Geral
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11 de abril de 2016
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15:18

Proprietários da casa do antigo Dopinha estão construindo piscina no local

Por
Luís Gomes
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Imagem mostra alterações feitas no prédio do antigo Dopinha | Foto: Divulgação/Comitê Carlos de Ré da Verdade e Justiça
Imagem mostra alterações feitas no prédio do antigo Dopinha | Foto: Divulgação/Comitê Carlos de Ré da Verdade e Justiça

Representantes do Comitê Carlos de Ré da Verdade e Justiça denunciam que os proprietários do prédio que abrigou o antigo Dopinha, centro que foi utilizado para tortura durante a Ditadura Militar, está passando por reformas que incluem a instalação de uma piscina nos fundos do terreno. A reforma foi flagrada em uma fotografia aérea tirada do local. Ainda que seja um imóvel de propriedade privada, por se tratar de um prédio de interesse histórico do município de Porto Alegre, qualquer alteração precisa ser aprovada pela Prefeitura, o que sequer foi solicitado.

De acordo com Raul Ellwanger, do Comitê Carlos de Ré, suspeita-se que um anexo inteiro do prédio já tenha sido demolido. No local, se encontraria um túnel pelo qual sequestrados políticos eram transportados. “Era o lugar mais importante. A norma geral é não mexer nessas coisas”, diz Ellwanger.

Por se tratar de um prédio de interesse público, qualquer alteração física no imóvel ou de propriedade tem que passar por avaliação da Prefeitura. “Não pode mexer. Cada vez que for mexer tem que ter autorização”, diz Ellwanger.

Segundo Débora da Costa, diretora da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) de Porto Alegre, após receber denúncias de que alterações estariam sendo feitas no prédio, a entidade designou representantes para visitar o local para vistoria. Em decorrência das últimas denúncias, um arquiteto do Epahc visitou o local na tarde de sexta-feira (8), mas encontrou o prédio fechado e não conseguiu acesso para verificar se mudanças foram realizadas.

Alugado clandestinamente pelo Exército em 1964, o local é considerado o primeiro centro de tortura construído para essa finalidade. O casarão operou até meados de 1966. Um dos torturados e mortos no casarão foi o sargento Manoel Raimundo Soares, que, depois de morto, teve seu corpo atirado no Rio Jacuí. Apesar de ter as mãos amarradas, o laudo emitido pelas autoridades da época apontava que a causa da morte era suicídio. O episódio ficou conhecido como Caso das Mãos Amarradas.

O casarão, localizado no Bairro Floresta, foi publicamente identificado como centro de tortura em junho de 2011. Em 2014, os proprietários do casarão desistiram de vender o local à iniciativa privada após reuniões com integrantes do Comitê Carlos De Ré. Sensíveis à causa, eles concordaram em vender o local ao poder público e disponibilizá-lo para a concretização do Memorial Ico Lisbôa. No entanto, com a troca de comando no governo do Estado, o processo está parado desde o início da gestão de José Ivo Sartori.

Segundo Ellwanger, que mantém contato com os proprietários do prédio, a família ainda teria interesse em vender o imóvel para o poder público, mas ainda não se saberia os motivos pelos quais a reforma começou a ser realizada sem que a Prefeitura fosse informada. Ele afirma que as comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores solicitaram que o Comitê Carlos de Ré averiguasse como está a situação do prédio. “A comissão de direitos humanos da AL pediu para irmos ao local, porém, como a pessoa da família que cuida disso foi operada no RJ, não pôde ser feito. Mas está determinada uma visita. A família tem sido muito solidária”, diz.

 

Leia mais: Comitê Carlos de Ré denuncia à AL reforma no prédio do Dopinha


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