Cultura
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14 de outubro de 2023
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10:02

Com aposta na democratização do cinema brasileiro, CineBancários completa 15 anos 

Por
Duda Romagna
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Espaço é mantido pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região. Foto: Luiza Castro/Sul21
Espaço é mantido pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região. Foto: Luiza Castro/Sul21

Neste sábado (14), o CineBancários, já tradicional cinema de rua de Porto Alegre, completa 15 anos de existência. A iniciativa é completamente sustentada pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) e, atualmente, tem seu foco no cinema brasileiro, com algumas exibições de filmes latinos, e aposta em ingressos a preços convidativos, de R$ 6 e R$ 12, para garantir o acesso à cultura. Para marcar a data, na terça-feira (10), a Casa dos Bancários recebeu convidados para a pré-estreia de “Meu Nome é Gal”.

Mauro Salles, ex-presidente do SindBancários e um dos responsáveis pela ideia do cinema dentro da entidade, relata que a iniciativa se construiu em uma busca por diálogo com a cidade, para além da categoria. “O sindicato não é só luta por direitos e conquistas para os bancários, é isso, principalmente, mas também sempre defendemos a ideia de fazer o diálogo com a cidade e as pessoas”, comenta.

Na época, Petrobras e Banrisul foram os parceiros no patrocínio às obras do cinema, via Lei Rouanet. Juberlei Bacelo, presidente do SindBancários naquela gestão, conta que os estudos feitos para o projeto da sala mostravam que se produzia muito audiovisual no país, mas faltavam espaços de exibição, justamente por conta da tendência de fechamento dos cinemas de calçada. “A partir daí a gente entendeu que seria um projeto muito legal apostar nisso de ter uma janela para essa produção nacional”, afirma o dirigente.

 

Início das obras da sala de cinema. em 2008. Foto: Arquivo/SindBancários

Bia Barcellos, curadora da programação do cinema, foi quem projetou o espaço em 2008, e desde então assume o papel de escolher os filmes que entram em cartaz. Ela acredita que o diferencial do CineBancários é sua programação e o preço dos ingressos, que, nas quintas-feiras, têm o valor fixo em R$ 6 para qualquer pessoa. “É a única sala da cidade, talvez do estado, e uma das únicas do Brasil voltada para o cinema brasileiro e latino, e a gente trabalha também só com lançamentos”, explica. 

“E é o ingresso mais barato da cidade. É o nosso objetivo e nosso papel garantir o acesso de todo mundo. A gente atende grupos de escolas carentes, de indígenas, pessoas em situação de vulnerabilidade social e não cobra. Não adianta ter uma programação pensada se as pessoas não podem assistir”, completa.

 

Bia Barcellos é responsável pela programação do CineBancários desde 2008. Foto: Luiza Castro/Sul21

Bia lembra que no início do cinema, a programação contava com mostras temáticas e títulos internacionais. O perfil mudou em conjunto com a cena cultural da Capital, que passou a contar com mais locais, como a Cinemateca Capitólio, que também realizavam mostras e festivais. “A ideia é fazer com que as pessoas de Porto Alegre passem a conhecer o cinema que está sendo feito na Amazônia, no Nordeste, em todo o resto do Brasil. Isso é mais difícil no cinema comercial”, relata. 

É a partir desse objetivo que ela, semanalmente, monta a programação. Seu dia a dia é voltado a conhecer e pesquisar o que de novo é produzido no Brasil e que se encaixa no perfil da iniciativa. “Eu tenho que ficar lendo sobre as coisas que serão lançadas, fico em contato com as distribuidoras, quase sempre vejo antes, quando não dá para ver antes eu sei mais ou menos o que vai ter, leio muitas críticas, matérias antecipadas de mostras e festivais”, conta. 

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

Um dos últimos desafios enfrentados pelo projeto foi a pandemia, que forçou o fechamento da sala por quase três anos. Apesar disso, o espaço foi mantido e os profissionais envolvidos no funcionamento da estrutura tiveram seus empregos garantidos enquanto não reabria. 

“Essa pandemia foi um marco divisor para todas as salas de cinema, mesmo as de shopping. Eu acho que como o streaming explodiu, cresceu muitíssimo e se especializou muito, você tem televisões super tecnológicas em casa, um sofazão, onde toda a família vê junto, para quando quiser, e as pessoas se acostumaram mesmo com isso. Na sala de cinema é totalmente diferente, tu divide a experiência ali com outras pessoas, entra dentro da história. Isso não acontece com o celular tocando, quando vai ao banheiro, com as pessoas te chamando, isso não acontece na tua casa”, pondera Bia.

O CineBancários tem três sessões diárias, às 15h, 17h e 19h, com exceção das segundas-feiras, quando fecha. A programação pode ser conferida semanalmente nas redes sociais do cinema e aqui, no Sul21. A sala fica localizada no térreo do prédio do sindicato, na Rua Gen. Câmara, número 424, no Centro Histórico da Capital, e conta com 81 poltronas, além de projeção em DCP, bluray e 35mm com som Dolby Digital 5.1, não ficando atrás de salas comerciais de shoppings. 

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

Na última semana, o CineBancários foi inscrito na Lei Paulo Gustavo, no Programa de Apoio às Salas de Cinema, com investimento de R$ 1,325 milhão em até sete propostas que envolvam o apoio à manutenção das salas de cinema, além de projetos continuados de exibição cinematográfica, o que pode garantir a atualização dos equipamentos. 

 

Foto: Luiza Castro/Sul21

“Hoje a gente tem até reconhecimento e uma solidez fora de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul, fomos consolidando isso aos pouquinhos e é muito legal ver a interação das pessoas pelas redes, que acompanham e gostam, apesar de ser uma coisa super simples. São os 15 anos de uma sala, de um projeto cultural de um sindicato que não é uma Secretaria de Cultura que tem a obrigação de manter isso, não só para os bancários, mas para toda a comunidade”, finaliza Bia. 

 


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