Educação
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9 de fevereiro de 2022
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16:05

Comunidade repudia proposta do Estado para o IE, que reduz espaço da escola

Por
Luís Gomes
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Coletiva de Imprensa na sede provisória do Instituto de Educação | Foto: Luiza Castro/Sul21
Coletiva de Imprensa na sede provisória do Instituto de Educação | Foto: Luiza Castro/Sul21

Representantes da direção, da comunidade escolar e da comissão de acompanhamento do restauro do Instituto de Educação General Flores da Cunha, o IE, concederam na manhã desta quarta-feira (9) uma entrevista coletiva para se posicionar contra a proposta do governador Eduardo Leite (PSDB) para o prédio da instituição. Após três anos de obras paralisadas, o governo do Estado autorizou em janeiro a retomada do restauro do IE, com planos de que o lugar abrigue o Centro de Desenvolvimento dos Profissionais da Educação, do Centro Gaúcho de Educação Mediada por Tecnologias (Cegemtec) e o Museu da Escola do Amanhã, dois projetos não relacionados à escola.

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A reforma no IE foi licitada em 2014 e iniciada em 2016, mas os trabalhos foram interrompidos em setembro de 2019, por falta de pagamento do governo do Estado à empresa Concrejato — que assumiu a obra após a Portonovo, vencedora da licitação para a reforma, ter o contrato suspenso por não cumprimento do cronograma previsto. Em maio de 2021, o governo Leite anunciou o novo projeto para o IE, que não seria mais a concretização daquele licitado, mas outro envolvendo o Museu do Amanhã e o centro de desenvolvimento de professores. Em outubro, quando anunciou oficialmente o seu projeto para o IE, Leite previu um aporte do Estado de R$ 23,4 milhões para a conclusão da reforma do prédio e outros R$ 35,9 milhões para a implementação do museu e do centro de formação.

Por sua vez, a comunidade escolar vem se mobilizando para que o restauro seja concluído conforme a licitação de 2014 e para que possa retornar ao prédio em sua integralidade. Desde 2016, os alunos do Instituto de Educação (hoje 1.086 matriculados) foram divididos em quatro escolas diferentes da Capital.

Na abertura da coletiva, a diretora da escola, Alessandra Lemes, frisou que a comunidade escolar ficou feliz com a retomada das obras e com a possibilidade de retorno ao prédio da instituição em 15 meses — prazo atual dado pelo governo Leite para a conclusão dos trabalhos –, mas criticou o fato de que o governo retomou o restauro apenas no último ano de sua gestão e desconsiderando o que fora pensado, licitado e contratado anteriormente. “Desejamos retornar ao nosso prédio em sua integralidade como escola pública e de qualidade, ocupando os espaços que foram planejados para a escola”, afirmou.

Diretora Alessandra Lemes questiona falta de informações por parte do governo | Foto: Luiza Castro/Sul21

Ela destacou que a comunidade escolar não se opõe à proposta do museu e do centro de formação, mas avalia que esses projetos não deveriam ser realizados no prédio do IE e apontou que ainda não está claro o espaço que será destinado à escola após o restauro. “Nós, enquanto escola, jamais iríamos nos opor à construção de um projeto inovador, de tecnologia. Mas a gente não conhece esse projeto, só temos informação da mídia. O projeto que conhecemos e estamos reafirmando é o projeto licitado”, diz a diretora.

A justificativa dela para isso é a de que a escola, antes da reforma, sempre teve mais de 2 mil alunos, chegando a ter 2,2 mil em 2012, e que a divisão do espaço com os demais projetos impediria a recuperação das matrículas perdidas. “É isso que queremos retomar. É possível ter, no mínimo, 2 mil alunos”, diz.

Alessandra reconhece que a redução para os atuais 1.086 alunos matriculados também é resultado de mudanças demográficas da população do Rio Grande do Sul e dos impactos da pandemia, mas pondera que, após a conclusão do restauro, a escola poderia voltar a ser uma referência não só para Porto Alegre como para a Região Metropolitana, atraindo assim mais alunos. “Com a estrutura física adequada e recursos, poderíamos ampliar esse número de alunos em um prédio restaurado e modernizado”, defendeu.

Maria da Graça Moralles, membro da Comissão de Restauro do Instituto de Educação, destaca que o plano do governo do Estado é destinar 2 mil metros quadrados do IE para a o Museu da Escola do Amanhã e outros 2 mil metros quadrados para o Cegemtec, de um total de 12 mil metros quadrados de área total da escola.

Contudo, ela diz que o único espaço que poderia receber estas instalações seria o bloco principal, que tem 6 mil metros quadrados de área construída, uma vez que as demais áreas são destinadas ao ginásio de esportes e à educação infantil, que possui salas de aula específicas. Com isso, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio, o curso Normal e o EJA perderiam dois terços do espaço que ocupavam antes e que deveriam ocupar segundo o projeto original de restauro. Além disso, os 2 mil metros quadrados que sobrariam para a escola em si, ainda incluiriam banheiros, auditórios, corredores, saguão e outras instalações. Por outro lado, o projeto licitado em 2014 previa a ocupação de 4 mil metros quadrados de área útil, incluindo laboratórios, salas de aula, serviços educacional e pedagógico, administração da escola.

“Essa ocupação de espaço proposta pelo governo retira praticamente todo o espaço da escola”, diz. “Essa comunidade e essa comissão têm o compromisso que as pessoas não percam o espaço”.

Maria da Graça Moralles questiona o espaço que sobrará para a escola na proposta do governo Leite | Foto: Luiza Castro/Sul21

Ela também destacou que a comissão de restauro, que inclui membros da direção e pais de alunos, iniciou seus trabalhos em 2011, com o objetivo de defender a necessidade de recuperação da estrutura do prédio. Maria da Graça pontuou também que o projeto aprovado em 2014 foi elaborado com a escuta das demandas de todos os setores da escola e que já pensava a modernização e qualificação do IE.

“Isso é uma conquista nossa que vem de anos. Nós queremos, sim, a retomada da obra, mas dentro do projeto contratado que foi desenhado aqui. Não queremos no espaço algo que não seja destinado para os estudantes”, afirma Maria da Graça.

Presidente do Conselho Escolar do IE, Ceniriani Vargas destacou ainda que, desde 2019, o órgão vinha mantendo reuniões com a Secretaria de Educação para garantir a retomada das obras e que, a partir de 2021, quando a atual secretária Raquel Teixeira assumiu o comando da pasta, o governo do Estado mudou o foco para o novo projeto e resolveu retomar a obra.

“Ela não sabia que existia um Instituto de Educação e que estávamos aguardando todos esses anos a retomada das obras, ocupando espaços inadequados”, argumenta, acrescentando ainda que a comunidade tentou explicar a importância da manutenção do prédio dedicado ao IE, mas não foi ouvida pelo governo. “Nossa escola não foi convidada, não esteve presente”,

Ceniriani também expressou preocupação com o fato de que a gestão dos novos espaços não será feita pela direção da escola, com o Museu da Escola do Amanhã tendo gestão da entidade privada Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). “Nós enxergamos, sim, um processo de privatização de um espaço público, de uma escola pública. O prédio foi construído para ser escola e o processo de restauro foi idealizado para ser escola”, diz. “O IE serve de exemplo como esse governo olha para a educação, com o fechamento de vagas”.

Ceniariani Vargas diz que planos do governo mudaram a partir de 2021 | Foto: Luiza Castro/Sul21

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