Geral
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27 de setembro de 2021
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14:27

Manifestantes acusam vereadora de agredir estudante durante ato em Porto Alegre

Por
Annie Castro
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Suposta agressão teria atingido o rosto do estudante secundarista Matheus e o cartaz que ele segurava. Foto: Reprodução/Facebook
Suposta agressão teria atingido o rosto do estudante secundarista Matheus e o cartaz que ele segurava. Foto: Reprodução/Facebook

Integrantes de movimentos sociais e sindicais de Porto Alegre denunciam que a vereadora Nádia Gerhard (DEM), conhecida como comandante Nádia, teria agredido fisicamente um estudante secundarista durante um ato dos municipários no Parque da Redenção, neste domingo (26), promovido pelo Simpa – Sindicato dos Municipários de Porto Alegre para denunciar as perdas salariais da categoria e políticas públicas da gestão de Sebastião Melo (MDB) prejudiciais ao funcionalismo municipal. 

Além de integrantes do Simpa, também estavam no ato outros movimentos sociais da Capital, que protestavam contra projetos do governo Melo, como a retirada da meia passagem de ônibus para estudantes e professores, por exemplo. Segundo Tamyres Filgueira, coordenadora geral da Assufrgs Sindicato, a agressão teria ocorrido quando ela, junto com outros manifestantes, se colocou em frente ao palco onde o prefeito Melo iria discursar – no local, estava ocorrendo o evento de lançamento da programação do 250º aniversário da Capital.

“Estávamos entre umas 40 pessoas, contando com o povo do Simpa e, quando a gente percebeu que o Melo ia falar, que ele subiu no palco, a gente foi para a frente com os nossos cartazes para fazer nosso protesto pacífico. Foi quando começou a chegar a base aliada do Melo, então, tinha vários vereadores, entre eles a Nádia. Uma mulher, apoiadora da vereadora, que estava com a máscara com dizeres da comandante Nádia, chegou em mim e começou a nos xingar, a nos intimidar, falando “saiam daqui, aqui não é o espaço de vocês, abaixem os cartazes”, disse Tamyres ao Sul21.

De acordo com Tamyres, o conflito entre as duas antecedeu o momento em que a vereadora teria agredido o estudante secundarista Matheus Vicente. “Eu comecei a explicar pra essa mulher apoiadora da comandante Nádia que era um protesto pacífico, que estávamos ali porque o Melo quer tirar o meio passe dos estudantes e isso irá prejudicar principalmente estudantes da periferia e que isso vai ser um empecilho para muitos estudantes terem acesso à educação pública”, conta. “Neste momento, ela [apoiadora da vereadora] começou a se alterar e baixou a máscara pra falar com mais intensidade sobre o ponto de vista dela. Nisso, eu comecei a falar para ela coloca a máscara, e ela começou a ter uma postura mais agressiva”, relata Tamyres.

 

Foto mostra o momento em que apoiadora da comandante Nádia (direita) está sem a máscara de proteção durante conflito com Tamyres. Ao fundo das duas, aparece o estudante secundarista Matheus. Foto: Divulgação

Conforme o estudante secundarista Vicente relatou ao Sul21, foi neste momento que a vereadora teria se movimentado em direção às duas mulheres, indo de uma forma mais agressiva para cima de Tamyres. “Quando eu vi a Nádia se dirigindo à Tamyres, me coloquei entre as duas porque notei que a vereadora iria agredir ela. A comandante deu um tapa, que atingiu meu rosto e rasgou o meu cartaz. Não foi com a palma da mão que ela me deu um tapão, foi com o lado da mão, e conseguiu pegar no cartaz e também no meu rosto. Foi muito rápido, mas todos que estavam ali viram”, afirma Vicente, que também é militante do Ocupe Juventude Socialista.

Ainda no domingo (27), o estudante registrou um boletim de ocorrência (B.O.) denunciando o caso. “A gente vê cada vez mais agressões, o ódio sendo transmitido. Nós estávamos ali lutando, nos manifestando em defesa do meio passe que garante o acesso à educação para muitos estudantes. Eu poderia ter ido lá me manifestar e depois ter ido pra casa, ficar com minha família, mas parece que o Melo, a Nádia e esses outros políticos não querem que os estudantes tenham um dia de descanso. É uma barbaridade o que ocorreu. É bem complicada a situação que a gente tá passando”, disse Vicente.

Tamyres reforça que os integrantes dos movimentos sociais e sindicais querem que ocorra a responsabilização da vereadora pela suposta agressão. “Esperamos que essa vereadora que se diz uma comandante seja responsabilizada por tudo que ela fez. Queremos justiça nesse sentido porque protestar não é crime. Queremos defender o que é nosso direito e não ser ameaçado, não ser violentado por conta das nossas decisões políticas”, afirma. 

“Nós achamos um absurdo que uma vereadora tenha essa postura violenta. A gente não compactua com essa postura, ainda mais no momento que estamos vivendo, de uma polarização ideológica no país, onde estamos caminhando para um período muito difícil na sociedade”, complementa Tamyres.

Durante a sessão plenária da Câmara de Vereadores desta segunda-feira (27), a vereadora Nádia negou a versão dos integrantes dos movimentos sociais e sindicais e disse se tratar de “uma versão totalmente esdruxula, mentirosa”.

“[Eu estava] pedindo para o pessoal ‘vamos manifestar ao lado, que é muito mais educado’. Tive o desprazer, por certo por ser mulher, porque se não fosse mulher, eles não fariam isso com um homem, de um menino, que se diz estudante, pega o cartaz e enfiar no meu rosto. Eu tenho certeza que os vereadores mais antigos dessa casa não coadunam com essa atitude de vandalismo, de anarquia, de desrespeito e má educação. Eu como policial militar estou acostumada com conflito e discussão. Aí, ele faz um lalala, uma historinha, e fizeram boletim de ocorrência contra a vereadora Nádia, que atingiu, que bateu no coitado do estudante, com uma versão totalmente esdruxula, mentirosa, mas o bom é que calúnia é crime”, disse a vereadora.

Em sua fala, a vereadora também afirmou que é a favor de que as pessoas se manifestem. “Sou a favor das pessoas gritarem na rua, levarem seus cartazes e exigirem respeito, com educação. Porto Alegre tem lugar pra diversidade, pro diferente, pra todo mundo, mas não tem lugar pra bagunça, vandalismo, desrespeito e falta de educação”.

*Esta reportagem foi atualizada no dia 28/09 para incluir a fala da vereadora Nádia sobre a acusação. Inicialmente, havíamos publicado estre trecho: Procurada pela reportagem, a assessoria da vereadora Nádia afirmou que ela está “com a agenda lotada”, mas que “certamente irá se manifestar sobre o ocorrido na tribuna”.


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