Geral
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31 de agosto de 2022
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08:29

Mais de 700 pessoas participam de Congresso Popular de Educação na periferia de Porto Alegre

Evento foi organizado pelos voluntários dos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania (Foto: Silvia Marcuzzo)
Evento foi organizado pelos voluntários dos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania (Foto: Silvia Marcuzzo)

Silvia Marcuzzo (*)

Conversas, trocas, mas também dança, poesia, música, teatro e muita, muita interação. Assim foi o 1º Congresso Popular de Educação para a Cidadania que começou sexta-feira à noite, dia 26, e terminou domingo, dia 28 de agosto de 2022. O evento proporcionou a moradores das comunidades da Vila Planetário, Bom Jesus e Morro da Cruz e de outras partes da cidade exercitar a cultura cidadã com uma variada programação cultural e rodas de conversa. Foi um encontro para falas, escutas e vivências em diversos níveis. No evento, produzido totalmente de forma voluntária pelos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania, circularam cerca de 700 pessoas. Mais de 30 voluntários de diversas áreas de atuação tornaram o evento possível.

A iniciativa teve entre seus objetivos proporcionar espaços para uma construção colaborativa através da reflexão, elaboração de diagnósticos e propostas para a (trans)formação de cidadãos ativos e de uma sociedade mais inclusiva, criativa e sustentável. Foram realizadas 25 rodas de conversas com mais de 70 mediadores/relatores voluntários, apresentação de 18 grupos/artistas, como escolas de samba, rappers, poetas, grupos de dança e músicos de diversos estilos musicais.

 Rodas de conversa

Foto: Silvia Marcuzzo

Os temas das rodas de conversas foram: educação social – discriminação racial e de gênero, classe e de religião; inclusão social e realidade de periferias; educação ambiental – logística reversa, cidade limpa e sustentável; e empreendedorismo e mercado de trabalho. Em cada roda com a participação de cerca de 20 pessoas de várias idades e classes sociais, crianças pequenas até senhoras de mais de 70 anos, quilombolas, profissionais liberais e empresários.  A proposta era escutar com atenção o que cada um colocava a partir da provocação de mediadores. As perguntas feitas foram sobre que Porto Alegre temos com relação a cada um dos temas; que Porto Alegre queremos e o que pode ser feito por cada um para termos a cidade que sonhamos.

Cada roda dispunha de, pelo menos, um mediador e um relator. Os participantes receberam uma cadernetinha, chamada de passaporte, onde ao final de cada roda, era carimbada a sua participação. Na pequena publicação constaram conceitos básicos, como por exemplo, o que é cidadania, seus direitos e deveres. O conteúdo gerado será compilado e analisado também por voluntários para elaboração de um documento que será compartilhado e apresentado nas comunidades envolvidas e encaminhado ao poder público da Capital.

Em todos os dias, a organização preparou alimentação e lanches. Foram servidas aproximadamente 500 refeições no final de semana, além de caldo de feijão na Casa D (Vila Planetário), na sexta-feira, dia 26. Tudo feito por voluntários das organizações Misturaí e Espalhe Amor. As atividades foram na Escola Municipal Mariano Beck e no Centro de Educação Ambiental (CEA), na Bom Jesus e na Escola Municipal Morro da Cruz.

Programação cultural

O evento contou com distintos momentos de integração entre os participantes. Na sexta, o encontro foi mais cultural com a apresentação dos alunos de ballet e de violão das oficinas da ONG Misturaí, leitura de poemas do livro Mel e Dendê, de Fátima Farias, do rapper Gangster, do músico Stevan Zanirat, do grupo Samba do Irajá e do bloco Areal da Baronesa. No sábado e no domingo, o evento contou com uma pequena feira com produtos de empreendedores locais. No sábado, com a presença de centenas de alunos da escola Mariano Becker, foram realizadas dramatizações, apresentações do MC Delgado, da Família Resistente, do Pantera, batalha de conhecimento, típico da cultura hip hop, performance da Escola de Samba Copacabana e do Revolução RS. Já no domingo, a temperatura baixou mais de 20 graus em relação ao dia anterior, mas não impediu a empolgação do grupo Quilombo do Morro, do grupo de danças Gurizada Campeira do CTG Pasqualeto e das apresentações do MC Wago, da Negra Jaque, do Dih Gonçalves e da Escola de Samba Filhos da Candinha.

Também chamaram a atenção do público no final de semana as duas exposições de fotografias. O jovem fotógrafo Jader Pxoto exibiu um trabalho primoroso feito com as lentes de seu celular. Intitulada “Lançeiros Negros”, a mostra trouxe imagens de homens negros que talvez fossem os protagonistas hoje, se acontecesse a Guerra dos Farrapos. Cada um dos fotografados foi captado em seu contexto, evidenciando as armas que utilizariam, caso a batalha se repetisse.

A outra exposição “Nossa Negritude, Distintos Olhares”, que já havia sido exposta na Câmara Municipal de Porto Alegre, em homenagem ao vereador Tarciso Flecha Negra, apresentou 16 fotografias que retratam a riqueza da cultura negra porto-alegrense. Os autores das imagens são Fábio Cruz, Jucimara Costa, Luís Pedro Fraga e Nilveo Pereira Chistiano. A iniciativa de levar a mostra foi da ONG Sociedade União dos Eucaliptos (Suve).

Em todos os dias, tanto organizadores quanto participantes, trocaram ideias, fizeram amizades e dançaram juntos evidenciando o quanto é fundamental furar bolhas para a capital gaúcha ter uma melhor qualidade de vida para todos. O Congresso foi um evento que conectou mundos, histórias e evidenciou o potencial criativo da capital gaúcha, que só tem a ganhar quando a sociedade se une em favor do bem comum. Depois do evento, a ideia é seguir aproximando a periferia das zonas centrais, formando redes e intercâmbios de conhecimento tendo a cultura cidadã cada vez mais fortalecida em Porto Alegre.

(*) Jornalista, facilitadora de grupos


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