Geral
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5 de setembro de 2022
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17:18

Grito dos Excluídos levará às ruas da Capital a ‘dor dos corações’ dos brasileiros

Por
Luciano Velleda
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Depois de não acontecer em 2020, caminhada do Grito dos Excluídos voltou às ruas de Porto Alegre em 2021. Foto: Luiza Castro/Sul21
Depois de não acontecer em 2020, caminhada do Grito dos Excluídos voltou às ruas de Porto Alegre em 2021. Foto: Luiza Castro/Sul21

No ano em que os 200 anos da Independência do Brasil serão comemorados tendo como “visitante ilustre” o coração de Dom Pedro I, recebido com honras de chefe de Estado, a 28ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas percorrerá as ruas de Porto Alegre levando o grito dos “corações dos brasileiros e brasileiras” que há quase 30 anos sofrem um conjunto de exclusão social que marcam a história do País. 

O ato ocorrerá na próxima quarta-feira, feriado de 7 de setembro, com roteiro concentrado no bairro Partenon. Neste ano, o lema dos Grito dos Excluídos e Excluídas é “Brasil, 200 anos de (in) dependência. Para quem?”.

“O grito dos brasileiros passa pela fome no meio rural e urbano, passa pelas dores dos corações daqueles que perderam seu emprego ou estão em trabalho precário, fruto da reforma trabalhista que prometeu mudar a realidade e só a agravou. É o grito das pessoas que estão morando nas ruas e das dores dos corações das famílias das vítimas da covid, que o presidente chamou de ‘gripezinha’ e desdenhou, e o grito da população negra”, explica Roseli Pereira Dias, representante da Cáritas no Rio Grande do Sul e uma das organizadoras do evento.

O ato na Capital reúne organizações da sociedade civil, representantes de movimentos sociais, pastorais sociais e comunidades. Neste ano, o Grito dos Excluídos pretende também chamar atenção para a luta contra o racismo e pelos direitos à saúde, à educação, à alimentação, à terra e à água. Segundo os organizadores, a razão de escolher o bairro Partenon e não uma área central da cidade tem como objetivo valorizar a luta desta comunidade situada na zona leste de Porto Alegre. Desde 2019, a proposta tem sido dar destaque às lutas das periferias. 

A concentração do ato começará às 9h, em frente à Igreja São José do Murialdo (Rua Vidal de Negreiros, 550). Dali os manifestantes farão o “grito pela saúde” em frente a Unidade Básica de Saúde (UBS) na Rua Santo Alfredo, depois haverá o “grito antirracista” diante do Carrefour, na avenida Bento Gonçalves – o local é onde aconteceu a morte de João Alberto Freitas, assassinado por seguranças do supermercado em novembro de 2020.

Após passar pelo Carrefour, a marcha fará o “grito pela água”, em frente ao DMAE, na Avenida Bento Gonçalves, e depois o “grito pela educação”, diante da entrada da PUC, também na Avenida Bento Gonçalves. Por fim, o ato encerrara com o “grito contra fome” e um ato inter-religioso na Praça Francisco Alves (Rua Juarez Távor). Haverá ainda distribuição de arroz orgânico produzido pelo MST.

Em sua 28ª edição, o Grito dos Excluídos e Excluídas já é uma marca das mobilizações realizadas por movimento sociais brasileiros. Essa história, avalia Roseli, em 2022 tem um contexto distinto em função do governo de Jair Bolsonaro (PL). 

“Os setores populares estão dizendo basta”, afirma a representante da Cáritas. Ela pondera ser complicado realizar a marcha em ano eleitoral por haver uma certa “mistura” dos assuntos. “O Grito acontece independente de eleições e não tem a ver com eleições, agora, no contexto atual, os movimentos sociais estão dizendo ‘basta’, não dá mais termos um governo que olha a população morrendo de covid e não faz nada ou faz pouco. Não dá pra continuar com um governo que vê a população morrendo de fome e só faz medidas eleitoreiras.” 

O Grito dos Excluídos e das Excluídas ocorre em todo o Brasil desde 1995. A ideia de surgiu durante a 2ª Semana Social Brasileira (1993/1994), a partir de uma reflexão sobre o Brasil, as alternativas possíveis e seus protagonistas. De acordo com os organizadores, mais do que uma articulação, o Grito é um processo, uma manifestação popular simbólica que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos e excluídas. 

Durante muitos anos, a caminhada foi realizada na sequência do desfile militar do dia 7 de setembro. Desde 2019, o comitê de organização do Grito na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) decidiu fazer o ato pelas cidades da região, sobretudo nas periferias, como uma forma de valorização das comunidades e suas lutas. Naquele ano, a marcha foi realizada em Canoas, junto às comemorações dos 40 anos de existência da Vila Santo Operário, que marcou a luta pelo direito à terra em território urbano. 

Em 2020, no cenário de pandemia que assolou o país, o Grito foi virtual, e em 2021, quando voltou a ser realizado presencialmente, voltou para Porto Alegre, sendo realizado embaixo do viaduto Dona Leopoldina.


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