereiro.

Na ocasião, uma operação da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 207 trabalhadores que prestavam serviço para as vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi. Durante a ação, foi identificada a participação do policial militar no alojamento onde estavam os trabalhadores resgatados.

Ao concluir as investigações, o Inquérito Policial Militar (IPM), realizado pela BM, constatou ter havido a prática de crimes de natureza penal militar de tortura, ameaça, prevaricação, participação no crime de redução à condição análoga à de escravo, além do cometimento de transgressão disciplinar de natureza grave.

A BM informa que o policial militar foi afastado das suas funções e será submetido a um processo disciplinar que julgará a permanência ou não do soldado na corporação. Ainda segundo a BM, o indiciamento ocorreu após a “análise minuciosa dos depoimentos, documentos e imagens obtidas durante a investigação, em cooperação com a PF, a PRF e o MPT”.

O grupo formado por 207 pessoas trabalhava na safra de uva e era explorado por empregadores que prestavam serviços às vinícolas Aurora, Salton e Garibaldi. Eles foram resgatados após uma denúncia de um grupo de trabalhadores que fugiram de um alojamento, onde estariam sendo agredidos pelo empregador e sem receber salários.

Os membros da fiscalização de Caxias do Sul (RS) foram ao local para averiguar a situação, tendo encontrado o cenário descrito pelos trabalhadores, com cerca de 215 homens num alojamento, sem segurança, higiene e sofrendo ameaças, inclusive agressões com uso de choques elétricos e spray de pimenta.

Em março, as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) em que se comprometeram a pagar, ao todo, R$ 7 milhões de indenização por danos morais individuais e por danos morais coletivos devido ao caso dos 207 trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão no dia 22 de fevereiro, em Bento Gonçalves.

Por sua vez, a empresa contratante dos trabalhadores resgatados, Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, após haver quitado R$ 1,1 milhão em verbas rescisórias acordadas em um TAC emergencial elaborado no momento do resgate, recusou-se a firmar termo de ajuste de conduta. Desde então, o MPT está tomando medidas judiciais com relação à empresa – a primeira delas foi o pedido do bloqueio judicial de bens do proprietário Pedro Santana até o valor de R$ 3 milhões.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora