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26 de agosto de 2017
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10:30

PMDB: bem mais do que mudar a sigla

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PMDB: bem mais do que mudar a sigla
PMDB: bem mais do que mudar a sigla

Germano Rigotto

Desde que o povo foi espontaneamente às ruas, em 2013, os partidos entraram em uma profunda crise existencial – e permanecem até hoje no divã. Mas, na verdade, a perda de significado das agremiações brasileiras não começava naquele momento, senão que apenas ficava ainda mais explícita. Os partidos já vinham, gradativamente, diluindo sua capacidade de inserção social e de liderança.

Em nome de projetos fisiologistas de poder, abriram mão de formar líderes e de sustentar suas trajetórias em bandeiras e ideais claros. O PT foi uma das últimas grandes legendas a entrar nesse processo de descrença e ocaso da identidade. Tentou relativizar a corrupção em nome de uma causa, o que foi severamente rejeitado pela população. Segue até hoje sem fazer qualquer autocrítica, tentando reaglutinar forças ao falar apenas para os seus.

Antes disso, o PMDB já havia caminhado para essa banalização. Um dos maiores partidos da América Latina, com papel relevante na redemocratização do país, consistente e protagonista em muitos momentos históricos. Exerceu significativo papel de mediação e de promoção da abertura. Nasceu e se firmou por meio do diálogo e do debate permanente. Uma legenda de homens como Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neves e Pedro Simon.

Ao passar dos anos, contudo, o partido foi se acastelando nos tapetes do poder, também em nome de cargos, espaços e estruturas. O discurso, que mesmo aberto sempre foi posicionado, deu lugar a uma verdadeira metamorfose ambulante – no pior sentido da expressão. Dominada por uma cúpula que oprimiu o pensamento da base, a legenda foi virando adjacente de governos e suas circunstâncias, sem um programa e um projeto de poder. Teve vitórias estaduais e depois chegou à vice-presidente da República com Michel Temer, mas não conseguiu reascender o caldo político-cultural que carregava consigo.

Agora, eis que surge a ideia de tirar a primeira letra da sigla, o “p” de partido, trazendo de volta o antigo nome: MDB – Movimento Democrático Brasileiro. O mesmo movimento está sendo conduzido por outras legendas, todas com o objetivo de minimizar o desgaste e reencontrar o significado das instituições partidárias. Mais do que algo de essência, orgânico, é uma espécie de jogada de marketing para reencontrar algum abrigo junto à população.

Nada tenho contra o retorno do antigo nome. Pelo contrário, nutro por ele uma saudosa simpatia. Só tive um único partido em toda minha vida pública. Foi pelo velho MDB que iniciei minha trajetória como vereador de Caxias do Sul. De lá para frente, cheguei a deputado estadual, federal e a governador do Rio Grande do Sul pela mesma legenda, procurando respeitar o legado de um partido democrático por essência, com forte viés social, mas sempre aberto para o novo.

Avancei a ponto de aceitar a convocação dos diretórios do RS, SC, PR e PE para concorrer à Presidência da República. Isso foi em 2006, quando estava entrando na fase final de meu mandato de governador. Percorri o país inteiro em contato direto com as bases, propondo que o PMDB recuperasse seu protagonismo. Disputei uma prévia com Anthony Garotinho, fiz quase o triplo de votos dele. Mas a cúpula não queria candidatura própria, pois já havia negociado a legenda. Aquele movimento, a propósito, prejudicou enormemente minha candidatura à reeleição no Estado.

Então, o que quero dizer com todo esse raciocínio, que faço com conhecimento de causa sobre o partido ao qual pertenço, é que de nada adiantará uma troca de nome sem uma verdadeira reconexão com a população. Mas isso só será possível com duas condições: (1) apresentar um ideário e um projeto consistente para o país e (2) adotar posturas mais retas, coerentes e até mesmo decentes em sua caminhada. Será preciso haver mais rigor na seleção de quadros e mais efetividade na depuração interna. E muito menos fisiologismo em troca de cargos e espaços.

É possível voltar à essência por meio de uma comunicação moderna e atualizada. O PMDB, ou que seja o MDB, tem legitimidade para isso. Virtudes históricas não lhe faltam, muito menos inspiração. Mas a missão exige bem mais do que apenas mudar de nome. É preciso mudar de atitude.

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Germano Rigotto é ex-governador do Rio Grande do Sul, presidente do Instituto Reformar de Estudos Políticos e Tributários e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (www.germanorigotto.com.br)


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