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24 de julho de 2022
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09:16

Permissionários preparam retorno ao 2º andar do Mercado Público: ‘2 meses que viraram 9 anos’

Por
Luís Gomes
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Primeiras lojas devem reabrir no segundo piso do Mercado | Foto: Luiza Castro/Sul21
Primeiras lojas devem reabrir no segundo piso do Mercado | Foto: Luiza Castro/Sul21

Eram 20h30 de sábado, 6 de julho de 2013, quando um incêndio começou a atingir o segundo andar do Mercado Público. Nove anos e muitos adiamentos de prazos depois, 10 permissionários estão finalmente próximos de retornarem para os espaços fechados pela tragédia.

Uma das primeiras lojas a abrir será a da Associação de Artesãos Porto Alegre Solidária (ASPOSOL), que vende produtos de 38 artesões e artesãs associados. A associação operou no segundo andar do Mercado entre 2003 e o dia fatídico do incêndio. Cerca de um ano após a tragédia, conseguiram permissão para vender os produtos em um espaço próximo à escada rolante do Mercado, permanecendo até 2021, quando voltaram a fechar em razão das obras de acessibilidade que acontecem desde o final do ano passado.

“Quando pegou fogo, disseram para nós: ‘daqui a dois meses abre’. Esses dois meses viraram nove anos”, diz Sueli Zander Lopes, uma das coordenadoras colegiadas da associação.

 

Em 6 de julho de 2013, um incêndio atingiu o segundo piso do Mercado Público. Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Sueli pontua que os 38 membros enfrentaram grandes dificuldades para reabrir a loja, a começar pelo Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI),  que ficou sob responsabilidade dos permissionários e, no caso da associação, custou R$ 12 mil. “O dinheiro que a gente tinha guardado no banco”, diz.

Agora, contudo, a loja está pronta para abrir e, até quinta-feira (28), os produtos dos artesãos já devem retornar às prateleiras. A partir disso, a abertura passa a depender apenas da liberação pela Prefeitura das obras na rede elétrica e de acessibilidade do Mercado, o que inclui elevadores e a escada rolante. A intenção é que a abertura oficial ocorra no próximo dia 30.

“A essência nunca saiu de dentro da sala, apesar de o tempo que a gente ficou afastado. Está difícil até de dormir”, diz Cybelle Goulart da Rocha, também coordenadora colegiada da entidade.

 

Sueli e Cybelle preparam reabertura de loja da associação dos artesãos | Foto: Luiza Castro/Sul21

Presidente da Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc), Adriana Kauer explica que seis permissionários já estão encaminhados para reabrir nas próximas semanas. Além dos artesãos, este grupo inclui o Bar Chopp 26, os restaurantes Mamma Julia, Sayuri, Taberna 32 e a sorveteria Beijo Frio. “O mais avançado é o Bar Chopp. Esse, se quisesse, poderia abrir hoje”, comenta.

A presidente da associação diz que os permissionários passaram por “muitos percalços” nos nove anos que aguardaram pela reabertura do segundo andar do Mercado Público, como tentativa de concessão da gestão para a iniciativa privada, durante o governo de Nelson Marchezan Júnior (PSDB), e a própria pandemia de covid-19. “Foram tempos de muita ansiedade e de uma procura de um novo fim do túnel. Claro que teve um efeito colateral que foi a união dos mercadeiros para a gente buscar alternativas para ver o mercado aberto a pleno”, diz.

Segundo a Prefeitura, ao todo são 10 os antigos permissionários que iniciaram a ocupação do segundo piso. Outras dez lojas, que atualmente estão fechadas e suas portas estão marcadas com os dizeres “alugar”, serão licitadas posteriormente. A ideia é que o andar abrigue, no futuro, armazéns de especialidades, secos e molhados; fiambrerias; leiterias; padarias; restaurantes; confeitarias; venda de frutas; sorveterias; cafés e bares; miudezas e utensílios necessários à guarda, embrulho e transporte de mercadorias pelos consumidores, bem como objetos curiosos e folclóricos de interesse ou para recordação dos turistas e visitantes.

 

Algumas lojas estão praticamente prontas para a reabertura | Foto: Luiza Castro/Sul21

De acordo com o Paço Municipal, a reforma da elétrica, a troca dos elevadores e das escadas rolantes do Mercado Público, que devem ser concluídas nos próximos dias, custaram cerca de R$ 9,4 milhões. Estes recursos são oriundos de um acordo firmado com a Multiplan, para que a empresa destinasse recursos de contrapartida de um empreendimento na cidade para viabilizar a reabertura do segundo andar.

Paralelamente, o Mercado recebeu no início do ano a instalação de novos deques no Largo Glênio Peres, custeados pelos permissionários, e uma nova iluminação nas áreas comuns. Ainda estão ocorrendo a pintura e restauração da fachada — que ocorrem em etapas — e outras obras internas. A previsão é de que a reforma seja concluída inteiramente até o final do ano.

“O Mercado está sendo supervalorizado como patrimônio do porto-alegrense e é isso que a gente sempre defendeu, porque o Mercado é o espelho de Porto Alegre, é um espaço extremamente democrático da cidade. Então, quando a gente cuida do Mercado, a gente cuida da cidade”, avalia Adriana.

Contudo, ela ressalva que, para a associação, a reforma só estará completa quando o último dos permissionários reabrir a sua loja. “Mas, a cada abertura a gente comemora, agora estamos contabilizando as vitórias”.

 

Comerciantes preparam-se para a reinauguração do segundo andar do Mercado Público de Porto Alegre após 9 anos fechado | Foto: Luiza Castro/Sul21

Proprietário do restaurante Sayuri, Francisco Assis dos Santos Nunes conta que o seu estabelecimento é um dos que permanecem ocupando o quadrante delegado para os permissionários do segmento alimentício atingidos pelo incêndio.

Francisco diz que as instalações internas da nova loja no segundo piso, que fica no mesmo lugar da antiga, totalmente destruída em julho de 2013, devem ser concluídas até o final do mês de julho, uma vez que falta apenas a chegada de móveis e detalhes finais. Contudo, a reinauguração ainda leva um tempo para ocorrer.

“O Mercado recebe a entrega da obras agora, mas tem umas coisinhas que não fazem parte da elétrica. Nós temos que estar com essas coisas ajeitadas para poder subir direito. A previsão certa da gente subir é meio de agosto, talvez início de setembro”, diz. “A gente está ansioso para subir, mas pelo menos estamos trabalhando. Num tamanho bem menor, menos qualificado, sem glamour, mas o cliente que é fiel está vindo.”

 

Associação já prepara artesanatos para a reabertura da loja | Foto: Luiza Castro/Sul21

Cybelle, da associação dos artesãos, avalia que, uma vez abertos, os estabelecimentos do segundo andar devem rapidamente recuperar o público perdido. Para justificar a expectativa, ela mostra o livro de turistas que a associação mantinha desde antes do incêndio, repleto de assinaturas de clientes de diversas partes do mundo.

“Se vocês passearem por aqui, vão ver que o mundo passa pela loja. Apesar do quadro socioeconômico do País, as pessoas continuam visitando Porto Alegre. Porto Alegre é uma cidade que sedia muitos encontros, seminários, fóruns, tem muita rotatividade nesse sentido, então acho que vai retomar rapidamente”.

Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21
Foto: Luiza Castro/Sul21

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