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7 de agosto de 2017
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10:00

Tropa de cheque

Por
Sul 21
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Tropa de cheque
Tropa de cheque

Montserrat Martins

O trocadilho é do José Simão, todo governo tem “tropa de choque” no Congresso, mas com Temer ficou explícita a “tropa de cheque”. Um desses deputados disse para outro, segundo o noticiário, que “até a eleição o povo esquece”. E olha que falta só um ano para as eleições de 2018.

O Presidente aumentou impostos sobre combustíveis para gerar receita comparável aos bilhões que liberou em emendas para os parlamentares, às vésperas do seu julgamento no Congresso. Sendo quase explícita a correlação entre os dois fatos, significa que ele não se importa com a opinião de mais de 200 milhões de pessoas, só com os 500 e poucos congressistas.

Com tanta roubalheira, ainda existe indignação ou as pessoas já se acostumaram a pensar que “é assim mesmo”? Na guerra ideológica nas redes sociais, “direita” e “esquerda” disputam quem rouba mais. Uma guerra burra porque o roubo não tem ideologia, assim como o caráter também não tem a ver com posição política.

Há pessoas honestas, como há desonestas, em todos os partidos. Nos bastidores da política gaúcha, alguns líderes são reconhecidos por sua lisura, como por exemplo Pedro Simon do PMDB, Olívio Dutra do PT, Vieira da Cunha do PDT, Pedro Ruas do Psol, para citar alguns de legendas tradicionais. Se é possível ter uma história política honrada, porque os desonrados estão em franca maioria?

“Até lá o povo esquece” é uma explicação. Achar que “todo mundo é igual” é outra, pois a maioria não tem acesso à vida pessoal e aos bastidores da política, para saber quem é sério e quem não é. Nos últimos anos aumentou muito o interesse pela política, mas ainda não se igualou à paixão pelo futebol. Os times que fracassam nos campeonatos sofrem pressões muito piores, ainda, do que a dos políticos.

“O respeito vem do medo”, diz um antigo ditado popular. Um jogador do Corinthians que decepcionasse sua torcida teria sérios problemas para sair em público, nos times com torcida mais apaixonada os jogadores tem medo de sofrer represálias se decepcionarem o povo. Comparados a eles, os políticos ainda tem vida frouxa, com algumas possíveis exceções.

“Não dá nada”, frase típica de adolescentes infratores, ainda é o raciocínio da maioria da classe política. Já houve ameaças até contra a vida de jogadores de futebol, treinadores e dirigentes, mas não se sabe de políticos que corressem risco por conta da indignação de populares. A gasolina subiu quase 50 centavos por litro e não fizemos nada. Ouvimos no noticiário sobre a mala com 500 mil reais por semana para o Presidente e não fizemos nada. Ah se o time de futebol perde, vai ter pressão na saída do estádio, confusão. O respeito vem do medo, mas eles não tem medo.

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Montserrat Martins é médico e bacharel em ciências jurídicas e sociais.


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