Cultura
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4 de março de 2023
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09:10

‘O Carnaval saiu da UTI’: Escolas de samba voltam ao Porto Seco após conflitos com Marchezan

Por
Luciano Velleda
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Desfiles ocorrem nesta sábado (4) com perspectiva de grande público nas arquibancadas do Porto Seco. Foto: Luiza Castro/Sul21
Desfiles ocorrem nesta sábado (4) com perspectiva de grande público nas arquibancadas do Porto Seco. Foto: Luiza Castro/Sul21

O carnaval da Capital saiu da UTI. A metáfora é a forma encontrada por Kelly Ramos, presidente da União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre, para definir o novo momento do tradicional desfile que começou nesta sexta-feira (3), no Porto Seco, zona norte da cidade.

A entrada do carnaval na “UTI” refere-se ao conturbado governo do ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), quando os desfiles deixaram de ter o apoio da Prefeitura. Foram anos difíceis para as comunidades e entidades que organizam o carnaval da Capital. A situação mudou na gestão de Sebastião Melo (MDB), porém o momento da pandemia em 2021 impediu a retomada dos desfiles e, em 2022, as restrições vigentes também dificultaram a organização. Agora, com a crise sanitária em momento de menor gravidade, as escolas de samba voltaram a desfilar na avenida. Para viabilizar a retomada, a Prefeitura apoiou com R$ 140 mil cada escola do grupo ouro e com R$ 80 mil as agremiações do grupo prata.

Segundo a Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa (SMCEC), o orçamento total para os desfiles das escolas é da ordem de R$ 4,8 milhões. Os recursos são oriundos do Tesouro Municipal e de emendas impositivas, viabilizadas pelo Fumproarte. No total, a Prefeitura repassou R$ 2,286 milhões, incluindo as escolas da Capital, e mais R$ 506 mil para escolas de samba da região metropolitana.

Kelly explica que os valores de R$ 140 mil para as escola do grupo ouro e R$ 80 mil para as do grupo prata ainda não cobrem todo o custo necessário para colocar o desfile na avenida, mas ressalta ser um apoio muito importante após as dificuldades enfrentadas no governo Marchezan. Ela estima o custo do desfile das escolas do grupo ouro acima de R$ 300 mil, e do grupo prata pra além de R$ 200 mil.

 

Muito trabalho e ansiedade tomam conta dos barracões nos preparativos finais das escolas de samba. Foto: Luiza Castro/Sul21

Para a presidente da União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre, o governo Melo se mostrou parceiro da cultura e voltou a dar credibilidade ao carnaval, com investimentos diretos e incentivos às escolas, incluindo editais específicos para a grande festa. Apesar do apoio, as dificuldades enfrentadas durante a gestão de Marchezan somadas ao período da pandemia, deixaram marcas. Para 2023, reconquistar a energia e a disposição das comunidades foi um grande desafio. Nada que desanime uma turma acostumada a superar desafios em nome do amor pelo carnaval.

Na véspera dos desfiles, Kelly afirma que quem for ao Porto Seco, verá um grande espetáculo. “O público vai assistir um espetáculo lindo e grandioso. Vamos ter pista cheia e 30 ou 40 mil de público por noite. Vai ser lindo!”, diz, sem esconder a confiança e o entusiasmo.

Pista do Porto Seco deve receber público estimado entre 30 e 40 mil pessoas neste sábado: Foto: Luiza Castro/Sul21

A grande procura por ingressos para as duas noites de desfile atesta o envolvimento da população de Porto Alegre com o carnaval. Tantos os ingressos pagos quanto os dois lotes de 2.400 entradas para cada noite de desfile se esgotaram – os ingressos gratuitos em questão de horas, confirmando haver um público que consome carnaval na cidade.

A gratuidade das entradas para arquibancada foi estabelecida em acordo entre a Prefeitura e as Ligas Carnavalescas – a União das Escolas de Samba de Porto Alegre (Uespa) e a União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre (Uecgapa) – atendendo à decisão da gestão municipal, que busca retomar o protagonismo do evento e democratizar o acesso para assistir aos desfiles.

Presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre, Mauricio Nunes Santos pondera que os carnavalescos da Capital sempre souberam da grande procura em torno do carnaval. É assim desde os tempos em que os ingressos eram distribuídos no Ginásio Tesourinha, ele recorda.

Ainda assim, Santos destaca que o atual momento é muito importante, afinal, antes da pandemia o carnaval não era tratado como um evento oficial pelo antigo governo. “Isso nos tornou frágeis porque a participação do poder público, com garantia de investimento na cultura, é muito importante”, afirma.

 

Grande procura por ingressos comprovou o apoio das comunidades ao carnaval da capital gaúcha. Foto: Luiza Castro/Sul21

A mudança de postura do governo Melo permitiu aos carnavalescos se prepararem em melhores condições e estrutura do que no ano passado. Nas últimas semanas, a procura por fantasias nas quadras das escolas de samba também se intensificou. Tudo somado, a perspectiva para os desfiles é a melhor possível.

“Vamos ver alegorias e fantasias muito bonitas. É um momento de retomada do nosso carnaval com muita força”, afirma o presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre.

A transmissão dos desfiles pela TVE também é saudada. Nunes lembra que em 2022, o carnaval de Porto Alegre foi o pico de audiência da emissora no ano. Agora a transmissão ocorre novamente, em parceira com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Os desfiles das escolas de samba no Porto Seco tiveram transmissões ao vivo na sexta-feira (3) e terão novamente neste sábado (4) pelos canais do YouTube da Prefeitura de Porto Alegre ou Cubo Play, e também pelos canais abertos da TVE e TV Brasil (a partir da meia-noite). Neste sábado, os desfiles começam às 19h20.

Dias que antecederam aos desfiles foram de ajustes finais no Porto Seco. Foto: Luiza Castro/Sul21

Uma vez retomado o apoio do poder público ao carnaval da cidade, os carnavalescos já têm bem definido qual o próximo objetivo a ser perseguido: a construção da pista definitiva no Porto Seco.

“É um sonho de mais de 20 anos e que hoje está próximo de ser realizado”, acredita Santos. A confiança do presidente da União das Escolas de Samba de Porto Alegre deve-se ao fato da Câmara já ter aprovado a venda de terrenos da Prefeitura no Porto Seco, com o recurso a ser obtido destinado à construção da pista.

A condição geográfica do Porto Seco é enfatizada pelos carnavalescos como ímpar. Isso porque o espaço concentra a pista dos desfiles com os barracões das escolas de samba ao redor. Essa proximidade é considerada um ganho importante na logística de transporte das alegorias e montagem de todo o carnaval.

“É o palco definitivo dos nossos sonhos”, reconhece Santos, enaltecendo a forte relação que o carnaval da Capital tem com as comunidades da cidade.

A presidente da União das Entidades Carnavalescas de Todos os Grupos e Abrangentes de Porto Alegre vai na mesma linha. Ela inclusive adianta já haver reunião marcada para o dia 8 de abril para tratar do assunto. “Nossa luta hoje é a pista definitiva”, diz Kelly.

Antes, contudo, todos só pensam em desfilar na avenida neste sábado e mostrar que o carnaval de Porto Alegre não só saiu da UTI, como está bem e forte.

Barracão da escola Império da Zona Norte na véspera do início dos desfiles. Foto: Luiza Castro/Sul21
Desfiles deste sábado terão transmissão ao vivo pela TVE e YouTube da prefeitura. Foto: Luiza Castro/Sul21
Para 2024, luta dos carnavalescos será a pista definitiva no Porto Seco. Foto: Luiza Castro/Sul21

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