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28 de outubro de 2022
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11:10

Aos 79 anos, morre o histórico militante de esquerda Diógenes de Oliveira

Por
Sul 21
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Preso pela ditadura em 1969, Diógenes de Oliveira manteve atuação política até o fim da vida. Foto: Divulgação
Preso pela ditadura em 1969, Diógenes de Oliveira manteve atuação política até o fim da vida. Foto: Divulgação

Morreu nesta sexta-feira (28), no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, o histórico militante de esquerda Diógenes Carvalho de Oliveira, aos 79 anos. Uma broncopneumonia foi a causa da morte, consequência de uma neoplasia. Ele deixa dois filhos, Rodrigo e Guilherme.

Pelas redes sociais, algumas personalidades da política gaúcha manifestaram pesar pelo falecimento do colega.

“Faleceu Diógenes Oliveira: lutador honrado e incansável, bravo lutador contra os opressores, quadro político da esquerda brasileira e mundial. Descansa em paz, meu amigo”, declarou o ex-governador Tarso Genro.

Líder do MST, João Pedro Stédile disse que o movimento de agricultores perde um aliado. “Hoje, eu e o Movimento perdemos um grande camarada, o companheiro Diógenes de Oliveira. Nossa solidariedade aos amigos e familiares.”

Diógenes nasceu em 1942, em Júlio Castilhos, interior do Rio Grande do Sul, em um distrito chamado Cerrito. No local existiu uma redução jesuítica chamada Nossa Senhora da Natividade, onde indígenas tentavam resistir a escravatura dos bandeirantes paulistas.

Filho e neto de maragatos, ele aprendeu a ler soletrando o jornal Estado do Rio Grande, editado pelo Partido Libertador. Aos 17 anos foi para Porto Alegre, onde conheceu a poetiza Lila Ripoll e se engajou no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Em 1961, participou ativamente do Movimento da Legalidade, onde ajudou na distribuição de armas para o povo no histórico Prédio do Mata Borrão.

Sua primeira profissão foi como bancário no Sul Banco, onde se tornou um ativista do sindicato da categoria. Participou da greve de 1963 e representou a entidade num congresso de bancários em Salvador, na Bahia. Em 1964, passou no concurso para o Banco do Brasil e para a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), onde trabalhou como escriturário.

Na condição de eletricitário, participou como sindicalista da resistência ao golpe civil-militar de 1964. Perseguido, Diógenes foi para o exílio em Montevidéu, onde militou, dirigido por Leonel Brizola, no Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR). Suas principais tarefas eram entrar clandestino no Brasil para distribuir o jornal da organização chamado O Panfleto.

Em 1966, foi enviado por Brizola para Cuba para fazer treinamento militar de guerrilha. Participou de reuniões de criação da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), organização fundada pelo então senador Salvador Allende. Durante o treinamento em Sierra Maestra (Cuba), Diógenes escalou o Pico Turquino e conheceu Ernesto Che Guevara.

Com a morte de Che, Brizola abandonou a linha do foco guerrilheiro e Diógenes foi para São Paulo, onde junto com Onofre Pinto e outros militares e operários remanescentes do MNR fundou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Adotou o codinome Luís, também Leandro, e, após experiência no campo frustrada pela falta de recursos, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da luta armada urbana, com assaltos a bancos para angariar fundos para a revolução.

Na VPR, além de dar cursos sobre explosivos para estudantes que participavam da luta armada, participou de ações como comandante militar da organização, como a expropriação de armas do Hospital Militar do Cambuci, em 1968, substituindo o sentinela que havia sido rendido pelos guerrilheiros. Também participou, em 12 de outubro do mesmo ano. do grupo de execução do capitão do Exército dos Estados Unidos Charles Chandler, que ensinava técnicas de tortura às forças de repressão paulistas.

Comandou o grupo que assaltou a loja de armas Diana, a maior do ramo em São Paulo na época. Participou de treinamentos de tiro com o então capitão Carlos Lamarca, no quartel de Quitaúna, em São Paulo, sendo um dos responsáveis pela adesão do capitão à luta armada. Diógenes também comandou a ação contra o quartel-general do II Exército em 26 de junho de 1968, quando um caminhão carregado de explosivos foi lançado contra a entrada do quartel, matando o soldado Mário Kozel Filho e ferindo diversos militares.

Foi preso em São Paulo em 10 de fevereiro de 1969. Levado inicialmente para o quartel da Polícia do Exército na capital paulista, foi torturado barbaramente durante uma semana, pois sabia onde estava Lamarca. Nunca entregou ninguém. Foi então transferido para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), no centro da cidade, onde ficou preso durante alguns meses. Sua cela, hoje, faz parte do Museu da Resistência. Após o DOPS, continuou preso no Presídio Tiradentes, junto com Frei Beto, Frei Fernando e Frei Tito e vários outros presos políticos. Foi transferido para a penitenciária do Carandiru, onde ficou ficou numa solitária por seis meses. Do corredor da morte, foi chamado de volta ao DOPS, onde foi comunicado de que seria enviado para o México em troca do cônsul japonês de São Paulo que havia sido seqüestrado pela VPR.

Diógenes deixou a prisão no começo de 1970, pouco antes da Copa do Mundo do México, banido do País com mais quatro presos políticos em troca da libertação do cônsul do Japão. No exílio, com sua companheira, também banida, Dulce de Souza Maia, primeiramente para o México, Diógenes passou por Cuba, Coréia do Norte, Chile, Bélgica e Portugal, durante a Revolução dos Cravos, em 1974. Seu último refúgio como expatriado foi em Guiné-Bissau, ex-colônia portuguesa na África, onde residiu durante oito anos e foi responsável pelo primeiro recenseamento do País. Lá conheceu a portuguesa Marilinda Marques Fernandes, mãe de seus dois filhos Rodrigo e Guilherme.

Ao retornar ao Brasil, recomeçou sua vida sempre ligado na política. Trabalhou no mandato do vereador Valneri Antunes. Se engajou na construção do Partido dos Trabalhadores em Porto Alegre, onde chegou a ser candidato a vereador. Em 1990, foi secretário dos Transportes na Capital durante o governo de Olívio Dutra.

Em 2001, foi vítima de um processo político que visava atingir Olívio Dutra durante seu mandato como governador do Estado. Após ser acusado de diversos delitos, Diógenes foi absolvido em todas as instâncias jurídicas. Em 2014, lançou sua biografia Diógenes O Guerrilheiro.


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