Noticias|Últimas Notícias>Política
|
26 de novembro de 2010
|
21:37

Lideranças do PMDB gaúcho desistem de consenso e vão para o confronto contra Marco Alba

Por
Sul 21
[email protected]

Igor Natusch

Um encontro da executiva estadual, ocorrido na manhã desta sexta-feira (26), praticamente encerrou os esforços do PMDB gaúcho para a formação de um diretório de consenso. A leitura dentro da direção é de que as movimentações de Marco Alba, que já conta com o apoio de muitos prefeitos e vereadores no interior do RS, tomaram uma dimensão que inviabiliza a chapa única. A ação de Marco Alba já lhe garantiu um grande número de apoios, sensibilizando até a executiva da Associação de Prefeitos e Vices do PMDB gaúcho. A partir de agora, os nomes que antes buscavam uma solução coletiva devem redirecionar as forças para criar uma chapa que se oponha às pretensões de Alba.

Mauro Schaefer
Alexandre Postal | Foto: Mauro Schaefer

“Não há mais espaço para o consenso, na atual conjuntura interna do partido”, admite o deputado estadual Alexandre Postal. Segundo ele, a tendência é de pelo menos duas chapas – a capitaneada por Marco Alba, e outra formada por parte dos que tentavam articular uma candidatura única ao diretório estadual. “Alguns estavam se esforçando pelo consenso, mas o grupo do deputado Marco Alba achou por bem externar posição contrária. Então, vamos ter uma disputa de chapas”, diz Postal.

Divulgação
Márcio Biolchi | Foto: Divulgação

O presidente interino do PMDB, deputado Márcio Biolchi, afirma ter trabalhado para “não jogar fora uma boa chance” de construir uma convergência de ideias dentro do partido. Mas admite que, a partir de agora, a sucessão de Pedro Simon se transformou em uma “eleição normal”. “Fizemos uma busca de unidade, mas sem exigência de sucesso. Nunca foi nossa intenção coibir a formação de outras chapas. Tendo em vista as manifestações e movimentações do grupo ao qual o deputado Marco Alba pertence, a condição política para o consenso acaba se modificando. De qualquer modo, acredito que cumprimos com nossa tentativa (de buscar o consenso)”, comenta.

Segundo pessoas que participavam dos esforços pela chapa única, algumas informações divulgadas pela imprensa foram “plantadas” por apoiadores de Marco Alba, em um esforço para minar a tentativa de consenso. Entre elas, a possível indicação de José Fogaça para a presidência e a entrada de Alceu Moreira como 1º secretário, bem como a proposta de remunerar o futuro presidente em até R$ 15 mil mensais. A utilização de Fogaça, nome estigmatizado após a derrota nas eleições de outubro, reforçaria a associação da chapa de consenso com um discurso “velho”, reforçando o caráter de “novo” da articulação representada por Marco Alba.

O próprio José Fogaça, em conversa com o Sul21, negou a possibilidade de concorrer à presidência. “Essa possibilidade não existe, está totalmente descartada. Estou fora desse processo (de sucessão)”, insistiu o ex-prefeito de Porto Alegre.

“Muita firula”

Marcelo Bertani/Ag. AL
Alceu Moreira | Foto: Marcelo Bertani/Ag. AL

“O deputado Marco Alba está adotando o discurso que interessa a ele no momento, mas que não corresponde muito à realidade”, dispara o deputado Alceu Moreira, que a partir de 2011 troca a Assembleia pela Câmara Federal. Do mesmo modo que outros deputados peemedebistas ouvidos pelo Sul21, Moreira diz que a polarização entre cúpula e base é um equívoco. “Todos no partido estão insatisfeitos com a atual situação. Não existe isso de cúpula, somos todos da base nesse momento. Trata-se de um discurso populista, que convence algumas pessoas, mas que se baseia em um argumento mentiroso”, reclama.

Alexandre Postal mantém o tom das críticas. “Acho que está havendo muita firula, em nome de espaço na mídia”, ataca. Na opinião do deputado, o discurso adotado por Marco Alba tem o objetivo de “agradar” os prefeitos descontentes. “Quase todos nós (da executiva) temos raízes no interior. Eu mesmo sou de Guaporé, o presidente Márcio Biolchi é de Carazinho… Não estamos distantes das bases, como se quer dar a entender”, argumenta.

Márcio Biolchi, presidente interino do PMDB/RS, adota um discurso mais cauteloso. “A manifestação de apoio é algo que se aplica somente a chapas já existentes. Não é, necessariamente, um indicativo de discordância”, argumenta. Biolchi garante que o distanciamento entre a executiva estadual e as bases é preocupação geral, e não estava sendo ignorada pelo grupo que buscava a chapa única. “Não estávamos propondo uma executiva de cima para baixo, pelo contrário. A nossa proposta mais que dobrava o espaço de prefeitos e vereadores, em relação ao diretório atual. Seria uma participação como nunca se teve antes. Buscávamos o consenso justamente por haver esse ponto comum nos discursos de quem vinha conversar conosco”, assegura.

“No dia em que as pessoas que estão conosco (em busca do consenso) começarem a mobilizar os colegas do interior, a verdade vai começar a surgir”, garante o deputado Alceu Moreira. Ele acredita que o aprofundamento dos contatos no interior do estado mostrará aos municípios que o discurso de Marco Alba não é isolado dentro da sigla. “Representantes de todas as instâncias partidárias estão conosco. Vamos começar a entrar em campo agora, e mostrar que a chapa do deputado Alba não é basista, do mesmo modo que a nossa não é de cúpula”.

Nova data

Ivan de Andrade/Palácio Piratini
Osmar Terra | Foto: Ivan de Andrade/Palácio Piratini

As incertezas dentro do PMDB gaúcho já motivam até discussões sobre a data prevista para a convenção que votará o novo diretório estadual. Marcada originalmente para o dia 16 de dezembro, uma quinta-feira, a reunião pode ser adiada em alguns dias, ficando para o dia 18 ou 19. Segundo o deputado federal Osmar Terra, é uma ideia que está sendo considerada para permitir a participação do maior número possível de correligionários. “Achamos que seria ideal fazer o encontro em um final de semana. Não há qualquer tipo de definição, é apenas uma proposta, mas estamos cogitando, sim, uma mudança de data”, admite Osmar Terra.

Mesmo admitindo que a constituição de uma chapa única está “muito difícil”, Osmar Terra não se dá por vencido. “Vamos esgotar todas as possibilidades, em busca de uma solução consensual. O tempo é curto, mas acho que devemos continuar tentando achar uma proposta política que represente os interesses de todos”. Alceu Moreira concorda. “Não dá para querer reorganizar o partido de forma confrontadora, juntando pedaços”, afirma, assegurando que a direção buscou mais de uma vez ter a presença de Marco Alba nas reuniões, sem sucesso. “Temos divergências, mas acho que esse movimento pode ser bom para todos”, comenta.

Segundo Márcio Biolchi, a postura da direção, daqui para frente, levará em conta a formação democrática de chapas para a sucessão. “A executiva vai agir como executiva. Não vamos dar preferência a nenhum dos lados”, garante. O atual presidente diz que alguns membros vão se aglutinar naturalmente na composição de chapas, mas que a função da executiva será de mediação, sem tentar direcionar o processo. “Tenho certeza que o debate dentro do partido se dará com naturalidade. Não precisamos nos preocupar com divergências. Trata-se apenas de uma nova etapa de discussão. Apenas espero que isso colabore para uma verdadeira retomada da vida partidária, compreendendo todas as suas instâncias, sem personalismos”.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora