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25 de maio de 2012
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08:59

Netto: “Quem diz que UFRGS não tem interação com a sociedade é porque não a conhece”

Por
Sul 21
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Netto (centro): Queremos consolidar presença da UFRGS nos rankings internacionais | Foto: Cadinho Andrade/UFRGS

Felipe Prestes

Atual reitor, em busca da reeleição, Carlos Alexandre Netto, está na UFRGS desde o final dos anos 1970 como aluno. Pela instituição, graduou-se em Medicina, em 1982, e fez mestrado e doutorado em Bioquímica, área na qual fez pós-doutorado na Universidade de Londres (1989-1991). É professor associado do Departamento de Bioquímica da UFRGS desde 1987. Foi diretor do Instituto de Ciências Básicas da Saúde, pró-reitor de Pesquisa e pró-reitor de Graduação, antes de se tornar reitor em 2008.

Na entrevista ao Sul21, ele afirma o desejo de consolidar a UFRGS nos rankings internacionais e defende que sua gestão é democrática, sendo aberta à participação de todos nos principais processos. Carlos Alexandre Netto também defende a manutenção das cotas, detalha as obras de infraestrutura que têm sido feitas e que devem ser feitas nos próximos anos. O reitor afirma também que o Governo Federal precisa mudar a política salarial e de carreira de técnico-administrativos e docentes. Além disto, afirma que a UFRGS tem mais de 600 convênios e acordos com instituições, mantendo assim forte relação com a sociedade.

Sul21 – Quais são, resumidamente, as prioridades da gestão para a próxima gestão?

Carlos Alexandre Netto – Temos como prioridade a excelência acadêmica e a inovação. É importante cada vez mais qualificar as atividades acadêmicas e colocar à disposição o potencial criativo da Universidade. Como segunda prioridade, a ampliação das interações com a sociedade. A terceira prioridade é consolidar a UFRGS como universidade de classe mundial. A UFRGS já aparece em vários rankings internacionais, mas queremos consolidar nossa presença pelo avanço do ensino e da pesquisa. Isto acaba tendo reflexo importante sobre nossa comunidade e produção de conhecimento. A quarta prioridade é qualificação da gestão acadêmica e institucional. A UFRGS é muito grande, muito complexa, e precisa ter processos de gestão atualizados e eficazes. Já estamos trabalhando nisto e queremos continuar. Vamos investir muito nos programas de apoio para professores recentemente contratados, na capacitação dos técnico-administrativos e continuar investindo fortemente em programas para os estudantes. Nossa sexta grande prioridade é qualificação da infraestrutura dos diversos campi universitários.

Sul21 – Sempre se discute a questão da divisão dos votos na eleição para reitor e nos conselhos universitários, e os estudantes e funcionários têm reclamado de falta de diálogo, de maneira geral. Como é que o senhor vê a divisão dos votos dentro das instâncias da UFRGS e que medidas o senhor pretende implementar em termos de diálogo, de democratização?

Carlos Alexandre Netto – Acho que existe certa confusão, porque se fala em democratizar a Universidade e o único questionamento é a eleição para reitor, que acontece apenas de quatro em quatro anos. Temos um modelo de gestão absolutamente democrático, em que todos os setores participam e todos os grandes processos da Universidade são abertos para discussão. Vou te dar um exemplo: nós construímos o primeiro Plano de Desenvolvimento Institucional da UFRGS de maneira absolutamente democrática: fizemos seminários, consultas públicas, reuniões por segmento. Nossa gestão é também aquela em que maior número de servidores técnico-administrativos assumiu cargos estratégicos. A questão da votação está baseada em uma lei que define a constituição dos conselhos universitários. Acho que esta proporcionalidade é ruim. Acho que deve mudar, mas que a paridade não é a melhor solução. Temos, por um lado, professores e servidores se dedicando a vida toda para a Universidade e, de outro lado, estudantes, que têm vivência intensa, mas de apenas alguns anos. Como reitor, levamos o descontentamento da comunidade da UFRGS ao MEC, mas esta questão tem que ser muito bem discutida. Para esta eleição, chamamos a Assufrgs e o DCE para haver uma proposta conciliadora, só que não houve nenhum tipo de proposta.

Sul21 – Vai haver no meio deste ano a revisão das cotas na UFRGS. Como o senhor se posiciona: manter, diminuir ou ampliar?

Carlos Alexandre Netto – Fico muito à vontade de responder, porque fomos a gestão que, de fato, implantou o sistema de cotas. O sistema foi votado em 2007, entrou em vigor para o vestibular de 2008. Nós assumimos em setembro de 2008 e fizemos, de fato, a implantação das cotas. Tanto eu quanto o professor Ruy e todo o nosso grupo de somos absolutamente favoráveis à política de ações afirmativas. Estamos, obviamente, esperando o trabalho da comissão que foi designada pelo Conselho Universitário para fazer avaliação do processo de ações afirmativas e uma proposta para os próximos anos. Entendemos que vai haver, sim, uma continuidade do programa de ações afirmativas, até porque cinco anos é um período muito pequeno para se avaliar este tipo de política.

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Foto: Dayane Souza/UnB Agência

Sul21 – Uma preocupação de servidores e docentes é que com a iminência de que a crise financeira chegue ao país o Governo Federal já tem feito cortes de gastos e não tem dado reajustes salariais, o que, inclusive, já causou greve em instituições de ensino federais. Como é que o senhor pretende atuar para tentar evitar perdas salariais na UFRGS?

Carlos Alexandre Netto – O MEC tem garantido orçamento crescente nos últimos anos para as universidades federais e não existe nenhuma evidência de que esta política de investimentos deva mudar. O que eu acho que está realmente complicado é a política salarial e de carreira, tanto para os docentes como para servidores técnico-administrativos. Como reitor, o papel é levar claramente junto ao MEC e à Associação dos Dirigentes de Institutos Federais de Ensino Superior (Andifes) a preocupação de que as carreiras não atendem às expectativas das duas categorias, como de que precisa haver um reajuste real para os salários. A Universidade vem contratando nestes últimos anos muitos servidores de nível superior. Em algumas categorias, como engenheiros e profissionais de TI, às vezes os novos contratados ficam três, quatro anos na Universidade, porque vão ganhar mais até mesmo em outros órgãos públicos. A carreira deve mudar.

Sul21 – O senhor já falou que tem a parte de infraestrutura, de construção e reforma de prédios, como prioridade. Foram feitas bastantes obras nos últimos anos, mas ainda há problemas como, por exemplo, o Instituto de Artes (IA), que são muito antigos. Queria que o senhor falasse sobre este ponto específico do IA e também de maneira geral o que se pretende fazer neste tema da infraestrutura.

Carlos Alexandre Netto – O IA recebeu enorme apoio nos últimos anos: fizemos reforma elétrica, reformamos alguns espaços, trocamos elevadores, compramos mais de dez pianos para o Departamento de Música. Há dez anos, estava em condições muito precárias. Houve um salto de qualidade muito grande, mas por ser um dos prédios mais antigos da Universidade, precisa sofrer reformas mais profundas. O IA vai sair dali dentro de alguns anos para ocupar o prédio da antiga Faculdade de Medicina, porque o Instituto de Ciências Básicas da Saúde terá um novo prédio no Campus da Saúde, obra que começará até o final deste ano. Acho que isto exemplifica bem o que tem sido feito na infraestrutura da UFRGS. Em quatro anos, construímos 60 mil m² entre obras e reformas, em praticamente todas as unidades acadêmicas. Temos um projeto de crescimento: várias obras em construção ou em fase final de licenciamento, e projetos — pelo menos mais 30, 40 mil m² para serem construídos. Na próxima gestão, vamos entregar um novo RU e uma nova casa do estudante Campus do Vale e reformar os RUs mais antigos. Vamos construir uma nova biblioteca no Vale – um prédio de dez andares que vai congregar praticamente todas as bibliotecas das unidades que lá estão — implementar o Campus do Litoral Norte e construir os prédios do Parque Científico e Tecnológico. Prevemos a construção de um centro de atividades multiculturais também no Campus do Vale, além de áreas de convivência e áreas de esporte.

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"Temos mais de 600 protocolos e convênios com diversas instâncias", diz Netto sobre interação com a sociedade | Foto: Flavio Dutra/UFRGS

Sul21 – O senhor também falou que uma das prioridades é maior interação com a sociedade. Muita gente diz que falta interação da UFRGS com a sociedade. O senhor concorda? O que pretende fazer neste sentido?

Carlos Alexandre Netto – Quem diz que a Universidade não tem interação com a sociedade é porque não a conhece. Temos mais de 600 protocolos e convênios com diversas instâncias. Não posso aceitar esta crítica. Trabalhamos com prefeituras, Governo do Estado, empresas públicas e privadas, ONGs. Temos, por exemplo, um programa em que o curso de Nutrição atende um número elevado de prefeituras no que tange à merenda escolar. Temos projetos que foram fundamentais para a implantação de telemedicina no Rio Grande do Sul. Várias das tecnologias utilizadas hoje pela Petrobras foram desenvolvidas nos laboratórios da UFRGS. E isto continua ocorrendo. É claro que precisa ampliar, sempre, incluindo também a área cultural. O Salão de Atos da UFRGS é o maior espaço público do RS, onde tem show gratuito pelo menos uma vez por mês. Temos, sim, interação muito forte e vamos continuar investindo nisto, através das atividades de inovação e da criação de uma política de acesso à cultura.

Sul21 – O senhor considera alto o índice de evasão da UFRGS? Se sim, o que pretende fazer no sentido de reduzi-la?

Carlos Alexandre Netto – A evasão é um problema em todas as universidades. Temos áreas em que o índice de evasão é praticamente nulo e outras, como algumas engenharias e licenciaturas, em que é muito alto, chega a cerca de 30%. Há duas grandes causas de evasão: não conseguir vencer academicamente as disciplinas, ou não conseguir se manter na Universidade por carências econômicas, tendo que abandoná-la para trabalhar. Temos há muitos anos o programa Pré-Cálculo, que ensina matemática para estudantes aprovados em cursos tecnológicos, que tiveram poucos acertos em Matemática no vestibular. O programa vem sendo ampliado. Temos reforço acadêmico em várias das disciplinas que mais reprovam e a cada ano aumentamos a oferta destes cursos. Temos também programas de reforço intensivo para alunos que rodam em uma disciplina. Estamos constantemente estudando o tema da evasão. Com relação aos auxílios, criamos na nossa gestão dez modalidades de auxílio-financeiro para estudantes em situação de vulnerabilidade. Temos programa de bolsas acadêmicas que é bastante extenso. Distribuímos 20 mil auxílios ou bolsas em 2011, sendo que a UFRGS tem 28 mil alunos na graduação. Nossa proposta é continuar avançando: consolidar os auxílios existentes e criar novas modalidades a partir das demandas dos estudantes.


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