Francisco Marshall (*)
Carta digital aberta ao Exmo. Sr. General de Divisão Riyuzo Ikeda, M.D. Comandante da 3ª Região Militar do Exército Brasileiro e ao Exmo. Sr. Cel. QOEM Mário Yukio Ikeda, M.D. Comandante Geral da Brigada Militar do RS.
Senhores Comandantes,
Confiando em sua dignidade e alto espírito cívico, envio-lhes esta mensagem pública.
Por que os Srs. enviaram força militar, incluindo PE e tropa de choque, em 07/09/2019, dia da pátria, para o local em que cidadãos brasileiros foram celebrar a data nacional e exercer seu civismo patriótico? O Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, em Porto Alegre, é ponto de encontro desta cidade, e para lá dirigiram-se docentes, estudantes e concidadãos que defendem educação, ciência e cultura. Que defendem esse país, seu passado e seu futuro.
O que justifica essa presença? É para intimidar professores e estudantes? O que temem? Que recitemos poesias? Que alguém dê uma aula ou realize algum espetáculo? Que uma jovem defenda a educação?
Nem vamos aventar como justificativa para a presença de suas tropas a defesa do patrimônio. Seria demasiado insólito. Antes, professores e professoras poderiam explicar aos Srs. e aos oficiais e tropas a história e o significado deste monumento moderno, bela obra do escultor pelotense Antônio Caringi. Somos nós quem defende o patrimônio. Especialmente o patrimônio nacional, que é hoje dilapidado catastroficamente. Podemos igualmente conversar sobre o que é pátria, civismo e legalidade, e como defende-las.
O que parece é que as tropas não estavam ali para defender ou proteger, mas para intimidar. Intimidar, todavia, não é função das forças do Estado, salvo quando são subvertidas por desígnios equivocados. Os recursos do Estado são para o bem comum, e não para ameaçar cidadãos dignos. Seria correto, Srs. Comandantes, mobilizar tropas para tentar intimidar cidadãos em pleno gozo de seus direitos?
Se realmente as tropas, incluindo-se a tropa de choque, compareceram com objetivo de intimidar, isto é vergonhoso. Fere o decoro, a legitimidade e o bom senso. Fere a Democracia.
As imagens da logística e da presença das tropas em torno do monumento, ademais, evidenciam cena impropriamente agressiva. Parecem cena de filme em alguma republiqueta submetida a golpe e ditadura. Mas nós vivemos em uma Democracia, e a defendemos sempre. Esta cena é completamente imprópria, desnecessária, inconveniente.
Srs. Comandantes. Todos esperam da Brigada Militar e do Exército, e dos Senhores, sempre, a mais alta dignidade e o pleno e puro cumprimento da lei. Esperamos que a BM e o Exército estejam sempre à altura das mais elevadas expectativas, com legalidade, honra e espírito público.
Atenciosamente,
Francisco Marshall, professor
(*) Essa carta digital foi publicada originalmente na página do autor do Facebook, recebendo várias adesões (ver neste endereço).
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