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26 de fevereiro de 2020
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16:53

Marchezan x Manuela. E o Melo?

Por
Sul 21
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Marchezan x Manuela. E o Melo?
Marchezan x Manuela. E o Melo?
Prefeitura de Porto Alegre.  Foto: Luiza Castro/Sul21

Antonio Escosteguy Castro (*) 

Passou o carnaval. E temos o dito popular: agora inicia o ano. E é ano eleitoral, ano de eleições municipais , se a República durar até outubro… Em Porto Alegre se dará um dos embates mais acirrados do país, atraindo atenções de todo o Brasil e neste início de ano seus principais personagens tem se movimentado intensamente.

Marchezan. O Prefeito aproveitou bem o verão. Manteve-se nas manchetes políticas com uma reforma do IPTU e com uma proposta de reforma no transporte coletivo que mobilizou intensos debates. Investiu milhões em propaganda, aprofundando seu apoio na grande imprensa local e , enquanto namorava os eleitores de centro com seus “ arroubos socialistas”, consolidou-se como candidato do bolsonarismo. A selvagem repressão do carnaval de rua na Cidade Baixa foi sua assinatura final no pacto com a direita da cidade. Está firme no páreo.

Manuela. A mais forte candidata da oposição viu suas fileiras se debaterem em crise durante quase todo este verão. Setores do PT,  ávidos por assegurar seu controle sobre o jogo político, anteciparam o debate acerca do vice-prefeito, com terríveis efeitos sobre a mobilização de uma ampla frente que consiga devolver a esquerda ao paço municipal. Enquanto Marchezan falava para a sociedade, a esquerda passou dias e dias envolvida numa luta interna absolutamente inútil e extemporânea. Para que definir o vice-prefeito em janeiro? Por fim, o PT retomou o bom senso, formalizou seu apoio a Manuela e adiou o debate sobre o vice. Agora, todo o esforço deve ser em consolidar a imagem da candidata e desenvolver um programa para a cidade que encante o eleitorado. Não se polariza uma eleição sem propostas claras e simples.

Melo. O ex-vice-prefeito de Fortunati é um candidato natural nas eleições deste ano, mas enfrenta dificuldades em seu próprio partido. Dedicou-se o verão a inúmeros movimentos para embalar sua candidatura pelo MDB. Obteve um apoio de seus colegas de bancada na Assembleia, incentivou uma Frente Parlamentar Contra os Privilégios , para se aproximar dos pequenos partidos e isolar a esquerda e por fim procurou Gustavo Paim, o escanteado vice-prefeito de Marchezan, para propor uma frente de centro entre MDB e PP. Melo se coloca como o catalisador desta “ frente de centro-direita” e busca atrair além do PP , o Dem, Cidadania, Solidariedade e outros partidos menores.

Mas todos estes movimentos ainda foram mais de Sebastião Melo do que do MDB. Após os episódios da Reforma Previdenciária estadual, Eduardo Leite e o MDB estão procurando o entendimento. Fernando Henrique, em mais uma de suas entrevistas à Folha de São Paulo, rifou Luciano Huck e sinalizou uma possível candidatura nacional para o governador gaúcho em 2022. O MDB regional não vai querer perder este trem e uma candidatura própria contra o prefeito do PSDB na capital atrapalha, nem que seja seus planos de aumentar a presença no governo Leite. Ademais, o MDB gaúcho sempre foi um dócil instrumento dos setores empresariais que o grupo RBS representa e não se vê estes setores apoiando o (para eles) inconfiável Sebastiao Melo. Muitas pedras ainda estão no caminho de Melo e da frente de centro-direita.

A disputa da prefeitura da capital do Rio Grande do Sul neste momento ainda se encaminha para uma polarização entre Marchezan e Manuela. Melo luta para conseguir a legenda de seu partido (fora dele perde peso) e formar uma alternativa. O MDB ainda não se jogou de fato neste movimento e o PP, por exemplo, reluta em aderir. Sem a adesão de um grande sócio, o MDB não cogitará da candidatura .

Passado o carnaval, portanto, o cenário ainda está muito aberto e instável. Março será um mês decisivo.

(*) Antonio Escosteguy Castro é advogado.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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