Cultura
|
24 de setembro de 2023
|
09:25

Após 13 anos, Semana Municipal de Capoeira volta a acontecer em Porto Alegre

Por
Duda Romagna
[email protected]
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Suspensa desde 2010, a Semana Municipal de Capoeira de Porto Alegre voltará a ser realizada, em sua 10ª edição, em outubro, com o slogan “Políticas públicas para a capoeira: memória e reconstrução”. A programação contará com oficinas descentralizadas em diversas localidades da Capital, como Vila Dique, Vila Mapa, Cascata, Humaitá, Nonoai, Jardim Botânico, Passo Dorneles, Vila Nova e Sarandi.

O evento foi inicialmente idealizado pelo “Mestre Farol”, Paulo Costa, com apoio da jornalista Santa Irene Lopes que articulou sua implementação com a bancada do PCdoB na Câmara Municipal. Tradicionalmente realizado desde 2002, foi interrompido após nove edições por uma Lei Municipal que alterou o calendário oficial da cidade, rompendo com a tradição e silenciando a prática do esporte, que mistura dança e música, de origem afro-brasileira. 

Em um momento de busca pela retomada cultural da cidade, o movimento da capoeira buscou unir lideranças, explica a professora Maíra Lopes, ou “Janaína”, como é conhecida por seus alunos. “Os esforços começaram com a colocação dessa pauta de novo no universo da capoeiragem de Porto Alegre, trazendo à tona essa discussão no movimento, entre os agentes que fazem a capoeira no dia a dia da cidade”, relata. 

“Queríamos que se pautasse a importância da retomada desse movimento de forma a mostrar para o poder público que a capoeira de Porto Alegre ainda existe, é ativa e quer de volta essa política pública que foi nos tirada”, completa a professora. 

Para estabelecer o calendário novamente, o movimento procurou ajuda da vereadora Karen Santos (PSOL), que realizou, ainda em junho, uma audiência pública. “É um projeto de iniciativa popular, a partir de um abaixo assinado, que tem muito mais força do que qualquer projeto apresentado por qualquer vereador, porque parte da sociedade”, afirma a vereadora. 


Agora, por meio de uma Emenda Impositiva (recurso distribuído aos vereadores que eles devem direcionar para algo de interesse público), requisitada ainda em 2022, a parlamentar busca viabilizar a retomada. Foi estabelecido, ainda, um grupo de trabalho com diversas frentes do movimento para garantir a pluralidade e a democracia, explica Janaína.

Para a professora, a Emenda foi uma oportunidade necessária para dar força à comunidade. “Nós não tínhamos recursos, amparo legal, institucional, do poder público em forma de legislação”, diz. 

Para ela, a realização da 10ª Semana de Capoeira ainda neste ano é essencial para o estabelecimento de, mais uma vez, uma Lei Municipal que preveja a inserção no calendário oficial da Capital. “Esse é o primeiro passo para que, quem sabe daqui a pouco, a gente consiga novamente estabelecer isto no parlamento e lutar para que esse Projeto de Lei volte à discussão e seja aprovado. São desafios de execução burocrática”, pontua.

“A invisibilização das práticas culturais das práticas sociais e simbólicas da cultura negra na nossa cidade tem afetado o povo negro em várias esferas e na cultural é muito latente. Nós temos muitos agentes da capoeira fazedores de cultura que vivem disso, então, quando tu tira o acesso, tu tira a possibilidade dessas pessoas mostrarem o seu trabalho e assim chamarem novas pessoas e de tornar acessível essa cultura”, finaliza.

Santa Irene Lopes, hoje falecida, que ajudou na criação da 1ª Semana, será homenageada na 10ª edição do evento. Também receberão homenagens os mestres Kunta Kintê, Farol, Churrasco e Morena (in memoriam). 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora