Cultura
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24 de setembro de 2021
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17:38

Contra o ‘comunismo’, vereadora do DEM propõe mudar nome do Memorial Prestes

Por
Luciano Velleda
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Memorial Luiz Carlos Prestes foi inaugurado em 2017. Foto: Guilherme Santos/Sul21
Memorial Luiz Carlos Prestes foi inaugurado em 2017. Foto: Guilherme Santos/Sul21

A possibilidade de mudar o nome do Memorial Luís Carlos Prestes deve ocupar os debates da Câmara de Porto Alegre nos próximos dias. Isso porque a proposta de revogar a homenagem ao famoso líder comunista, feita pela vereador Comandante Nádia (DEM), acabou empatada na Comissão de Urbanismo, Transporte e Habitação (Cuthab), devendo agora ir ao plenário da Casa.

Tendo como base um projeto de lei do ex-vereador Wambert Di Lorenzo, já rejeitado pela Câmara, a vereadora do DEM elaborou uma proposta de indicação à Prefeitura. Se tivesse sido aprovada na Cuthab, a indicação iria direto para a mesa do prefeito Sebastião Melo (MDB). Como houve empate, será votada em plenário.

Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre, no dia 3 de janeiro de 1898 e foi uma das personalidades políticas mais influentes do país durante o século 20.

Segundo Nádia, a proposta visa fazer uma “correção histórica”. Em sua justificativa, ela pondera que as homenagens devem exaltar o papel de líderes e cidadãos que “lutaram o bom combate na defesa intransigente de liberdade e da democracia” no Brasil. Para a vereadora, Prestes não se enquadra nesse perfil por ter sido um “revolucionário e líder comunista”.

“Ora, como pode um militante que agia em total oposição ao regime democrático vir a ser rememorado por este próprio regime?”, questiona Nádia, definindo a homenagem a Prestes como “nefasta”.

“Luis Carlos Prestes foi um traidor da pátria, que se aliou às forças da União Soviética, vindo a ser treinado pelo exército vermelho e pela KGB. Após, ao retornar ao Brasil, trouxe consigo uma espiã comunista para o território nacional, que militava para a URSS, e com ela entrou em conluio, traindo sua própria pátria”, afirma.

Pela proposta, o espaço cultural mudaria de nome para Memorial Cidade de Porto Alegre, com o objetivo de “promover e valorizar a história e a cultura” da Capital.

Membro da Comissão de Urbanismo, Transporte e Habitação (Cuthab), Roberto Robaina (PSOL) votou contra a proposta, acompanhado por Karen Santos (PSOL) e Cássia Carpes (PP), presidente da comissão. Votaram à favor Pablo Melo (MDB), Hamilton Sossmeier (PTB) e Gilson Padeiro (PSDB).

“Ela é uma reacionária, que fica na onda do bolsonarismo, tentando ganhar crédito”, afirma Robaina. Ele destaca que o Memorial foi construído especificamente para homenagear Prestes, com projeto arquitetônico desenvolvido com esta finalidade pelo célebre arquiteto Oscar Niemeyer, que jamais cogitou ter sua obra destinada para outro objetivo. Ele ainda lembra que a Capital já tem um museu sobre sua história.

Por outro lado, Robaina pondera que, há muito tempo, parlamentares de direita têm feitos homenagens a militares, torturadores e escravagistas, numa disputa pela imaginário da sociedade.

“Este mesmo setor espúrio da direita política de nossa cidade vem sequencialmente homenageando militares, torturadores, escravagistas que vem tomando o imaginário da cidade com suas reverências aos setores da sociedade que sempre exploraram e assassinaram a classe trabalhadora em Porto Alegre. Nomes de ruas, praças, largos, monumentos, a luta de classes também se dá no imaginário popular. Há que se defender a história dos que, como nós, ofereceram a vida para construir alternativas reais à sociedade capitalista e ao extermínio dos oprimidos”, afirma.

O vereador do PSOL lembra que, além de Porto Alegre, Prestes é homenageado em outras cidades através da arquitetura, como o memorial à Coluna Prestes, inaugurado em 1991, em Palmas, também com projeto de Oscar Niemeyer, e dá nome ao Parque Luís Carlos Prestes, em Rolinópolis (SP), além de ter sido retratado no cinema, na televisão, homenageado pelo poeta chilena Pablo Neruda e pela escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, no Carnaval de 1998.

A proposta pode ser votada na Câmara a qualquer momento e Robaina avalia que, se não houver pressão, tem chance de ser aprovada. Se isto ocorrer, a decisão final será do prefeito Melo.


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