Luís Eduardo Gomes
Após consulta à população, a Prefeitura de Canoas decidiu não retomar as aulas presenciais na rede de ensino do município, mesmo com a autorização do governo do Estado para o retorno de todos os níveis de educação desde quarta-feira (28). A consulta realizada entre quarta e quinta-feira (29) apontou que a maioria expressiva da população da cidade é contra o retorno antes que ocorra a vacinação dos profissionais de educação.
Do total de participantes, 75,27% opinaram que as aulas na rede municipal de ensino deveriam ser retomadas apenas após a vacinação dos professores, com 24,73% defendendo que deveriam ocorrer antes. Levando em conta apenas os respondentes que são pais ou responsáveis de crianças em idade escolar, 71,16% defenderam que a retomada não deveria ocorrer neste momento e 28,48% que deveria ocorrer.
Em entrevista ao Sul21, o prefeito Jairo Jorge (PSD) saudou como “extremamente positiva” a participação da população canoense, que resultou em 14.005 respostas válidas — outras 2.738 descartadas por problemas de dados. “Se tu pegar esse corte, de pais ou familiares que têm crianças na escola, o resultado foi parecido. Setenta e um por cento entendem que deve voltar somente quando tiver a vacinação. É um resultado expressivo e não tem muita diferença [para o resultado geral]. Tu vê que é uma posição majoritária na sociedade”, disse o prefeito de Canoas, cidade com população estimada em 348 mil pessoas.
Jairo disse que a Prefeitura irá agora trabalhar “fortemente” para acelerar a vacinação. Nesta quinta, ele participou de uma reunião de uma associação de prefeitos com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, sobre a possibilidade de importação de três vacinas produzidas no país asiático. A tentativa dos prefeitos é encontrar uma alternativa à vacina Sputnik V, que estava encaminhada para ter milhões de doses compradas por consórcios de estados e municípios, mas foi barrada pela Anvisa na segunda-feira (26).
A intenção dos prefeitos é garantir ao menos uma quantidade de doses suficientes para vacinar os trabalhadores das redes municipais de educação. “Durante a vacinação dos idosos, foi feita uma grande mobilização para vacinar os profissionais de segurança, eu mesmo defendi. Só que eu defendi profissionais e os professores. Mas nós não vacinamos os professores. Não é prioridade? Tem que ser”, disse.
No momento, o governo do Estado aguarda um posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito de uma ação que reivindica a antecipação dos profissionais de educação na ordem dos grupos prioritários para receber a vacina.
Enquanto a vacinação não ocorre, o prefeito de Canoas diz que irá preparar as escolas. Até a semana que vem, o governo municipal pretende concluir a entrega de novos uniformes para todos os estudantes. Ao longo do mês de maio, irá realizar uma avaliação para compreender qual é o nível de aprendizagem atual dos alunos da rede.
Além disso, irá mobilizar 5 mil beneficiários do auxílio emergencial canoense que estão prestando serviços para a Prefeitura durante 4 horas por mês para ajudar na organização das escolas. “Esse grupo irá trabalhar na organização da limpeza, na limpeza dos pátios, na manutenção das escolas. Nós vamos fazer uma força-tarefa para, nos próximos 30, 40 dias, organizarmos as escolas”, diz Jairo Jorge.
Outra cidade que decidiu manter as aulas suspensas na rede municipal foi São Leopoldo. Após o anúncio da permissão para a retomada das aulas pelo governo do Estado, na terça-feira, o prefeito Ary Vanazzi (PT) divulgou um vídeo em que afirmou que o município irá aguardar e observar as mudanças que ocorrerão na rede de saúde. “Nós continuamos muito preocupados ainda, porque nós temos 90% das UTIs ocupadas e 75% dos leitos clínicos”, disse.
Vanazzi destacou também que a Prefeitura irá fiscalizar o cumprimento de protocolos sanitários na retomada das aulas na rede privada do município. “Esperamos que isso não traga maior problema para a nossa cidade, que teve uma postura firme de cuidar da vida da nossa população”, disse.
Nesta quinta-feira, as escolas municipais de São Leopoldo retomaram a entrega de atividades impressas para os alunos, o que estava suspenso desde que o Estado entrou em bandeira preta no mês de fevereiro.
De acordo com a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), as prefeituras várias cidades da região ainda não autorizaram o retorno das aulas presenciais. Porto Alegre e Cachoeirinha liberaram a retomada das aulas no Ensino Infantil e nos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental em suas redes municipais nesta quinta.
Em Viamão, a previsão é de que as aulas presenciais sejam retomadas no dia 5 de maio, de forma escalonada. Em Gravataí, as atividades presenciais da educação infantil e dos primeiros anos do Ensino Fundamental estão previstas para começar no dia 4 de maio. Em Novo Hamburgo, as aulas da rede municipal permanecem remotas no momento, mas a Prefeitura local está preparando a adoção de um sistema híbrido.
Eldorado do Sul, Glorinha, Arroio dos Ratos, Nova Santa Rita e Santo Antônio da Patrulha ainda não tinham data definida para o retorno das aulas até o final da tarde desta quinta, segundo a Granpal.